31 de mai. de 2016 | By: @igorpensar

Cultura do Estupro?

O termo "rape culture" (cultura do estupro) foi criado durante a segunda onda feminista nos EUA nos anos 70. O termo tem valor para a militância feminista e tem um sentido muito específico dentro de certas tendências políticas. A expressão se refere a noção de que todo indivíduo quando estupra, o faz condicionado por determinado contexto cultural ou simbólico. Geralmente, "cultura do estupro" cola-se a noções como misoginia, patriarcalismo, objetificação da mulher, machismo, pornografia e símiles. 

O problema com o termo é que ele enfraquece a responsabilização moral do criminoso, transferindo sua culpa pessoal a fatores de ordem "simbólica" ou "cultural". A despersonalização moral alavancada por um evento "abstraído ideologicamente" (o estupro) dá força discursiva à militância em questão. Força discursiva assume força política, logo justificará intervenções e pacotes de "reforma cultural". Mas, espere aí! E, a vítima? E, o estuprador? Percebeu a cortina de fumaça?

O violentador e o violentado não são tratados em uma relação real em que há violência e violação da dignidade humana. O discurso não é contra o estupro, mas dirigido a um "fenômeno" artificialmente contextualizado, amoral e despersonalizado, retroalimentado pela comoção pública, e finalmente instrumentalizado para fins políticos. A vítima, neste caso, está sendo usada duas vezes: sexual e ideologicamente. O propósito final por trás do meme "cultura do estupro" não é a proteção da vítima, mas o triunfo de uma agenda.
Ironicamente, a maior organização americana contra violência sexual e que advoga por vítimas deste tipo de violação, a RAINN (Rape, Abuse & Incest National Network), aclamada e referendada pela militância feminista, alerta: "Nos últimos anos, tem havido uma infeliz tendência em acusar a 'cultura do estupro' pelo extensivo problema de violência sexual ... Enquanto é útil destacar as barreiras sistemáticas dirigidas ao problema, é importante não perder a noção de um fato simples: estupro é causado não por fatores culturais mas por decisões conscientes, de uma pequena porcentagem da comunidade, em cometer um crime violento."[1]

Não tenho dúvidas de que há diversos fatores envolvidos no comportamento sexual de um estuprador, inclusive aqueles que não são meramente "culturais". O documento da organização RAINN endereçado à Casa Branca em 2014 assevera que a tendência de focar na "cultura do estupro" tem o efeito paradoxal de 'remover o foco da culpa individual, e acaba enfraquecendo a responsabilidade pessoal por suas próprias ações'. Então, que o estuprador seja punido como criminoso e a vítima tratada como tal. E, que ambos não sejam abstraídos ou recortados e colados em contextos discursivos artificiais. Esta é a melhor a mais eficiente coisa a ser feita a perpetradores e vítimas.

  Uma última consideração... Se, o que está na raiz do estupro é objetificação da mulher, como se alega, então que a militância feminista seja a primeira a não usar uma linguagem de "territorialização" ou "cercamento" do corpo, tratando-o como "propriedade privada". Pois é exatamente isto que está por trás de frases de efeito do tipo: "Meu corpo minhas regras." Mulheres não são seres desencarnados ou dicotomizados entre o "eu" e o "corpo", entre "sujeito" e "objeto", elas são inteiras, foi assim que uma mulher, minha mãe, me ensinou sobre as mulheres. Então, que tenhamos mais mães como a dona Matilde e menos experimentos políticos.
20 de mai. de 2016 | By: @igorpensar

Heróis: há vagas?

Nossa cultura inventou a noção de que todo mundo tem que ser muito bom, gênio e bem sucedido de acordo com os critérios de sucesso das novelas, dos filmes e dos livros. Ser bem sucedido pode ser, no fim, pura performance estética, sem qualquer consistência metafísica.

O problema é que não há tantas vagas para gênios, heróis ou bem sucedidos segundo tais critérios, apesar de nossa loucura desenfreada rumo a esta direção. Além do mais, o critério para ocupar tais vagas é muito questionável. Conversa pra depois.

A questão é que se adotarmos os padrões de "inserção social" de nossa sociedade atual, certamente, não suportaremos o fardo da existência, como demonstram nossas patologias comportamentais modernas. De fato, a grande e esmagadora maioria das pessoas deste planeta será composta de gente comum, mediana, sem muitas "habilidades técnicas" admiráveis. E, há uma enorme chance de você, caro leitor, simplesmente passar por esta vida como um "pessoa comum" de acordo com os critérios de sucesso de nossa cultura.

Então, não se sinta burro, de menor valia ou indigno, como já disse, os critérios aí impostos são muito questionáveis. O anonimato e a discrição podem ser de valor inestimável. Sendo assim, descubra uma forma de tornar sua vida ordinária mais significativa, claro, isto exigirá certa dose de sensibilidade e espiritualidade. Exige descobrir a arte da gratidão, generosidade, modéstia, compaixão, hospitalidade e tantas outras riquezas, que nossa sociedade do controle técnico e do acúmulo de bens jamais mencionará.

A vida precisa ser redescoberta a partir de uma singeleza básica: trabalhar, casar, amar o cônjuge, ter filhos, educá-los, ir à igreja todo domingo, praticar um esporte, ouvir boa música, ajudar o próximo, fazer algum trabalho voluntário e sempre ler um bom livro. Esta rotina (palavra que os moderninhos odeiam), repetição e ritos ordinários, são cheios de beleza. Mas, nossa cultura perdeu a capacidade de ver para além da tirania da inovação e da autenticidade. A repetição pode ser simplesmente uma reprise de algo muito bom e a inovação pode ser pura tolice com cara de autenticidade.

Cansou? Aprenda a tornar cada gesto ordinário em um evento extraordinário. Abrace a narrativa evangélica: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei." (Jesus).
18 de mai. de 2016 | By: @igorpensar

Neocalvinismo e Apartheid

Texto de Rodolfo Amorim (L'Abri)
 
Vez ou outra surge uma pergunta sobre a relação entre neocalvinismo e o regime do Apartheid na África do Sul. E algumas pessoas aqui e ali tentam denunciar uma relação causal direta entre os dois, ou pelo menos sugerindo uma relação forte entre estes.Sugiro discutirmos algo deste ponto por aqui, sendo de extrema relevância para a incorporação desta tradição em nosso país, envolvendo todos os interessados e aderentes. Creio que é uma responsabilidade nossa entender melhor esta questão.Sugiro ao fim uma importante leitura sobre o tema. É uma tese sobre a relação entre Teologia Reformada e Apartheid. Há um capítulo específico sobre a filosofia reformacional.De minhas leituras sobre este importante tema, tenho algumas considerações, ainda não conclusivas. Gostaria que os interessados comentassem a respeito, concordando ou discordando, e contribuindo com novas informações:
 
1) O nacionalismo Bôer e Afrikânder e a ideia de uma nação eleita por Deus, derivando do Antigo Testamento a noção de pacto com um povo específico, precede em séculos o surgimento da filosofia reformacional holandesa, refletindo em sua origem um ethos holandês específico, baseado nas crônicas do estabelecimento da própria Holanda como país independente (o próprio hino nacional reflete esta ideia de nação fundada no pacto com Deus). Ou seja, uma teologia baseada nas promessas e pactos específicos de Deus para Israel enquanto nação foi re-inserida na narrativa Bôer da África do Sul desde o século XVII.
 
2) A identidade Bôer foi modificada quando da violenta chegada e domínio dos ingleses no século XVIII, gerando nestes uma identidade ainda mais coesa de nação (trekers), alimentando um forte revanchismo contra as forças externas que desejassem lhes tirar da terra, dividindo a própria Igreja Reformada GK na mais nacionalista NGK. Esta revanche foi finalmente 'conquistada' com a chegada ao poder do Partido Nacionalista em 1948, a gradual retirada dos ingleses, e a implementação do apartheid.
 
 3) Abraham Kuyper não reflete em sua obra escrita e/ou como líder holandês as ênfases do pensamento racista da virada do século XIX para o XX sendo, pelo contrário, uma exceção em tempos de profundo pensamento racista na Europa de então. Sua introdução à obra Calvinismo atesta disso, louvando a presença de várias raças, nações e miscigenação no contexto dos EUA como um ponto forte daquele país, refletindo a riqueza de diversidade do próprio Criador. Em relação à causa Bôer, Kuyper percebe que pelo distanciamento dos holandeses africanos de sua proposta teológica e política não haveria como uma representação fiel de seu projeto se manifestasse na África do Sul. Quando primeiro ministro promoveu uma resolução ética que chamava os holandeses Bôers a servir as comunidades mais vulneráveis com as bençãos que porventura viessem a desfrutar, opondo-se a propostas colonialistas e de exploração. Em relação à denominação reformada livre que conduzia, defendeu a presença de uma congregação multirracial nos domínios africanos, expressando a igualdade fundamental entre os homens, princípio teológico claro a ele.
 
4) A chegada ao poder do Partido Nacionalista Afrikânder e sua liderança em Daniel François Malan, em 1948, não têm qualquer relação direta ou indireta com o movimento inaugurado por Kuyper, na Holanda. A tradição romântica de Fiche e Herder, inspiradoras do nacionalismo europeu pré 2ª Guerra, era o principal veículo de articulação das pretensões Afrikânder e de Malan, sobretudo na afirmação do conceito romântico de exaltação do "volk" . Este conhecia o projeto de Kuyper e reinterpretou alguns de seus insights, principalmente o conceito de "verzuiling", ou pilarização, que enquanto em Kuyper tinha base em distinção ideologias e num pluralismo democrático, foi re-interpretado com forte ênfase de separação racial nacionalista em nada refletindo a proposta kuyperiana.
 
5) A denominação reformada que concentrou o movimento apartheid era a Nederduits Gereformeerde Kerk (NGK), e não a The Gereformeerde Kerk, onde estavam reunidos os adeptos da filosofia reformacional na África do Sul, ligados a Universidades como Potchefstroom, organizados nos moldes da Vrij em Amsterdã. Ou seja, a influência teológica do neocalvinismo não foi central para a igreja dos Bôers, ou Afrikânders.
 
6) Alguns pensadores neocalvinistas da África do Sul, como H.G. Stoker, reelaboraram alguns pontos da filosofia de Dooyeweerd, dando a esta um tom mais voltado à cultura e sua expressão por comunidades humanas distintas, tirando desta algo de sua afirmação de princípios considerados "liberais em excesso", como o de direitos individuais, igualdade fundamental e democracia.
 
7) Os neocalvinistas holandeses foram vozes de denúncia, no contexto holandês, contra as práticas do Apartheid pós 1948, não havendo entre estes apoio reconhecido a qualquer de suas práticas.
 
8) Algumas expressões do Apartheid, como a extrema desigualdade das comunidades negras nativas em relação às brancas de ascendência europeia, ocorreu não apenas (e isso é muito importante e polêmico, devendo ser bem entendido) por uma ação de opressão e exclusão por parte dos Afrikânders (sim, esta existiu, como na divisão injusta das terras nos acordos feitos ainda pelos ingleses no início do século XX), mas também por uma clara incapacidade da cultura dos nativos de promover prosperidade nos contextos em que viviam. E isto revela um elemento de distinção cultural, e de visão de mundo, forte entre as comunidades que não pode ser ignorado em seus resultados práticos. Ainda hoje este é um tema cercado de tabus na África do Sul, onde comunidades negras nativas apresentam médias altíssimas de contaminação com o vírus HIV, chegando a 80 % da população, ao mesmo tempo em que comunidades brancas de descendentes de europeus na mesma área apresenta percentuais de 3 a 4 %. A visão de família e sexualidade é crucial no entendimento deste tema. 
 
Ou seja, a diferença em valores das culturas contribuiu, e muito, para a desigualdade que chocou o mundo. Mas este aspecto não é aceito pelo público internacional, que dirá pela mídia que aborda o tema.Se houverem mais contribuições de esclarecimento quanto a este ponto seria bom discutirmos por aqui.Esta é a tese de Gwashi Freddy Manavhela, da Vrij de Amsterdã:http://dspace.ubvu.vu.nl/bitstream/handle/1871/13313/9017.pdf?sequence=5
15 de mai. de 2016 | By: @igorpensar

Cristianismo Autêntico 2016








8ª Conferência Cristianismo Autêntico 2016:

• • • TRINDADE E ESPIRITUALIDADE • • •

9, 10, 11 e 12 de Junho • na Igreja Esperança

Como participar?

:: Inscrição on-line ::

1. Faça sua pré-inscrição, preenchendo o formulário disponível aqui: http://goo.gl/forms/nupPLAKYId

2. Faça o depósito do valor da inscrição. Em seguida, envie-nos um email, contendo o comprovante de pagamento, ou alguma identificação do depósito (número do documento, horário, etc). Este é o email: secrataria1esperanca@gmail.com

3. Sua vaga só será garantida após a comprovação do pagamento.

Valor da inscrição:
R$.120,00 - Inscrição Individual.
R$.110,00 - Inscrição para grupos acima de 5 pessoas.

Data de término das inscrições: 6 de junho, segunda-feira, às 23h59.

Vagas limitadas. Garanta a sua!

:: Inscrição Presencial ::
De segunda a sexta, das 14h às 18h, ou
nos cultos aos domingos; 10h30 e 18h15.

Igreja Esperança | Igreja Cristã Reformada
Rua Jaguari, n.673 - Bairro Bonfim - BH
Link da IE no Google Mapas: https://goo.gl/39A2zA
Próximo da Av. Pedro II, n.1520

Dúvidas ou Informações: (31) 2510-2744
Horário de atendimento: De segunda a sexta, das 14h às 18h.
Email: secrataria1esperanca@gmail.com

Preletor convidado:
>> FRANKLIN FERREIRA
Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Atua como Consultor Acadêmico de Edições Vida Nova e Diretor Acadêmico (Studienleiter Brasilien) do Seminário Martin Bucer. Autor de vários livros.
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Não perca esta 8ª Conferência Cristianismo Autêntico
• • • TRINDADE E ESPIRITUALIDADE • • •
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Quer saber tudo sobre a Conferência, clique aqui:
https://goo.gl/nJQY4T
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Que Deus lhe conceda graça neste propósito.
11 de mai. de 2016 | By: @igorpensar

Liturgia da Vida

Neste áudio, falo um pouco sobre como cultivar uma vida virtuosa, e as implicações práticas de sermos um povo aliançado com Cristo.  A vida cristã envolve uma ação passiva, ou seja, agimos sobre uma estrada pavimentada pela graça.  Rotinas, hábitos e ritmos da vida são formativos, e de maneira intencional cristãos podem organizar suas vidas, em pequenas disciplinas, que os formam no amor que desfrutam pela graça evangélica.  Cristãos não podem apenas ser informados a respeito do amor de Deus, precisam ser formados por este amor.

6 de mai. de 2016 | By: @igorpensar

Lamento e Temor

Conheço minha geração, sei que é inquieta, ela é sensível à injustiça, não suporta a contradição e o abuso de poder. Reconheço que é uma inquietação legítima, eu também não consigo ficar passivo diante de tais contradições. Na maioria das vezes resta-me somente o lamento. Eu lamento crianças cujos pais não podem ajudá-las na tarefa de casa, lamento pelo adolescente que é indisciplinado porque troca "F" com "B". Lamento a criança ou o adolescente abusado pelo namorado da mãe ou pelo próprio pai. Lamento pelo morador de rua que por causa do labirinto de uma pedra de crack ou o alcoolismo não consegue viver mais em família. Eu lamento!

Porém, temo que meu lamento se torne em revolta, e que minha inquietação se torne em puro ressentimento. Temo que meu desconforto se torne em um tipo de autocomiseração ou uma espécie de "salvação pelas obras", para que eu me sinta "moralmente" ou "espiritualmente" melhor do que os outros.

Temo que o pobre seja abstraído de suas idiossincrasias, singularidades, sua humanidade, e seja instrumentalizado por um pietismo sociológico. Temo por um enfraquecimento da centralidade e suficiência do Evangelho, como se o Evangelho não tivesse recursos suficientes para afetar o modo como lidamos com a pobreza e a vulnerabilidade.

Eu temo uma transferência do mal para o que está "lá", de maneira exógena, como se ele não estivesse "aqui", até mesmo em minha medíocre comiseração.

Nossos dias são dias de lamento e temor, compadecimento e prudência. Que nosso frágil senso de justiça não seja sequestrado por uma pulsão de revolta institucional. Que choremos pelo Templo em ruínas, como fez Jeremias, mas que tememos nossa reação. Não caiamos na utopia zelote, pois Cristo abraçou a cruz. E, antes de pensarmos sobre o que "fazer", que nossa alma inquieta descanse no que Cristo fez, pois 'sem Ele nada podemos fazer'.