22 de dez. de 2015 | By: @igorpensar

Defesa aos que Celebram o Natal

Imagine uma família cristã reunida à noite, entoando cânticos, orando e agradecendo ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó ao redor de uma mesa pelo evento mais extraordinário que já aconteceu na história, o natal. Imaginou? Agora imagine também dezenas de jovens cristãos indo para debaixo de um viaduto para celebrar o natal com moradores de rua, levando a esperança cristã para essas pessoas. Imaginou novamente?

Pois então, uma pessoa que vê nisso tudo um evento pagão, simplesmente  já perdeu qualquer capacidade de discernimento, bom senso e graça. Ela caiu em um moralismo legalista, vendo cisco nos olhos dos outros e esquecendo-se do tapume em seus próprios olhos. Gente preocupada com formas, mas que se vedou ao fato de que Cristo encheu nosso mundo de sentido. 

Ninguém é obrigado a celebrar o natal, isto não é uma ordenança bíblica. Mas alegar que um cristão é sincrético, pagão ou idólatra quando o celebra, para mim, é no mínimo, uma acusação desonesta e ingênua.

Cristãos celebram o nascimento de Cristo. A data em si é irrelevante, tanto assim que cristãos coptas e orientais celebram o natal em outras datas diferentes do ocidental 25 de dezembro. O que importa mesmo é que se celebre o nascimento de Jesus, a encarnação do Verbo que é Deus.

Agora quero demonstrar que o paganismo daqueles que se opõem à celebração cristã do natal é pior do que o suposto paganismo daqueles que o celebram. Geralmente as críticas são dirigidas ao uso da árvore de natal, presépio, guirlandas ou o uso de velas do advento.

Não quero defender o simbolismo, sinceramente, isto é pouco relevante. Mas o que temo é a satanização de símbolos, datas e costumes, que hoje, assumem significados específicos dentro da cultura cristã. Símbolos não possuem uma "alma" ou estão possessos ou encantados por uma "ânima" ou "stoikeia". Símbolos assumem significado dentro de um contexto cultural ou comunitário. Atribuir sentido a um símbolo de maneira contextualizada ou transferir significado de um contexto a outro, se não for intelectualmente desonesto, é no mínimo anacrônico. Símbolos são apropriados e (re)significados em determinados contextos comunitários.

Pagãos sacrificavam animais muito antes de Israel existir, mas quando Israel começou fazê-lo, o ato tinha um sentido muito específico no contexto de seu monoteísmo.  Pagãos e politeístas possuíam templos e santuários, mas o santuário construído por Salomão tinha outro sentido teológico.  Diversas culturas pagãs possuíam sacerdotes, mas o sacerdócio de Israel respeitava dinâmicas e práticas espirituais com raízes na revelação de YHVH. E, o que dizer, do termo "Elohim" em hebraico, que era amplamente usado pelo paganismo cananeu e sofreu uma apropriação monoteísta pelos israelitas? Parece óbvio que quando Moisés ou Jesus invocavam "Elohim" não chamavam por um deus ou deuses pagãos. Tampouco, quando Sarah chamava Abraão de "baali" (meu senhor ou meu marido) o chamava de "meu Baal" (como referência à divindade levantina).

Símbolos são impressões ou artefatos culturais com significado atribuído comunitariamente. Símbolos não possuem qualquer sentido fora de seus contextos de significado. Artefatos não são possuídos por espírito ou divindades em um sentido panteísta. A atitude de rejeitar símbolos ou datas, só porque, em hipótese, foram utilizados outrora em contextos pagãos com fins não-cristãos, é simplesmente pagã. Que ironia!

Símbolos ou datas são apenas símbolos ou datas, cuja atribuição de sentido é dada de forma diversificada dependendo do contexto que os interpreta. O hexagrama (conhecido como Estrela de Davi) era usado em diversas culturas pagãs, antes da cultura israelita. Quando visitei as ruínas da sinagoga de Cafarnaum em Israel, vi que um dos símbolos utilizados para decorar a mesma era o pentagrama, atualmente conhecido como um símbolo satanista. Entretanto, para os judeus da antiguidade, suas cinco pontas indicavam os cinco livros da Torah (o Pentateuco).

Símbolo é símbolo. Seu sentido é específico dentro de uma cultura específica. O que dizer das marcas irreparáveis do calendário pagão babilônico no calendário judaico-bíblico? O que dizer de reis pagãos que ao observarem a posição dos astros, a partir de sua astronomia tradicional, conseguiram prever o nascimento de Jesus em Belém da Judeia? Deus em sua graça comum, derramou "sementes do Verbo" no mundo, espalhou isso pelas nações. Ele pode usar um falso-profeta pagão como Balaão, uma prostituta pagã como Raabe, um altar pagão, como ao Deus Desconhecido em Atenas (At 17), para que sua verdade penetre em ambientes pouco familiarizados com a "linguagem de Sião".

Neo-judaizantes são muito previsíveis: retórica primitivista, neo-farisaica, cheia de esnobismo cronológico e de purismo histórico. No afã de erradicar todo "paganismo" da igreja, caem em um tipo de gnosticismo, neoplatonismo... pagão. Como se fosse possível uma fé que ignora o trabalho do Espírito Santo ao longo da história.

Finalmente, você tem todo direito de não celebrar o natal, obviamente, a data não é uma ordenança bíblica, como já dito. Porém, considerar ou acusar de pagão ou neopagão cristãos reunidos em família para celebrar e agradecer a Deus pelo que João disse: "O Verbo se fez carne e habitou entre nós."  Isto sim é pagão, muito pagão, é a mais pura perda de discernimento histórico e da noção de que Deus deu riquezas às nações e que o cristianismo vem resgatando tal patrimônio para a glória de Cristo.

Celebrarei o natal com minha família mais um ano e não quero entregar o sentido deste dia e seu simbolismo ao mercado e ao secularismo. Esta glória, daremos a Jesus Cristo.

Felix dies Nativitatis.

21 de dez. de 2015 | By: @igorpensar

O Natal é uma Festa Cristã

O natal é uma celebração cristã. Simples assim. O natal não tem qualquer relação com o paganismo ou com o secularismo. Não é um festa de devotos ao deus sol e tampouco dos devotos ao deus mercado. O natal sempre foi e sempre será uma celebração tradicional cristã cujo significado é simples: nasceu Jesus, e Ele é o Filho de Deus e o Messias (Cristo).

Quais os desdobramentos de tal afirmação? Deus não entregou o mundo à escuridão, confusão ou à melancolia. Significa que apesar de duras contradições e sofrimento, dos quais somos em grande medida responsáveis, tudo pode assumir significado novo desde o dia que o menino judeu envolto em panos apareceu no mundo.

Ele não era somente divindade, por isso, se revestiu da humanidade que salvaria. Também não podia ser só humanidade pois somente a divindade poderia salvá-la. Cristo é portador do mais escandaloso paradoxo: divindade e humanidade em harmonia, como dizia a antiga Fórmula Calcedônia: "Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que nós reconhecemos como existente em duas naturezas, sem confusão, sem mutação e sem divisão."

Deus salva o mundo no paradoxo da encarnação. Nada surpreendente se pensarmos que Deus opera por uma lógica que lhe é peculiar. A lógica divina está mais pra quântica do que para o binarismo de nossa frágil inteligência. Deus não é ilógico, é que ele opera por uma razão que tem critérios próprios.

C.S. Lewis chamou a atenção para esta tensão 'racional' do evento natalino, ao afirmar que a encarnação do Verbo "não é transparente à razão: nós não poderíamos tê-la inventado. Ela não tem a lucidez apriorística suspeita do panteísmo ou da física newtoniana. [...] Se uma mensagem qualquer oriunda das profundezas da realidade quisesse nos atingir, é de esperar que encontrássemos nela essa imprevisibilidade, essa anfractuosidade obstinada e extraordinária que encontramos na fé por nós, e de fato, nem para nós, e que nos é arremessada contra o rosto." (O Problema do Sofrimento).

Definitivamente nenhum ser humano poderia "inventar" a narrativa e o evento natalino, ele vai de encontro a nossa obstinação polarizada entre o misticismo ou o materialismo. A encarnação consegue conciliar transcendência e imanência, céu e terra na pessoa de Jesus Cristo, em um único evento.

Enfim, o natal significa que cristãos insistem em lembrar, ou deveriam fazê-lo, ano após ano, durante milênios que "o Verbo se fez carne e habitou entre nós". Anunciamos e lembramos que Deus se intrometeu em nosso mundo, história e realidade, para inaugurar um novo mundo, uma nova história e uma nova realidade em Jesus. Por isso, o natal não é uma festa pagã de maneira alguma. É uma festa radical, típica e fundamentalmente cristã.

Celebremos com a santa mulher, Maria, mãe de Jesus, que cantou após o menino saltar em seu ventre: "A minha alma engradece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador!".

Desejo a todos um excelente natal cristão!

11 de dez. de 2015 | By: @igorpensar

Terrorismo Islâmico: uma tréplica

Raphael Freston levantou algumas objeções a meu texto "Cruzadas e terrorismo são equivalentes?".

Segundo ele, meu texto está "embebido de equívocos", apesar do óbvio exagero retórico, vamos aos "equívocos" que ele levantou:

Segundo Raphael: "A tese inicial do texto é de que o fenômeno histórico das cruzadas não pode ser comparada ao fenômeno jihadista atual. No entanto, ele não chega nem perto de fazer isso, os argumentos simplesmente são irrelevantes para a pergunta que o autor está levantando. Só se pode examinar se as cruzadas e o terrorismo islâmico são equivalentes a partir de uma análise histórica daquele e uma compreensão atual deste. Mas não foi demonstrado o que foram as cruzadas e tampouco explorou isso, destacando que as cruzadas só chega a ser mencionadas no sétimo e último ponto. Também o texto diz pouco sobre as razões dos atuais atos de terrorismo. É afirmado que igualar as cruzadas e o jihadismo atual é "evitar um honesto debate", mas na verdade quem está evitando é o próprio autor."

Realmente, talvez o título do texto em tom de problematização tende “a vender burro por cavalo”, é bem provável, mas explico: o uso do termo "cruzada" foi adotado no contexto dos atentados no Charlie Hedbo.  Por ocasião do evento, como sempre, dentro da efervescência dos debates nas redes sociais, um argumento recorrente era que "cristãos têm telhado de vidro pois também praticaram violência por razões religiosas em sua história".  Claro que nem sempre a coisa vem em tom argumentativo, a coisa vinha em forma de "meme" mesmo, exemplos: KKK=jihad, Cruzadas=jihad, ou ainda, massacre calvinista contra anabatistas=jihad.   Então, justifico, considere o termo "Cruzada" como um "string" (um termo coringa), que por ocasião da publicação do texto, é justificada.  Você pode substituir “cruzadas” aí por KKK ou Inquisição e verá que o argumento central ficará intacto.   Mas, acabou que o texto voltou a ter relevância ante os recentes atentados na França.  Neste caso, no máximo peço desculpa pela falta de contextualização do título, se é isto que objetas, admito, 'mea culpa!'.

Entretanto, vale esclarecer: minha intenção com o texto é confrontar a acusação histórica utilizada desde os iluministas, e atualmente, por progressistas, militantes de minorias, ateístas e neo-ateístas, de que atos de violência empregados por cristãos em nome de sua religião é equivalente ao 'jihadismo literalista' ou o 'terrorismo radical islâmico". 

Meu argumento é simples: toda religião pode cometer abusos, mas qual religião tem elementos ulteriores que podem disciplinar seus disparates?  Ou, ainda, na comparação cristianismo e islamismo, qual tem elementos em sua estrutura religiosa que possa encorajar ou desencorajar a violência?   Estou convencido de que se um cristão fizer o mesmo movimento que primitivistas muçulmanos radicais fazem para justificar a "shaaria" e a "jihad literalista", ele chegará em um lugar diferente destes.

A segunda objeção é a alegação de que caí em um tipo de "a-historicismo"quando recorri ao cristianismo primitivo para demonstrar a ausência de violência religiosa perpetrada por cristãos.  Acho que o Raphael não entendeu.  Explico.
Meu argumento parte ironicamente do seguinte: a interpretação de 'jihad' do ISIS, Al-Qaeda, Boko Haram e grupos similares é uma interpretação wahhabista, ou seja, uma interpretação primitivista.  Propus uma exercício imaginativo, e se, o cristianismo fizesse o mesmo movimento hermenêutico, e se fizesse um retorno 'ad fontes' para descobrir como a igreja na antiguidade lidava com os "inimigos do cristianismo", o que encontraríamos lá?  Com certeza nada equivalente ao islamismo em sua interpretação primitivista.  Ao contrário, o que veríamos certamente seria: Cristo crucificado e cristãos sendo martirizados. E, o islamismo, obviamente, encontrará outra coisa, que o diga o salafismo. 

O ISIS não tem gente ignorante por trás de seu movimento, mas grandes mentes em islamismo wahhabista de ideologia salafi (o próprio termo [salaf] سلف‎ quer diz 'ancestral', percebeu o tom primitivista?).  Eles estão em busca do "verdadeiro" islã, que implica na prática de mimetização de Mohamed, algo que já estava lá no primitivista: Muhammad ibn Abd al-Wahhab (pai do wahhabismo).

Concordo com você de que uma abordagem não-histórica e essencialista é um perigo, o ISIS faz exatamente isto, e não acho que o cristianismo deva fazê-lo.  A propósito, tenho repetido com frequência o erro do esnobismo cronológico e primitivismo anabatista.  Minha questão aqui é outra, como comentei acima, se fizermos a mesma experiência, teríamos resultados diferentes.  Por esta razão a violência em nome de Cristo e violência em nome de Allah não podem ser equalizadas.

Bem, a terceira objeção do Raphael basicamente é que que meu conhecimento de islamismo é precário, que ele acha que eu exagerei em dizer que não há nada equivalente a "amar o inimigo" de Jesus no Alcorão, e que meu texto é superficial.

1) Não tenho conhecimento precário só de islamismo não, tenho de quase tudo, só pra esclarecer.  Mas, já que seu conhecimento sobre o islamismo é melhor do que o meu, a ponto de mensurar a minha precariedade, por que você não fez nenhum objeção direta ao argumento principal que levantei?  Como você lida com intelectuais como Muhammad ibn Abd al-Wahhab?  Podemos chamá-lo de ignorante em islamismo?  Neste caso, temo que a superficialidade não foi só minha, não é verdade?

2) Se acha duvidosa a afirmação de que no Alcorão não tem nada de "amar os seus inimigos", então me mostre uma única "Sura" que trate isto de forma explícita.  Não há!  E, vários ex-muçulmanos se convertem ao cristianismo simplesmente ao ouvirem ou lerem o "ame o seu inimigo", como destaco, um exemplo bem conhecido no ocidente, Mosab Hassan Yousef, filho de um dos fundadores do Hamas que se converteu ao cristianismo.  Já leu o livro O Filho do Hamás?

3) "O texto simplesmente não consegue complexificar o fenômeno" (Raphael), sem dúvida, não é intenção dele, isto daria quase uma dissertação ou um artigo.   A proposta é simplesmente mostrar que a equalização entre terrorismo salafista/wahhabista com as Cruzadas, KKK ou outros "atos violentos em nome do cristianismo" (sem entrar no mérito) não é honesta, só isso.  Acho que neste ponto concordamos.  Estou certo?

Enfim, só levanto um problema: por que será que temos inúmeros testemunhos de gente muito familiarizada com islamismo, que se converteram ao cristianismo, ou que abandonaram o radicalismo, que alegam que muçulmano pacífico (a maioria esmagadora) é simplesmente muçulmano que não conhece islamismo?

Bem, para saciar sua sede sobre a relação cruzadas, cristianismo e islã, indico-lhe uma obra pequena, mas muito bem escrita por um excelente acadêmico em História das Cruzadas, Jonathan Riley-Smith, a obra intitula-se: The Crusades, Christianity and Islam.  Vale a pena ler.
28 de nov. de 2015 | By: @igorpensar

O Brasil Precisa da Igreja

Neste momento, talvez, o melhor esforço político a ser feito seja o de lutar por uma igreja que faça jus a sua vocação: ser igreja. Fundada no senhorio de Cristo, sem outros deuses em seu púlpito, a Igreja brilhará a luz da esperança. Uma grande "fábrica" de gente moralmente responsável, sem moralismos. Gente que resiste às tentações do poder pois aprendeu que Cristo tem o monopólio do poder. Gente modesta...

O Brasil grita por capital moral, e infelizmente, instituições ideologicamente cooptadas jamais lograrão êxito em produzi-lo. Lutemos por uma igreja que brilha a luz do Cristo ressuscitado em um mundo assaltado pelas trevas do cinismo, do desespero, da desumanização, da violência e do descaso político.
 
A desmoralização e a picaretagem generalizada em nome de fé devem ser superadas por um espírito cheio de disposição para afirmar o lugar de Cristo na Igreja: no centro. Uma igreja de gente regenerada, mas discipulada por essa verdade. Igreja que forma excelentes cidadãos, funcionários, empregados, administradores, empreendedores, voluntários, servidores públicos, políticos, acadêmicos, comerciantes, médicos, mecânicos, pedreiros, advogados ou militares, simplesmente por serem eles moral e autenticamente cristãos.
 
O Brasil, mais do que nunca, precisa da Igreja. Não esta da bancada evangélica mas esta espancada pelo Evangelho.
26 de nov. de 2015 | By: @igorpensar

Diamante na Latinha

Pense em um diamante guardado dentro de uma latinha de refrigerante, largado em um canto qualquer da rua. Por mais que você seja atento ou um bom observador, a riqueza que pode revolucionar sua vida, passará desapercebido. Talvez, você até segure a lata, escute o barulho do diamante, mas suporá que seja uma pequena pedra tão desprezível quanto a lata. Jamais saberá que tem um "Le Bijou du Roi" em seu interior. Você a desprezará entendiado.

Você só dará a atenção devida, se por algum razão, você for informado que naquela lata em particular foi depositado um diamante precioso. Neste momento, você não verá a lata como mera lata, mas como um objeto honrado, e escolhido discreta e intencionalmente para depositar tamanha preciosidade.

O cristianismo sustenta-se em um enigma curioso. Deus depositou sua maior preciosidade, seu Filho Unigênito, para quem o Universo foi criado dentro de um corpo frágil, humano, de um judeu galileu, que viveu até seus 33 anos de idade.

Naquele corpo violentado na cruz, habitou a maior riqueza do universo, toda plenitude, tudo que os homens sempre desejaram. Lá, no escândalo do corpo crucificado, estava a única coisa digna de se sacrificar, de morrer e viver, lá estava Ele, uma fonte de sentido inesgotável. Mas, ainda em um corpo frágil, escondido em um recipiente ordinário, amassado, descascando sua tinta, e aparentemente tão descartável.

Deus depositou sua glória no corpo de Cristo, pois seu conteúdo só poderia ser compreendido por iluminação. Somente os que dão ouvido ao Espírito que fala pelas Escrituras pode vislumbrar tão inestimável depósito. Claro, ainda não vemos a glória deste diamante em todo seu resplendor, mas basta-nos um pequeno brilho, para inferirmos que ali reside um incrível tesouro. O que fazemos? Trocamos esta mísera vida, por este precioso tesouro. Não é possível outra resposta!

Foi isso que Jesus nos ensinou: "O Reino dos céus é como um tesouro escondido num campo. Certo homem, tendo-o encontrado, escondeu-o de novo e, então, cheio de alegria, foi, vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo." (Jesus -- Evangelho de Mateus 13:44).
11 de nov. de 2015 | By: @igorpensar

A Missão de Deus [vídeo]


Reflexão que ministramos na Igreja Batista da Lagoinha na Conferência de Missão sobre o tema "A Missão de Deus" no dia 1º de novembro de 2015.

Antes de qualquer missionário anunciar alguma mensagem, Deus está altamente comprometido com a tarefa de se fazer conhecido e de revelar sua própria glória. Tal missão encontra sua expressão máxima na encarnação de Jesus Cristo, que sopra o Espírito sobre os discípulos, e assim, envia a Igreja.


6 de nov. de 2015 | By: @igorpensar

Evite o Devaneio e o Embrutecimento

Criar uma tensão entre doutrina e obras é simplesmente desnecessária e antibíblica. A falta de obras não é por excesso de doutrina, é por falta de disposições morais e afetos atingidos pela graça de Cristo ensinada na doutrina. A ação ao custo do enfraquecimento doutrinário pode resultar em ativismo orgulhoso, pragmático, e por isso, inconsistente com a verdade. Obra sem verdade é fogo estranho, é obra morta, um equivalente de Uzá que tentou segurar a Arca da Aliança. Boa intenção e boas justificativas são insuficientes.

Criar tensões entre a Grande Comissão e o Grande Mandamento é um desserviço, mantenha a distinção, mas não crie tensões. A missão funda-se no oráculo divino, o oráculo divino impulsiona a missão. É fácil perceber a miopia dos que zelam pela doutrina e dos que zelam pela ação: ambos são mutuamente cegos quanto ao que cada um respectivamente defenderia.

A ironia é que o "ortodoxo" que desdenha do "ortoprático" e o "ortoprático" que desdenha do "ortodoxo" são exatamente iguais: orgulhosos. No final, não há nem ortodoxia e nem ortopraxia, há heresia mesmo: quietismo ou legalismo. Parafraseando um dito, que me parece, era de Nietzsche: "Tome cuidado ao lutar contra um monstro para não se tornar como ele."

Evite a distração que embrutece o cérebro por ativismo ou que emburrece as pernas por devaneio.

31 de out. de 2015 | By: @igorpensar

Reforma: Cristo e a glória de Deus

Neste abençoado dia, 31 de outubro, em particular, em 1527, Martinho Lutero afixava 95 teses na porta de uma igreja em Wittenberg onde objetava sobre uma série de equívocos que a igreja e a cristandade precisavam corrigir. Não-cristãos e alguns católicos romanos devem olhar com consternação tal ato, interpretando-o como um esforço para dividir uma cristandade fadada ao fracasso ante os desafios de um mundo que tendia a se secularizar. Mas no gesto público daquele frei alemão, havia um zelo autêntico de ver toda cristandade melhor, mais autêntica, e principalmente, mais evangélica, mais cristocêntrica.

E, sempre será assim. Líderes religiosos corrompidos pela fama, dinheiro, poder e popularidade sempre serão ameaçados, ironicamente, pela mensagem radical que o centro da fé cristã é o próprio Cristo, e consequentemente, que toda glória e admiração pertencem exclusivamente a Deus.

Sinceramente, neste dia da reforma, oro junto com meus irmãos, para que Deus erga gente modesta, mas ardentemente comprometida com esta afirmação: que Cristo seja mais uma vez exaltado como o centro da fé cristã. Que o Evangelho (a boa nova) seja proclamado para evangelizar, mas também para refrescar mentes e corações cristãos sobre os grandes feitos de Deus em Jesus. Que toda comunidade chamada evangélica renove mais uma vez seu fascínio, sua alegria e sua fé nos tesouros do Evangelho: regeneração, conversão, justificação, santificação, ressurreição e glorificação. Que descubram o impacto sem precedentes de uma vida curvada diante de Cristo. Que pastores, como eu, se arrependam, se retratem publicamente por oferecerem "pratos de lentilhas" ao invés de entregarem esta mensagem sagrada: Deus está em Cristo reconciliando o mundo consigo mesmo. É tempo de arrependimento, tempo de conversão a Cristo, tempo de vivenciarmos o frescor que não diz respeito ao que fazemos, mas ao que Deus tem feito em Jesus Cristo.

Post Tenebras Lux...

Viva a reforma!
7 de out. de 2015 | By: @igorpensar

Confessionalmente Católico

Como ser um cristão evangélico confessionalmente reformado, e ainda, ser católico? Ser católico (universal) é manter-se consciente que se pertence ao que une toda cristandade (claro que não preciso explicar que católico aí não é sinônimo de católico romano). Ou, reconhecer, que cada tradição tem seus tesouros e riquezas que lhe são peculiares, são apropriações do tesouro da grande cristandade. Daí, a necessidade de uma abertura. A melhor forma de fazê-la é localizar-se confessionalmente em uma tradição nuclear de onde é possível navegar entre outras, enriquecendo sua própria confessionalidade. 

Adotando-se tal paradigma, quase uma metodologia, é possível localizar-se na tradição reformada e evitar a idolatria denominacional. Subscrever os símbolos e a tradição, mas resistindo ao sectarismo. Permitir-se dialogar com o anglicanismo, o luteranismo, o metodismo, a ortodoxia oriental, o pentecostalismo clássico e até mesmo com algumas correntes teológicas do catolicismo romano, e perceber-se mais cristão, mais pertencente. Deveríamos aprender a fazer este exercício de enriquecer nossa confessionalidade com a catolicidade.

Eu, como cristão evangélico e reformado, me sinto relativamente confortável em minha tradição, nesta ortodoxia, porém admito: Deus não entregou todas as cores da verdade e do Cristo à tradição que me localizo. E, possivelmente, a nenhuma outra tradição, mas todas desfrutam de aspectos da revelação encarnada que gostaria muito de apreciar.
2 de out. de 2015 | By: @igorpensar

Criar: evento da vontade divina

Deus é Pai independente de um mundo criado ou não. A paternidade divina é o que ele é, pois funda-se evidentemente em uma relação dentro da eterna e tríplice pessoalidade de seu amor. Jesus é chamado de Unigênito, por João, por ter sido gerado neste amor antes de haver mundo. Por isso, o cristianismo insiste: "gerado, não criado". Entretanto, a expressão "Criador", que se segue a afirmação de sua paternidade, refere-se a um "evento" a partir de sua natureza. O Deus que não precisava ser Criador para ser Deus, decidiu sê-lo, assim sendo, o mundo como o conhecemos é fruto do arbítrio divino, é resultado de um querer de Deus como Pai.

Deus não precisa de gente para ser Deus, mas como Deus, ele tem vontade, uma que reflita seu amor. Sua vontade amorosa criou um mundo e criou gente. Mais uma vez, devemos reconhecer as implicações profundas da Trindade: tudo é uma dádiva, um dom imerecido, a criação e a existência humana fundam-se no querer divino. Querer dispensável à sua própria natureza que se auto basta, porém, definitivamente reflete sua paternidade e amor. "Seja feita a sua vontade, assim na terra como no céu..."
15 de set. de 2015 | By: @igorpensar

Cada um em seu lugar

Quanto mais Cristo torna-se absoluto, mais nos tornamos relativos a Ele. Quanto mais relativos a Cristo nos tornamos mais resistimos qualquer coisa que arrogue absolutividade. Também resistimos tudo que tenta nos relativizar ao invés de Cristo. Pois sabemos que o relativo na medida que orbita ao redor do absoluto torna-se semelhante a ele. Seja Cristo seja qualquer outra coisa. O problema é que Cristo é o absoluto real, todas as outras coisas, por mais que arroguem absolutividade, são igualmente relativas a Ele. Logo, voltemos para Cristo, para que não nos tornemos menos do que deveríamos ser.
1 de set. de 2015 | By: @igorpensar

Dar de Tudo que Foi Dado

Mais do que 10%, toda existência!

Este é um ponto sensível, mas fato é que o dízimo era uma contribuição destinada a manutenção do sacerdócio levítico no Templo de Jerusalém. Porém, o princípio contido no Novo Testamento é mais profundo do que 10% dos recursos financeiros, funda-se em um princípio de generosidade que exige toda existência e recursos à serviço de Cristo. Por um motivo simples: Cristo é mais do que qualquer teologia da prosperidade pode oferecer. A partir desta compreensão, o compromisso cristão é com a contribuição e a generosidade irrestrita, sem taxas mínimas ou máximas. A contribuição cristã funda-se não em legalismo ou barganha, tampouco em avareza egoísta, mas em uma vida grata. O cristão não contribui porque quer ganhar algo em troca, ele contribui porque já tem todas as coisas.

Esta é uma reflexão bíblica e pastoral, em que tento ser honesto sobre a contribuição, a generosidade e o compromisso financeiro de cristãos. Não é uma mensagem contra o dízimo, mas contra a avareza e a favor da generosidade.


31 de ago. de 2015 | By: @igorpensar

Santificação: apropriação divina [áudio]

Santificação é mais do uma mudança moral ou uma separação social.  Implica em uma apropriação divina que muda o destino e os amores.  Deus se apropria de seres ordinário concedendo-lhes um destino extraordinário.

26 de ago. de 2015 | By: @igorpensar

10 Medidas Contra a Corrupção | Apoiamos!



Militantes e apoiadores da Rede Cristã pela Justiça Pública e Movimento‪#‎IgrejaNaRua‬. Estamos apoiando a iniciativa que partiu do Ministério Público Federal das chamadas 10 Medidas Contra a Corrupção.

Precisamos levantar o maior número possível de assinaturas físicas (em papel) para pressionarmos o legislativo para elaborar 10 medidas ou reformas legais que conteriam grande parte dos esquemas de corrupção que se aproveitam de várias brechas legais e principalmente um sistema que favorece a impunidade. O movimento acontece no Brasil inteiro e em várias frentes.

O procedimento é simples: comunicar a iniciativa na igreja, faculdade, clube ou círculo social, e levantar as assinaturas. A comunicação pode ser feita em sua igreja ou comunidade com o vídeo do procurador da república e irmão em Cristo Deltan Dallagnol disponível na página aí abaixo.

Precisamos de pessoas que nos ajudem como mobilizadores, ou seja, que nos ajudem levantando as assinaturas (não importa onde). Você pode ser um mobilizador e levantar assinaturas entre amigos e familiares. Mas também pode ser um mobilizador em sua igreja.

Vamos nos mobilizar pessoal, esta é um oportunidade política sem precedentes de finalmente conseguirmos algo expressivo no sentido de contermos tantos abusos e injustiças.

Seja um mobilizador ou mobilizadora: informe aí abaixo "eu quero!" ou envie um e-mail para igormiguel777@gmail.com e providenciaremos o envio impresso das listas.


Brasília-DF | Fórum de Teologia Cristã: Trindade


Dias 9 e 10 de outubro/15 Felipe Sabino e eu estaremos compartilhando um tempo de reflexão sobre a preciosa doutrina da Trindade na 3ª Igreja Presbiteriana de Taguatinga.  Informe-se clicando no cartaz acima.


4 de ago. de 2015 | By: @igorpensar

Um Novo Sacerdócio [áudio]

Ministração realizada na Igreja Esperança em 02/08 durante a série sobre o Profeta Malaquias.

Tema: "Um Novo Sacerdócio"

O profeta Malaquias adverte os profetas sobre a precaridade do ofício dos sacerdotes no Templo na era pós-exílica. As advertências dirigidas à classe sacerdotal apontavam para a corruptibilidade de um sacerdócio transitório. Entendemos isto quando olhamos para o sacerdócio eterno de Jesus. Para que fosse Messias, tinha que se encaixar em certos critérios, dentre eles, ser sacerdote para sempre. Mas... ele não era levita, era ligado a tribo de Judá, uma tribo real. Como poderia Jesus ser sacerdote? O autor de Hebreus desenvolve uma riquíssima cristologia a respeito. E, mais ainda, se Cristo é um eterno sacerdote, seu sacerdócio se estende a todos os filhos de Deus: a cara ênfase protestante a respeito do universal sacerdócio dos santos.


Áudio completo!

1 de ago. de 2015 | By: @igorpensar

Admoestação aos Buscadores de Poder

Se você tem vivido uma vida frenética atrás de experiências espirituais extraordinárias, se sai do culto desanimado porque não sentiu um arrepio ou não chorou. Se você tornou-se um obcecado por um culto que te estimula, te anima emocionalmente e te faz vibrar. Se você fica entendiado com uma mensagem cristocêntrica, mas se empolga quando um irmão disse "ter visto um anjo". Ou ainda, se você se sente obrigado a mudar o tom de voz na pregação ou no louvor, apresenta uma certa performance de homem ou mulher "espiritual" para impressionar ou animar as pessoas. Faça um favor para sua alma, escute a admoestação deste agraciado pastor do século XVIII, o homem que foi usado por Deus no primeiro grande avivamento que o novo mundo experimentou.

Impressionante, como muita, mas muita gente em nossas igrejas evangélicas no Brasil vivem este labirinto espiritual aí abaixo mencionado. Voltemos a Cristo! Que possamos nos fascinar com aquela mensagem clássica que nos colocava de joelhos diante da cruz, de seu sacrifício, sua ressurreição e seu reinado. Exaltemos e desfrutemos de quem Cristo é. Fascinados por sua palavras e tomados de grata e sensível alegria por seus grandes feitos.

Acorda Igreja Evangélica brasileira!!!

"Quando os falsos crentes se congratulam apenas neles mesmos, mantêm os olhos voltados somente para si mesmos. Tendo recebido o que chamam de descoberta ou experiências espirituais, a mente deles se enche do ego e de admiração pelas experiências. A principal empolgação não é a glória de Deus nem a beleza de Cristo, mas sim as experiências vibrantes. Ficam pensando: 'Que experiência maravilhosa! Que descoberta! Encontrei coisas fantásticas!'. Com isso, as experiências tomam o lugar de Cristo e de Sua beleza e auto-suficiência. Em lugar de se regozijar em Cristo Jesus, entregam-se às suas experiências maravilhosas. Ficam com a imaginação tão presa nessas coisas que toda a noção de Deus passa a ter apenas uma pequena relação com elas. À medida que as emoções se intensificam, esses hipócritas às vezes são totalmente engolfados pelo narcisismo, presunção e zelo ardente pelo que está acontecendo. mas tudo não passa de um castelo no ar, sem outro fundamento senão imaginação, amor a si mesmo e orgulho." (Jonathan Edwards - séc. XVIII).
29 de jul. de 2015 | By: @igorpensar

Teologia da Cidade [áudio]

A primeira parte de uma reflexão introdutória a respeito da teologia da cidade.  A relação do cristão, do evangelho e da cultura no contexto urbano.

Parte I 



Parte II

Vulnerável aos Vulneráveis


Tenho muita, mas muita dificuldade com a retórica de messianização do pobre (muito presente em determinadas tendências ideológicas).  Trabalho há quase 5 anos com crianças e adolescentes em contextos de alta vulnerabilidade.  Pela graça de Deus, faço parte de uma equipe e uma ONG profundamente interessada na garantia do direito ao desenvolvimento pleno de suas capacidades humanas.  Porém, jamais me deixei envenenar por qualquer ufanismo triunfalista e tampouco uma antropologia rousseauniana ingênua.  Não tenho qualquer pretensão de transformação estrutural ou mudanças revolucionárias e também não acho que o pobre seja privilegiado, em termos morais, em relação a mim, simplesmente por causa de sua condição pobre.  Porém, admito, que a maioria esmagadora dos eleitos de Deus são pobres materialmente: a história e as Escrituras comprovam.  Logo, bíblica, histórica e intuitivamente, Deus favorece misteriosamente os mais vulneráveis, mas não acho que seja um critério soteriológico, mas uma forma particular em que Deus opera para exibir sua glória.

Não acho que eu mereça -- e nenhum cristão -- nenhum tipo de admiração por tal tarefa, e esta afirmação não se baseia em uma postura demagógica. Este é um fato experimentado por qualquer missionário/profissional realmente interessado nos mais vulneráveis: jamais serviríamos tais indivíduos por nossa própria competência, somos arrastados ao serviço e ao amor pois o próprio Cristo os ama e quer servi-los.  Raras vezes sou reconhecido por meus educandos ou seus pais por qualquer esforço em vê-los melhorando em inúmeras competências sócio-emocionais e cognitivas.  E, de fato, não tenho nenhuma expectativa de reconhecimento.  Pois o que faço é ínfimo, e depois, não é isto que me encoraja.  Então que Deus nos livre de um farisaísmo performático.  Que Deus nos livre de uma admiração desproporcional e desnecessária.

Um cristão se move no sentido dos mais vulneráveis por causa de dois grandes mandatos divinos: a grande comissão (ide) e o grande mandamento (amar).   Para mim, cristãos precisam amar mais.  E, neste ponto, acho que o Antônio Carlos Costa​ em seu livro "Convulsão Protestante" acertou.  Eu teria algumas pequenas reservas a respeito, por exemplo, de sua tese sobre "encontrar Deus no pobre", acho que isto merece maiores explicações.  Mas acho, que em termos gerais, o coração dele arde por uma causa muito importante:  evangélicos precisam dar um passo mais consistente na direção dos mais pobres e vulneráveis.  Nosso país é marcado por profundas desigualdades, violência, fracasso institucional, impunidade e empobrecimento moral.   A meu ver, é simplesmente inquietante que cristãos fiquem indiferentes ao sofrimento alheio. 

Tem mais alguma coisa no Antônio que coaduno:  cristãos precisam de um choque de realidade.  Eles precisam deixar suas vidas cômodas e entrar dentro de uma cracolândia, subirem o morro, visitarem presídios ou coisas semelhantes.  De fato, não há como continuarmos sendo cristãos da mesma forma depois de uma imersão na realidade dos que sofrem.

Sou favorável ao fortalecimento da sociedade civil, temos que superar esta dependência estatal, e por incrível que pareça, nós todos, como comunidade cristã deveríamos nos envolver com a tarefa de dignificar mais brasileiros empobrecidos e vulneráveis.  Deveríamos assumir isto como tarefa.  Não falo que a Igreja Local deva fazê-lo, não acho que Igrejas Locais devem ser ONGs.  Mas penso que igrejas devem ensinar sobre o amor, a compaixão e a generosidade a seus membros.  Que eles se envolvam, que doem e compartilhem seus bens e suas capacidades a serviço dos que precisam.

Sustento que uma tensão entre os dois mandatos mencionados é desnecessária.  Que continuemos anunciando Jesus Cristo, ensinando sobre sua obra salvadora, e que pessoas continuem crendo em sua obra justificadora.  Mas que igualmente, amemos de forma desinteressada e incondicional os mais vulneráveis, servindo-os em suas necessidades concretas.  Estamos diante de uma oportunidade singular de testemunharmos um cristianismo robusto pela pregação e pelo serviço.  Sem sobreposição e sem confusão entre evangelizar e servir.

Gostaria ainda de salientar que nosso conceito de pobreza também carece de uma definição mais sofisticada.  De fato, há muitas pobrezas e riquezas.  Há os materialmente pobres, mas ricos de sabedoria, generosidade e graça de Cristo.  Há os emocional e socialmente pobres, cativos de entorpecentes e da miséria de uma doença grave, mesmo sob posse de quantias financeiras abundantes.  Em Apocalipse, a Igreja de Laodiceia, apesar de sua riqueza financeira, foi chamada de pobre pelo próprio Cristo.  Precisamos de critérios mais elaborados sobre pobreza, uma abordagem complexa e multidimensional para mapearmos a vulnerabilidade humana.

Um conceito multidimensional de pobreza sob uma perspectiva cristã exigiria ferramentas teóricas mais precisas.  Principalmente uma filosofia e uma teologia que leve em consideração a narrativa bíblica "criação-queda-redenção" e uma cosmologia e antropologia judaico-cristãs.  Sem tais recursos, cairemos fatalmente em uma espécie de ufanismo ideológico revolucionário, ou uma espécie de quietismo que fica esperando a caridade alheia.   Mas esta é outra conversa.

Finalmente, a convocação final é que amemos, que Cristo se manifeste em palavras e obras, que corações se convertam. Senão se converterem, que sejam servidos, cuidados e dignificados.  E, que tais obras sejam como luzeiros em mundo cínico em relação ao compromisso de cristãos com Cristo e com as pessoas.
13 de jul. de 2015 | By: @igorpensar

Sede sábios! A superação da tolice generalizada.

"Onde está a sabedoria que perdemos com o conhecimento?" (T.S. Eliot)

A superação de uma cultura que promove a tolice e a cultura "sem noção".  A sabedoria é uma espécie de segunda natureza, uma vida virtuosa, é adquirir uma habilidade existencial para viver bem e com foco no bem último.

6 de jul. de 2015 | By: @igorpensar

O Problema da Nudez Moral

Ao aprofundar as reflexões sobre a cultura afetiva, e a partir de muito do que se tem ouvido em minha comunidade de fé, chego a conclusão de que a couraça ou o revestimento moral que deveríamos ter está ausente ou comprometido.  O que significa enfim que vivemos o tempo presente em "carne viva".  Daí nossa hipersensibilidade, reatividade, fobia social e intolerância.

Explico melhor: por revestimento moral entendo a vida pessoal equipada por uma sabedoria que se constitui da internalização de valores morais e virtudes que orientam nossa resposta em relação ao mundo e a vida com as pessoas.  O sábio é aquele que tem suas pulsões contidas e/ou educadas para agir e interagir com o mundo e com as pessoas de forma ética e responsável.

Pessoas despidas de revestimento moral tendem a ser como sujeitos em “carne viva”.  Sabe quando alguém encosta em uma queimadura?  Não resta outra coisa ao queimado senão uma reação desproporcional, desmedida e até violenta para proteger-se e livrar-se do desconforto e da dor.  A cultura afetiva vem despindo e expondo à nudez gerações inteiras que não possuem dispositivos morais suficientes para lidar com e tolerar o convívio social.  A desorientação provocada é tão grande, que resta ao estado moderno, por via jurídica, criar dispositivos impessoais para compensar a pobreza ou falta de revestimento moral nos indivíduos.

Importante destacar aquilo que o filósofo alemão Immanuel Kant chamava de “sociedade civil ética” segundo ele é “um estado em que [os homens] se encontram reunidos sob leis não opressivas, ou seja, simples leis de virtude”¹.  A comunidade ética se distinguiria do “estado jurídico”, pois este se sustenta pelo poder coercitivo e pela força da lei institucionalizada, enquanto aquele funda-se em valores morais internalizados, ou seja, virtudes.   Ainda, Kant chama a atenção para o fato de que o estado jurídico, o estado como conhecemos, deveria promover a comunidade ética para seu próprio bem.  A truculência, o abuso e onerosidade estatais devem-se justamente a indivíduos, e consequentemente, uma sociedade moralmente empobrecidos.

Curiosamente os que adotam o campo afetivo como critério de justiça acabam por promover uma cultura amoral de alta reatividade.  Querem superar a violência removendo precisamente aquilo que tem o poder de conter a violência. Ao invés de promover instituições que formam armaduras morais, eles colocam no mundo sujeitos moralmente empobrecidos e criam leis e jurisdições para que ninguém se esbarre, criando a atmosfera perfeita para o individualismo, o caos e tensões interpessoais.  E, claro, ampliando o poder do estado e sua ingerência em esferas que não são de sua alçada.

Nossa intolerância a dor, ao sofrimento e em relação ao convívio social se devem em muito a este estado de nudez moral.  Criamos uma distância ou uma margem de segurança em relação ao outro por medo do desconforto.  Só nos resta o isolamento e a fuga de qualquer tipo de vínculo comunitário e convívio social.  Ao invés de lidar com nossa nudez, elaboramos vestes improvisadas de “folhas de figueira” e nos isolamos de Deus e das pessoas.  O resultado só poderia ser Caim matando Abel, ou seja, a violência.  Quando Sartre diz que "o inferno são os outros", o faz a partir de seu lugar de homem já queimado pelo fogo eterno.  Sua carne está sendo devorada, não resta outra coisa a ele senão a intolerância.

Mas quem promove capital moral?  Quais são as instituições que manufaturam roupas moralmente apropriadas para imergimos na vida social sem medo do outro?  Sem dúvida instituições providenciais e consagradas pelo tempo como o casamento, a família e a comunidade de fé.   Porém o que o cristianismo propõem é algo além e mais consistente.  A raiz da nudez do ser humano encontra-se no fato de que ele se encontra curvado sobre si mesmo.  Ao perder a visão do sagrado, a noção de transcendência, ele se descobriu nu (Gênesis novamente).  Ou seja, despido e privado de um revestimento de sabedoria que pudesse equipá-lo para viver sem medo no mundo de Deus.  Não é em vão que a “árvore da vida” é associada com a sabedoria na literatura sapiencial hebraica.

Agora fica claro que quando o apóstolo Paulo usa expressões como "revestir-se do novo homem" ou "revestir-se de Cristo" ele se refere a necessidade da apropriação de uma nova existência.  Sem esta couraça da fé, a roupa do Cristo ressuscitado, ainda que se tenha vestimentas morais, socialmente necessárias, elas ainda são insuficientes para lidar com o ardor da permanente presença de Deus no mundo.  Neste caso, devemos recorrer à noção apostólica de que Cristo é a interface entre o cristão, as pessoas e o mundo, nosso amor em relação ao próximo não é sentimentalista, é mediado por Cristo.  Nas palavras do pastor e mártir Dietrich Bonhoeffer:
“Entre meu próximo e eu está Cristo.  Por isto não é me é permitido desejar uma comunhão direta com meu próximo.  Unicamente Cristo pode ajudá-lo, como unicamente Cristo pode me ajudar.   Isto significa que devo renuncia as minhas intenções apaixonadas de manipular, forçar ou dominar a meu próximo.”²
Enfim, Cristo é a resposta mais adequada para o empobrecimento moral generalizado, e por incrível que pareça, nele se encontram os recursos para uma vida livre da ingerência e do controle estatal e do empobrecimento sentimentalista da cultura afetiva.  Qualquer ataque contra ou tentativas de redefinição do casamento, da família ou da igreja, devem ser encaradas como uma violação das principais instituições responsáveis pela proteção da liberdade humana.  São elas as responsáveis pela produção e revestimento da vida moral.  Promoção de capital moral desonera e protege a sociedade civil do abuso estatal, e por outro lado, equipa indivíduos para lidar com a vida em sociedade superando a pulsão por violência.
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¹ A Religião nos Limites da Simples Razão, Parte III, Seção I.
² Livro “Vida em Comunhão”.
30 de jun. de 2015 | By: @igorpensar

Casamento: seu status não depende do estado

Encontrei algumas objeções a ampla defesa que temos feito no sentido de que "o casamento não deve sua existência ao estado". Quando digo nós, refiro-me a meu texto recente sobre o assunto, as postagens do Guilherme de Carvalho[1][2] e do Rodolfo Amorim.

Mas, destaco uma das objeções que li aqui no Facebook, publicado por Eliel Vieira
“Casamento, portanto, não é algo 'sagrado', 'ontológico' (como li esta semana num texto o-choro-é-livre de algum cristão fundamentalista) ou 'metafísico'. É algo civil, secular, laico, que deve ser regulado pela constituição, não por interpretações da Bíblia. O argumento de que "o casamento é uma instituição milenar que precede a existência do Estado e, portanto, não deve ser regulado por este" é raso e cheio de problemas. Exercer punição a quem comete delitos também é algo que precede a existência do Estado como o conhecemos, e este tem o poder e o dever de criar leis que punam criminosos. Sendo o casamento portanto uma instituição civil, secular e laica, o direito a ele deve ser acessível a todos homens e mulheres - heterossexuais ou não - que queiram resguardar seus direitos e deveres em relação à vida conjunta com seu parceiro ou parceira. Se vão se divorciar na semana seguinte ao casamento isso não é da nossa conta.”
Bem, aqui vai minha contra-objeção: dizer que o casamento assumiu um status civil, ou seja, um reconhecimento estatal, é muito diferente de dizer que o casamento deva sua existência ou deva ser redefinido pelo estado.  Pois, obviamente, o casamento antes de ser um contrato civil, mesmo em culturas poligâmicas, é um pacto de comprometimento moral e união assimétrica (macho-fêmea), e isto, desde tempos imemoriais. 

Até Levi-Strauss seria útil aqui, basta dar uma olhada em seu livro “Estruturas Elementares do Parentesco” pra sacar. Não há registro de um pacto de compromisso moral ritualizado – antropologicamente identificado – entre pessoas do mesmo sexo em nenhuma cultura do mundo.  As exceções históricas estão dentro do estado moderno. 

Mesmo que a prática homossexual exista antes do estado moderno, ela deve ser tratada como um fenômeno cultural distinto do casamento. Por quê? Porque não tem assimetria, o binarismo macho-fêmea, não há alteridade (a união com a diferença), o que enfim, impossibilita a exogamia (Lévi-Strauss), ou seja, a expansão da "espécie humana". Casamento é antropologicamente outra coisa, um outro fenômeno.

Mesmo a profunda pesquisa de James Neill em seu livro “The Origins and Role of Same-Sex Relations in Human Societies”, fica evidente, que os raros casos em que a “união homossexual” era ritualizada, as intenções culturais eram diferentes daquelas do casamento.

Bem, apesar do fundamento biológico, o casamento tem um “telos” (um propósito) que transcende a dimensão e as pulsões biológicas (como vem asseverando Guilherme de Carvalho). Pois, sua função é criar uma estrutura moral básica tendo por fim a procriação e a formação da família (independente de eventuais fracassos). 

Pode-se alegar: “o casamento não é mais esta união com pretensões morais, por causa da possibilidade anulação quando o 'amor' (lê-se afeto) acaba.” Mas esta mudança de status do casamento (sua anulação por falta de 'amor') dá-se na instância civil, por causa de pressões oriundas das revoluções afetivas que remetem à reação romântica ao racionalismo no século XVIII, ao freudismo e as revoluções sexuais entre os anos 60-80. Mesmo biblicamente, há exceções extraordinárias, que permitem a anulação ou o divórcio.   Mas, novamente, isto em nada deveria comprometer o status histórico e/ou ontológico do casamento: seu fundamento biológico (união entre macho e fêmea) e sua finalidade moral (constituição da família)¹.  -- como Herman Dooyeweerd é útil aqui! -- 

A afirmação de que o “casamento não deve sua existência ao estado” não tem nenhuma tensão com o fato de o estado reconhecer o valor “civil” desta instituição (justamente para garantir os direitos civis inerentes a tal união).  Porém reduzir o sentido de casamento apenas ao caráter civil é cair em uma armadilha secular.  A pegadinha tem dado respaldo, inclusive, para o projeto da militância LGBT em instrumentalizar o poder público (no caso dos EUA, em particular, o poder judiciário) para dar um outro arranjo, definição e status ontológico para o casamento, diferente, daquela cultural e historicamente consagrada.

Veja como é bizarro: desde tempos inadatáveis o casamento se funda em uniões assimétricas (macho e fêmea) e um pacto moral. Porém, agora, em pleno século XXI, o estado moderno vai para além do reconhecimento civil e assume para si o poder de regular e redefinir o status ontológico do casamento. Este é um salto escandalosamente bizarro, uma ingerência pretensiosa, e está claro que é um tipo de abuso de estado.

Enfim, quero reafirmar que o que está em jogo não é uma luta fundamentalista pela defesa da família, mas uma luta por uma instituição que já se mostrou forte o suficiente para manter o tecido social mesmo em tempos em que o direito civil e o estado não existiam.  O casamento não é só pré-estatal é supra-estatal, mas caminhamos para o que Charles Taylor denomina de "atomismo social", um fenômeno típico em contextos de alta secularização.   Afirmamos a individualidade, a vontade subjetiva e enfraquecemos os vínculos comunitários. Por esta razão, é muito, mas muito estranho ver gente alegadamente cristã defendendo a secularização e a entrega do casamento e, consequentemente, da família ao "deus estado".

"Mas Igor, não vai citar nenhum versículo bíblico?" Não, hoje não.
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¹Claro que há pessoas casadas que nunca terão filhos, porém, como bem assevera Scruton, um casal sem filhos honra o status moral do casamento, mesmo sem tê-los.  
23 de jun. de 2015 | By: @igorpensar

A Dúvida do Crente e a Fé do Cético

É verdade que crentes têm lá suas dúvidas de fé, mas também é verdade que ateístas têm lá suas dúvidas sobre seu ceticismo. 
 
Eu como crente, eventualmente, posso acordar com dúvidas inquietantes a respeito de minhas convicções religiosas. Mas não diminuirei a tensão tornando-me um cético ou ateu. Neste caso, posso acordar com sérias dúvidas a respeito de minha incredulidade. "Vai que o que crê esteja certo..." pensarei. 
 
Porém há uma diferença básica entre o crente e o cético: o primeiro crê, o segundo não quer crer, apesar da permanente inquietação para se crer em alguma coisa. No fundo, o cético vive torcendo para crer e encontrar algo digno de sua confiança. Por isso, testa e resiste a quase tudo, quase nos termos do empreendimento cartesiano de "dúvida sistemática". No fim das contas, ironicamente, é esta dúvida humana (presente no crente e no ateu) que mostra que a fé é radical e inescapável, seja em Deus, na razão, no estado, nas artes ou na ciência.

Não tem jeito gente, depois do naufrágio, todos querem se agarrar aos cacos do barco naufragado. Depois, podemos discutir se este é o jeito mais eficiente de sobreviver neste mar de desespero.

"Quem deseja fugir à incerteza da fé, há de experimentar a incerteza da descrença que, por sua vez, jamais conseguirá resolver sem sombra de dúvida a questão de se, por acaso, a fé não se cobre com a verdade. Somente na recusa revela-se a irrecusabilidade da fé." (Joseph Ratzinger em Introdução ao Cristianismo).
17 de jun. de 2015 | By: @igorpensar

Pelo Sentido Próprio de Casamento

Por Igor Miguel

O casamento funda-se na união da diferença, uma experiência com raízes biológicas e com um fim moral, que exige um salto existencial (o homem conhecer a mulher e vice-versa) e alteridade radicais, enfatiza Roger Scruton[1]. Resultado? Família. O casamento e a família seriam instituições de produção de capital social e moral importantes para manter o tecido comunitário e evitar a atomização social. 

Considere a complexa dinâmica interdependente entre casamento e família: desejo biológico, atração bio-afetiva, pacto marital de responsabilidade mútua, conjunção carnal, alteridade social (homem e mulher), eventualmente concepção, paternidade, educação, formação moral, cognitiva e a socialização do descendente. Tal complexidade foi enfatizada pelo Rabino Jonathan Sacks em recente consulta ao Vaticano sobre a concepção judaica de família: “O que fez a família tradicional marcante foi um trabalho de alta arte religiosa, que conseguiu reunir: pulsão sexual, desejo físico, amizade, companheirismo, parceria emocional e amor, geração de filhos, sua proteção e cuidado, sua educação básica e a apropriação de uma história e uma identidade.”[2]

Se casamento é uma instituição que se projeta para a família, John Milbank[4] convoca a igreja (e por que não sinagogas e mesquitas?) a se erguer, reafirmando, fortalecendo e resguardando o sentido básico supracitado de casamento. E, este posicionamento não pode ser rotulado de homofóbico. Ao contrário, homofóbico seria inserir parceiros homoafetivos a uma instituição cuja dinâmica e natureza se constituem e dependem histórica e radicalmente da paridade biótica macho-fêmea.

O termo "casamento" não pode assumir nenhum outro sentido além ou aquém da conjunção marital, a unidade com a diferença e o fundamento da família, sendo esta a instituição responsável pela promoção de capital moral e social.  Ele não pode se transformar em mero contrato para parceria sexual definida por um projeto de "revolução afetiva", como enfatiza Guilherme de Carvalho.  Nos termos de Scruton: “o casamento deixou de ser um rito de passagem para outra e uma vida mais elevada, ao invés disso, se tornou uma espécie de carimbo burocrático com o qual se endossa nossas escolhas temporárias.”

Há uma sabedoria histórica e tradicionalmente acumulada que já demonstrou o poder social e cultural desta instituição mesmo onde o Estado sequer existia. Ressignificar ou relativizar o sentido de casamento seria ceder à pressão de uma hiper-valorização da subjetividade, uma espécie de hiper-individualismo, o que resultará em inevitável fragmentação de tudo aquilo que promove nosso senso básico de comunidade. 

Um adendo importante refere-se a anomalia que tem sido a instrumentalização do estado no sentido de ressignificar o conceito de casamento e família, como bem observa John Milbank: “há alguma coisa monstruosa sobre a afirmação do estado como tendo o poder legal para mudar a definição de uma realidade natural e cultural que historicamente precede a existência do estado em si.". O Estado não pode se valer de seu poder legal para mudar atribuições ontológicas de instituições que não dependem dele para existir.

Logra-se o “casamento gay” porque a instituição que chamamos “casamento”, fundada tradicionalmente em “uniões sexuais assimétricas”, foi minada com a desconstrução dos papéis e diferenças importantes entre homem e mulher. Como o filósofo James K.A. Smith chamou a atenção recentemente[4], desde os anos 60 nossa sociedade tem confundido a noção de uma justiça baseada na igualdade das diferenças por uma uma noção de justiça baseada na homogeneização e dissolvimento de todo tipo de diferença necessária. 

Enfim, com o enfraquecimento da alteridade radical presente no conceito tradicional de casamento compromete-se o que há de mais básico na experiência humana com a diversidade. Em outras palavras: corrói-se a forma mais germinal de toda abertura para qualquer outro tipo de diversidade em convívios humanos mais complexos. Militantes pela diversidade deveriam considerar isto com mais seriedade. O que está em pauta não é mera guerra semântica mas a tentativa intencional de mudar a atribuição de uma instituição que transcende afeições individuais e imposições estatais.

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15 de jun. de 2015 | By: @igorpensar

Não consigo congregar! [áudio]



Está frustrado com a igreja?  Ama Jesus mas não consegue amar a Igreja?  Não confia mais na experiência comunitária?  Desistiu de congregar?  Está decepcionado com líderes abusivos ou irmãos?  Acha que não há igreja que presta?  

Escute: "Igreja e unidade: O triunfo da cruz sobre a inimizade."


[Baixe e escute este áudio]!


12 de jun. de 2015 | By: @igorpensar

Não é provavél ser cristão

Não é difícil ser um homossexual cristão, ou melhor, não é difícil ser um cristão, é impossível (parafraseando Francis Schaeffer). Ser um cristão, independente da sexualidade é uma impossibilidade radical e de qualquer maneira. Por esta razão, o "ser cristão" funda-se em um evento extraordinário da graça de Deus. Se realiza em um ato de amor que procede da eternidade e atinge gente aos cacos. O cristianismo é extraordinário justamente por não ser uma probabilidade, mas um milagre. Não dá pra calcular e antecipar riscos no cristianismo, ele é simplesmente mortal, como no martírio cristão.
6 de jun. de 2015 | By: @igorpensar

União e Comunhão Trinitária


Em seu livro Comunhão com o Deus Trino, John Owen (1616-1683) fez uma importante distinção entre união e comunhão com Deus. Tal discernimento tem implicações interessantes para a vida de um cristão.

A união com Deus é indissolúvel, funda-se na adoção e na obra justificadora de Deus em Cristo, e é operada pelo Espírito Santo. A união é unilateral, operada graciosamente, um ato absolutamente ativo da parte do Deus Trino e passivo da parte do homem. Porém, uma vez unidos, somos convocados a uma resposta graciosa: chamados a amar a Deus, porque o amor nos atingiu, ou seja, chamados à comunhão.

A comunhão depende de uma "mutualidade" (Owen).  Percebi uma similaridade do conceito com aquilo que Francis Schaeffer chamava de passividade-ativa e/ou atividade-passiva. A comunhão só é possível por causa da união. A união nos convoca à comunhão. Se oramos pouco, se somos tomados pelo tédio e sentimos um sensação de distância, e isto, nos inquieta, a inquietação é por causa da união.  Apesar de nosso amor frágil, a união com Cristo é um fato consumado e o amor de Deus por nós independe de nossa performance, afinal, Ele nos amou primeiro (I Jo 4:19). Por esta razão o Espírito Santo nos convoca à comunhão, para uma relação ativamente dependente da graça: oramos, nos arrependemos, meditamos, debruçamos sobre as Escrituras, nos expomos aos meios de graça, e assim, olhamos para a face de Cristo mais uma vez.

O cristão livre da condenação (Rm 8:1) pela união com Cristo, e sob a graça, entra em um pacto em que cultiva ativamente um crescente amor por Deus.  Amor que depende deste conhecimento que cresce na comunhão com o Deus Trino: Pai, Filho e Espírito Santo amam-se e nos amam antes de podermos fazê-lo. Somos introduzidos neste amor pela união e imediatamente convocados à comunhão. Chamados ao amor a Deus e ao próximo, reproduzindo aquilo que foi operado em nós providencialmente.

Enfim, no século XVII, John Owen conseguiu com maestria demonstrar que a comunhão com a Trindade é o coração da doutrina da santificação. Insisto, insisto e insisto: o melhor argumento a favor da Trindade não é sua 'metafísica', mas suas implicações espirituais e pastorais fundamentalmente bíblicas.  Esta foi a preocupação de Tertuliano, Atanásio, os Capadócios e Agostinho.  Logo, deveria ser a preocupação de todo cristão reconciliado com a Trindade.
3 de jun. de 2015 | By: @igorpensar

Explosão Reformada no Brasil

Excelente matéria sobre a explosão reformada no Brasil:

Segurem hereges e os que colocam um poste ídolo legalista ou liberal no lugar do Evangelho.

"Não tenho dúvida que estamos no meio de um florescimento do calvinismo no Brasil. É impressionante a quantidade de irmãos, especialmente de jovens, de todas as denominações históricas, pentecostais e neopentecostais (por mais incrível que isso signifique), que estão fascinados com os grandes temas da Reforma Protestante. Estão descobrindo Calvino, Lutero, Owen, Edwards, Spurgeon, Zwinglio, Kuiper, Lloyd – Jones e muitos, muitos outros grandes teólogos e escritores Reformados."  Leia mais aqui.
29 de mai. de 2015 | By: @igorpensar

Aos Cacos

No esforço de mantê-lo em pé, sem força, escorregou entre os dedos.
Não há como juntar os cacos e refazê-lo, só resta juntá-los para destiná-los ao lixo.
Tornou-se refugo, escória e descarte.
Tantas mãos por seu liso e translúcido corpo passaram.
Tantas bocas se saciaram em ti.
Mas, agora, encontra-se aos cacos, despedaçado, e serás esquecido.  
Sim, friamente substituído.  Teus cacos se espalharam no mundo. 
Puro esquecimento, este é o teu fim.
O que restou de ti?  O nada, o vazio e a não existência.
Gente?  Talvez um copo que se quebrou por minha distração.
25 de mai. de 2015 | By: @igorpensar

Pentecostes: Deus presente!

De acordo com o calendário cristão, neste domingo, rememora-se o Dia de Pentecostes. Para os metodistas, também é o Dia da Experiência do Coração Aquecido de John Wesley. Então, quero lembrar aos caros leitores que Pentecostes é de extrema importância para um mundo que experimenta uma espécie de "ausência do sagrado" (secularização ou desencanto).

A falta da presença física de Cristo, sua ascensão, poderia causar certo desconforto aos discípulos. A expectativa do eminente estabelecimento do Reino de Deus ainda era bem presente enquanto os galileus observavam seu Messias subindo aos céus. Entre a Ascensão e Pentecostes, os discípulos poderiam experimentar uma espécie de "secularismo", por isso, deveriam permanecer em oração aguardando o Consolador, o Espírito Santo. Porém, o Deus que se oculta na glória (Jo 16:16), que tornou-se presente na encarnação, agora se reapresenta no Consolador -- o Espírito Santo .

O Espírito Santo, o mesmo que 'pairava sob a face das águas' quando a terra ainda era caótica, mas prestes a assumir sentido, agora repousa sob os eleitos da Nova Criação. Deus repete o ato criativo: a matéria prima, não é mais o pó, agora é o Cristo Ressuscitado; as águas, agora do batismo; a palavra e a luz, são o próprio Verbo. Por esta razão, cristãos agora vivem em novidade de vida, pela esperança da aparição de um novo mundo. Aguardam com gemidos que seus corpos sejam transformados, não temem a transitoriedade e a deterioração.

O que queimava no coração de Wesley no século XVIII, arde no coração de todo cristão que renasceu pelo Espírito mediante Cristo, e agora, experimenta os sinais e o antegosto da eternidade. Apesar da aparente ausência, Deus continua profundamente presente pelo seu Espírito, preparando as coisas para a eminente estreia de um Novo Mundo.
14 de mai. de 2015 | By: @igorpensar

Dia da Ascensão de Cristo

Hoje é o Dia da Ascensão de Cristo! ‪#‎ascensão‬

Quando o sumo sacerdote, no tabernáculo, entrava uma vez ao ano no lugar mais sagrado daquele santuário, o fazia em uma jornada solitária, enquanto o povo e as tribos de Israel clamavam para que a intercessão fosse aceita. A imagem era impressionante, envolto na fumaça do incenso, ir em uma missão que podia ser sem volta. O povo permanecia tenso no Dia do Perdão, enquanto o sumo sacerdote oficiava sacrifícios e aspersões. Sob um misto de ansiedade e temor, afinal -- vai que o fogo do Senhor -- יהוה -- o fira -- repentinamente o sumo sacerdote aparecia à porta do tabernáculo. Imagino sua expressão de alegria, anunciando ao povo a boa-nova: estamos reconciliados e em paz com Deus!

Da mesma forma, como propõe a Carta aos Hebreus, Cristo ascendeu aos céus em sua intercessão. Como no Livro de Atos dos Apóstolos, ele é elevado sob o olhar intrigante dos discípulos, que o veem subindo entre as nuvens do céu, como um sacerdote que desta vez eleva-se como oferta: ele é o sacrifício. Faz isso para interceder por seus eleitos. Sobe em uma peregrinação intercessora, torna-se mediador entre Deus e os homens. Os discípulos recebem o aviso: "Ele virá do mesmo jeito que subiu". Sim, como o sacerdote que entra no tabernáculo, ele voltará anunciando a reconciliação final, entre criaturas e Criador, entre os filhos da aliança e seu Pai Eterno.

De acordo com o calendário cristão, agora só faltam 10 dias para Pentecostes.
11 de mai. de 2015 | By: @igorpensar

Descentrado



Não encontrou, foi encontrado. Não aceitou, foi aceito. Não escolheu, foi escolhido. Não amou, foi amado. Livre do fardo da autoestima, autoajuda, autoafirmação, autonomia e autopromoção. ‪#‎descentrado‬

6 de mai. de 2015 | By: @igorpensar

Não é autoestima ou reputação, é justificação!

Há homens bravos, imponentes, impositivos e centralizadores. Ufanistas por natureza, conseguem arrebatar multidões por sua personalidade "forte". Entretanto, poucas coisas me causam tanta admiração do que um homem modesto, despretensioso, zeloso mas vulnerável, que pondera suas opiniões, que não hesita em admitir seus disparates. Um homem que se esqueceu (lembrei-me do Ego Transformado do Keller) para ser encontrado fora de si e dos outros. Sua identidade não depende do que dizem ou do que ele diz sobre si mesmo, libertou-se de si e dos outros, encontrou-se em Cristo. Libertou-se do fardo de uma reputação baseada em méritos ou deméritos pessoais. Se há um modelo de hombridade, a modéstia tem que estar lá de alguma maneira. Porém uma modéstia baseada na obra justificadora de Cristo. Se perante Deus sua reputação está resolvida (justificado pelos méritos de Cristo), sua identidade não é mais determinada pela autoestima ou estima social mas pelo que Deus diz: "justo!".
27 de abr. de 2015 | By: @igorpensar

Comunhão mediada por Cristo

Desmitifique a comunhão. O fundamento da comunhão não é a confraternização. Não é uma agremiação ao redor de gostos comuns. Não é uma reunião de pessoas parecidas. O cristão não congrega para satisfazer expectativas emocionais ou carências afetivas. O fundamento da comunhão é mais simples e mais sério do que se pode imaginar. Reanime-se à vida comunitária e redescubra a comunhão dos santos.



9 de abr. de 2015 | By: @igorpensar

Dietrich Bonhoeffer

Como hoje celebra-se a memória do mártir Dietrich Bonhoeffer, não poderia deixar de mencionar o profundo impacto deste pastor luterano sobre minha espiritualidade e visão de igreja. De modo sintético, deixo que ele fale em um de seus textos que mais me impressionaram:
"Entre meu próximo e eu está Cristo. Por esta razão, não me é permitido desejar uma comunhão direta com meu próximo. Somente Cristo pode ajudá-lo, como somente Cristo pode me ajudar. Isto significa que devo renunciar minhas intensões apaixonas por manipular, forçar e dominar meu próximo. Meu próximo deve ser amado tal como é, independente de mim, ou seja, como aquele por quem Cristo se fez homem, morreu e ressuscitou; a quem Cristo perdoou e destinou à vida eterna." (Vida em Comunhão - D. Bonhoeffer).
Foi assim que descobri que Cristo é o mediador de toda comunhão. A falta de comunhão não é por falta de confraternizações eclesiásticas, mas por falta da centralidade de Cristo entre eu e aquele que comunga comigo do pão e do vinho que Jesus oferece.
8 de abr. de 2015 | By: @igorpensar

Facetas Sutis do Legalismo

Keller* está certo, sempre temos camadas e mais camadas de auto justificação. Podemos fazer objeções justas a irmãos moralistas que querem obter benefícios salvíficos pelo desempenho moral. Mas, mesmo aqueles imersos em teologia reformada (como eu) podem se vangloriar de um tipo de segurança religiosa pela via cognitiva ou "ortodoxia morta" (Bavinck). Irmãos emocionalistas -- alguns (neo)pentecostais -- podem estar em busca de uma justificação pela experiência afetiva, caindo em uma espécie de idolatria sentimentalista. A verdade é que devemos ser frequentemente expostos ao Evangelho, pois a "salvação pelas obras" e o "legalismo" tem facetas muito mais sutis e versáteis na arte de nos iludir e perdermos a suficiência da obra de Cristo. Que afeto, cognição e moralidade se curvem diante da obra justificadora de Jesus.
 
*Igreja Centrada, p. 65.