6 de jun. de 2015 | By: @igorpensar

União e Comunhão Trinitária


Em seu livro Comunhão com o Deus Trino, John Owen (1616-1683) fez uma importante distinção entre união e comunhão com Deus. Tal discernimento tem implicações interessantes para a vida de um cristão.

A união com Deus é indissolúvel, funda-se na adoção e na obra justificadora de Deus em Cristo, e é operada pelo Espírito Santo. A união é unilateral, operada graciosamente, um ato absolutamente ativo da parte do Deus Trino e passivo da parte do homem. Porém, uma vez unidos, somos convocados a uma resposta graciosa: chamados a amar a Deus, porque o amor nos atingiu, ou seja, chamados à comunhão.

A comunhão depende de uma "mutualidade" (Owen).  Percebi uma similaridade do conceito com aquilo que Francis Schaeffer chamava de passividade-ativa e/ou atividade-passiva. A comunhão só é possível por causa da união. A união nos convoca à comunhão. Se oramos pouco, se somos tomados pelo tédio e sentimos um sensação de distância, e isto, nos inquieta, a inquietação é por causa da união.  Apesar de nosso amor frágil, a união com Cristo é um fato consumado e o amor de Deus por nós independe de nossa performance, afinal, Ele nos amou primeiro (I Jo 4:19). Por esta razão o Espírito Santo nos convoca à comunhão, para uma relação ativamente dependente da graça: oramos, nos arrependemos, meditamos, debruçamos sobre as Escrituras, nos expomos aos meios de graça, e assim, olhamos para a face de Cristo mais uma vez.

O cristão livre da condenação (Rm 8:1) pela união com Cristo, e sob a graça, entra em um pacto em que cultiva ativamente um crescente amor por Deus.  Amor que depende deste conhecimento que cresce na comunhão com o Deus Trino: Pai, Filho e Espírito Santo amam-se e nos amam antes de podermos fazê-lo. Somos introduzidos neste amor pela união e imediatamente convocados à comunhão. Chamados ao amor a Deus e ao próximo, reproduzindo aquilo que foi operado em nós providencialmente.

Enfim, no século XVII, John Owen conseguiu com maestria demonstrar que a comunhão com a Trindade é o coração da doutrina da santificação. Insisto, insisto e insisto: o melhor argumento a favor da Trindade não é sua 'metafísica', mas suas implicações espirituais e pastorais fundamentalmente bíblicas.  Esta foi a preocupação de Tertuliano, Atanásio, os Capadócios e Agostinho.  Logo, deveria ser a preocupação de todo cristão reconciliado com a Trindade.

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