3 de nov. de 2014 | By: @igorpensar

Cilindro Ordinário

O irrisório, porém ainda, inóspito desejo de esticar as mãos e segurar sua frieza.  Seu corpo soado, escorrendo gotículas em uma aparência úmida e fresca.  Queria tocar em sua transparência, segurar-te firme, para não te ver deslizando entre meus dedos, és escorregadio.  Tomo-te, deixo que o que está em ti seja sentido, a dor prazerosa de tê-lo em minhas mãos.  Mesmo com todo desconforto, aprecio as muitas cores que brilham em teu interior e iluminam a vida de quem aspira sorver tua alma.   Entorno-te, não há melhor descrição, deixo escorrer seu frescor goela abaixo na ânsia de ver minha angústia aliviada.  

Nosso encontro tornou-se intenso e rápido, como às vezes são encontros de prazer.  Porém, a pressa me feriu, doeu-me as entranhas e a cabeça.   Logo, vi teu ressinto vazio, inóspito, apenas com sinais daquilo que de ti tomei.  Agora, abandono-te, desprezo-te e largo-te ao relento, sem nenhuma expectativa de encontrá-lo novamente.  Mas, nosso reencontro, cíclico, quase inevitável, acontecerá em breve.  Posso imaginar um sorriso irônico vindo de tua inanimada cilíndrica rigidez, como que se pensasse:" -- Ele voltará, espero-o."   Miserável recipiente, sabes que voltarei.  Quando a sede me assaltar, terei que me render mais uma vez a este ordinário copo d'água.

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Igor Miguel

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