O irrisório, porém ainda, inóspito desejo de esticar as mãos e segurar sua frieza. Seu corpo soado, escorrendo gotículas em uma aparência úmida e fresca. Queria tocar em sua transparência, segurar-te firme, para não te ver deslizando entre meus dedos, és escorregadio. Tomo-te, deixo que o que está em ti seja sentido, a dor prazerosa de tê-lo em minhas mãos. Mesmo com todo desconforto, aprecio as muitas cores que brilham em teu interior e iluminam a vida de quem aspira sorver tua alma. Entorno-te, não há melhor descrição, deixo escorrer seu frescor goela abaixo na ânsia de ver minha angústia aliviada.
Nosso encontro tornou-se intenso e rápido, como às vezes são encontros de prazer. Porém, a pressa me feriu, doeu-me as entranhas e a cabeça. Logo, vi teu ressinto vazio, inóspito, apenas com sinais daquilo que de ti tomei. Agora, abandono-te, desprezo-te e largo-te ao relento, sem nenhuma expectativa de encontrá-lo novamente. Mas, nosso reencontro, cíclico, quase inevitável, acontecerá em breve. Posso imaginar um sorriso irônico vindo de tua inanimada cilíndrica rigidez, como que se pensasse:" -- Ele voltará, espero-o." Miserável recipiente, sabes que voltarei. Quando a sede me assaltar, terei que me render mais uma vez a este ordinário copo d'água.
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Igor Miguel
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