20 de fev. de 2015 | By: @igorpensar

Graça não é de graça... como é?

No século XVI, o reformador Martinho Lutero se levantou contra um ensino corrente que havia em sua época que promovia a noção que: uma vez que uma pessoa era iniciada na salvação pela graça de Cristo, a manutenção desta salvação dependia de uma cooperação humana com a graça de Deus para  se obter êxito final.  Ninguém podia alegar certeza de salvação no tempo presente, pois tal coisa só poderia ser informada na ressurreição.

O Evangelho é claríssimo: a salvação é toda pela graça, do início ao fim.  A obediência humana também é fruto desta dádiva.  Um cristão quando vence o pecado, o faz por causa da obra justificadora, mas também santificadora de Deus em Cristo.  Ninguém, nenhum cristão, pode ser santo sem que Deus opere por sua graça o "querer e o realizar" (Fp 2:13).

Porém, observe o que está aí abaixo neste trecho de uma pregação do "rabino" Marcelo Miranda Guimarães do Ensinando de Sião.  Lugar que frequentei durante 10 anos e que tem atraído muitos evangélicos deseducados nos fundamentos da fé cristã.  Observe que ele alega em vários momentos que a "graça não é de graça", caindo em uma fatal ambiguidade lógica.  Negando inclusive, o sentido do termo "graça".   Ele alega várias vezes que o cristão tem que pagar um preço para ser salvo. Ele tem que fazer sua contribuição a tal obra.  Observe como ele combina obras humanas com a obra da cruz, dizendo inclusive, que esta é a parcela do cristão, separado da obra de Cristo, na salvação.  

Caros leitores, pensem por vocês mesmos: se eu tenho que cooperar com algo que a cruz já realizou, isto significa que Cristo não salva totalmente, mas que eu preciso contribuir com esta obra.  Isto, obviamente, coloca a cruz menor do que é, e assim ela se torna uma obra incompleta, carecendo de uma contribuição humana.  Honestamente, isto não é Evangelho, mas um falso evangelho.  Considere as seguintes afirmações no áudio e compare-as com os textos de Paulo abaixo.



Réplica Bíblica:


"Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça. E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça." (Rm 11:5-6)

"Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus." (Rm 3:23-24).

"Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus não de obras, para que ninguém se glorie. (Ef 2:8-9).

"Nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado." (Ef 1:5-6).

"Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras: Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado." (Rm 4:4-8)

"Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo." (I Cl 15:10).

"Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus." (Rm 5:1-2).

"Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem do seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus,  que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos." (II Tm 1:8-9).

"Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça. Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo." (Jo 1:16-17).

3 comentários:

Fábio disse...

De fato o Marcelo Guimarães confundiu as bolas. E o pior é q ele erra dentro de um contexto onde ele está criticando os crentes. Pode um negócio deste Arnaldo? (rsrs)

Enfim, essa modinha de querer ser judeu está deixando muitos perdidos.

Unknown disse...

Igor, bom dia!
Sei que estou um pouco atrasado na leitura de suas postagens (rs), mas vamos lá...
Concordo com tudo o que vc falou, também penso dessa maneira.

Mas dois versículos em especial eu não consigo encaixar nessa explicação: Mateus 11:12 (o reino é tomado por esforço) e Mateus 07:13 e 14 (estreita á a porta). Como ficam esses dois versículos diante de tudo o que vc falou?

Um abraço e obrigado.

@igorpensar disse...

Olá Igor, não vou chegar nos méritos da discussão sobre o tempo verbal de βιαζεται [biazetai] se é voz média ou passiva etc. De qualquer forma, não há um problema em reconhecer que toda a obra da santificação ser por graça e o esforço do cristão em algum sentido. O esforço do cristão não é uma obra autônoma, funda-se na graça de Deus, com Jesus no Jardim, sofrendo aflições, ele clama ao pai, e todo seu esforço funda-se em um evento de graça. O fato de ser por graça, não significa que isto não implique em esforço real, desconfortos, privações, sofrimentos emocionais etc. De fato, a graça nos dá condições de nos esforçarmos rumo ao Reino. Lembre-se, como disse Paulo em Filipenses: "Ele que opera em nós... o querer e o realizar". O cristão age na medida que descansa, e descansa na medida que age. Quanto a porta é estreita, idem, o versículo se refere justamente ao "pequeno rebanho do Senhor", a discrição do caminho para a vida eterna, e poucos entrarão por ela. Sem nenhum problema.

Obrigado pelas questões, espero que ajude a outros.