24 de set. de 2014 | By: @igorpensar

Religião de Cima pra Baixo

Não acho que religiões são caminhos alternativos para um mesmo fim. Acredito que existem diferentes religiões, diferentes concepções sobre a divindade e diferentes éticas religiosas. Logo, como cristão, sou obrigado a destacar a singularidade do cristianismo diante de outras expressões religiosas. Considerei seriamente durante parte de minha vida outras possibilidades de espiritualidade. Cheguei a pensar seriamente, em um determinado tempo de minha vida, a seguir um caminho pelo misticismo ou me converter formalmente ao judaísmo e coisas semelhantes. Ponderei, mas cheguei a conclusão que a maioria das religiões propõem uma espécie de espiritualidade "debaixo pra cima". 

As religiões em geral propõem uma espécie de ascensão a partir de determinadas performances. Ou seja, a elevação e a comunhão com o sagrado exige alguma coisa que você tem que "fazer" para chegar a Deus. Então, percebi, que salvo alguns formatos desinformados de espiritualidade cristã, o cristianismo é a única espiritualidade que afirma exatamente o contrário. 

A fé cristã é uma espiritualidade "de cima para baixo", isto é, o sagrado que vem na direção dos homens para salvá-los. O cristianismo afirma que não há nada que o homem possa fazer para se tornar aceito diante de Deus. Deus mesmo é quem faz e realiza a salvação. Por isso, Jesus Cristo é tão estimado pelo cristianismo. Pois Ele é a própria expressão de Deus indo em direção aos homens. O Deus encarnado, humanizado e vindo em resgate de suas "ovelhas perdidas". 

Não há nenhuma religião, além do cristianismo, que diga que Deus está em busca dos homens e que não há nada que eles possam fazer para se chegar a Deus. Esta iniciativa é uma exclusividade de Deus. Paulo, Agostinho e os reformadores identificavam este atributo divino de vir em direção aos homens para salvá-los com palavras como "graça" e "amor". 

Então, o cristianismo não é uma religião como as outras que propõem caminhos alternativos para chegar ao Deus que está no topo da montanha. A fé cristã é a única espiritualidade que diz que Deus desceu da montanha para resgatar homens que o ignoravam. Este é o escândalo do cristianismo e sua maior virtude.
23 de set. de 2014 | By: @igorpensar

Barco Vazio

"From the stern to the bow
Oh; my boat is empty
Yes, my heart is empty
From the hole to the how"

"Da proa à curva
Oh; meu barco está vazio
Sim, meu coração está vazio
Do furo ao como"

(Música The Empty Boat de Caetano Veloso)

A descrição do abismo que se instala no centro da existência humana. Todos os homens são acometidos por esta perda de sentido, esta falta de amparo e esta incompletude. O mestre cristão africano Agostinho em uma jornada espiritual, descreve esta perturbadora ausência, em lágrimas, grita aos céus por alívio. Repentinamente, ao voltar-se para Cristo, depositando nele sua confiança, vê-se invadido de indescritível alegria e plenitude. Torna-se disposto a sacrificar tudo. E isto, apenas porque percebeu um suave hálito da eternidade, o que dirá quando estiver imerso em um mundo onde o conhecimento do Senhor cobrirá a terra, como as águas cobrem o mar. Cristo não quer seu barco vazio
12 de set. de 2014 | By: @igorpensar

Racismo é Anticristão

Racismo é moralmente anticristão pois fere o princípio bíblico da universalidade da dignidade humana.  Todos procedem de uma única criação e um único evento de amor em Deus.  Nicholas Wolterstorff é muito competente em demonstrar a singularidade da tradição judaico-cristã em sustentar que todos os seres humanos foram criados iguais, e que tal dignidade encontra-se na imagem e semelhança de Deus.  Sem esta referência, direitos humanos universais seriam impensáveis.  Ainda, o racismo fere o princípio bíblico de que Deus se move na história para salvar todos os povos, línguas e nações.  Até mesmo entre aqueles que acreditam em predestinação, a eleição divina não encontra nenhuma mérito ou critério nas pessoas, mas antes, reside em seu amor incondicional.

Na biografia do patriarca Abraão encontra-se este promessa, e ela permeia toda narrativa da Bíblia Hebraica, passa pelos profetas e está na história do profeta Jonas, que tem que renunciar seu etnocentrismo para ir aos ninivitas. Em Jesus, um centurião romano, uma mulher fenícia, outra samaritana, gregos e publicanos são acolhidos. Na cruz, a inimizade é superada, a barreira de separação entre judeus e gentios é derrubada (Ef 2:12 e seg.).  E mais uma vez, a história sintetiza a vocação universal do cristianismo em acolher todo tipo de gente.  De fato, sua beleza está em sua capacidade de acolher toda diversidade cultural e étnica.  E o mais incrível, na doutrina da adoção, na filiação obtida pela graça, a diversidade torna-se em indissolúvel unidade no Filho de Deus.   Cristo, diria Bonhoeffer, é a interface entre o cristão e seu próximo.  A tolerância e o amor do cristão fundam-se em Jesus.

Finalmente um novo Adão emerge de Cristo, uma nova humanidade. Logo, racismo, etnocentrismo, xenofobia, antissemitismo ou exclusão social, étnico ou cultural de qualquer natureza são inconsistentes com a fé cristã.  Racismo seria uma espécie de afronta à unidade e a diversidade que são inerentes à natureza uni-trinitária de Deus.
9 de set. de 2014 | By: @igorpensar

Apatia Evangelizadora

A apatia evangelizadora é fruto de uma apatia diante do Evangelho mesmo. Uma falta de reação diante do amor. A única reação ao amor de Deus que nos foi revelado em Cristo é amar. Amar não é uma espécie de experiência emocionalista, é uma pulsão graciosa que nasce de um amor evento, refiro-me à encarnação e à cruz.

O esvaziamento de Cristo, na encarnação, tem implicações missiológicas absurdas. Não há missão sem amor, não há amor sem renúncia, e não há missão sem encarnação. Se Deus se revestiu de nossa humanidade para nos salvar, pelo amor que desfrutamos em Cristo deveríamos nos revestir de avassaladora compaixão. Compaixão que fez Jesus chorar por uma cidade (Jerusalém). Compaixão que fez Paulo perambular por Atenas. Compaixão que nos faz estudar e nos compadecer da cidade, para nela, manifestarmos os benefícios da graça de Deus reveladas em Cristo Jesus.

Evangelizar não é um proselitismo legalista baseado no constrangimento, é comunicar que Deus está amando pecadores dignos de sua indignação. Porém, se este evangelho não alcançou o coração de um "cristão", obviamente, ele nunca evangelizará. Pois o que faz homens e mulheres darem um salto na missão é que foram feridos pelo Evangelho (o amor), por isso, não têm outra opção, amam ardentemente aquele que os salvou, por isso evangelizam.