31 de mai. de 2014 | By: @igorpensar

Não é Pecado Enriquecer (Baggio)

Bem, depois de ver a reação geral no mural do Sandro R. Baggio quando disse que "não é pecado enriquecer", acredito que a experiência foi válida para chegarmos a algumas conclusões. A partir das reações à frase percebemos que há sim uma devastadora influência do que chamamos de "materialismo histórico dialético", ou seja, uma ênfase que concentra o ponto de tensão (antítese) na "apropriação ou não do capital". Observe o problema aqui. Estamos falando de uma visão de mundo baseada no "ter", na "posse", o critério ontológico para o polo da prosperidade ou para o polo revolucionário é o mesmo. Ambos fundamentam sua metafísica (que ironia) na relação com a (des)apropriação de bens. Trocando em miúdos: o que determina a virtude ou o fundamento da existência humana em ambos os casos é se alguém tem (prosperidade financeira) ou não tem (pobreza financeira). 

Há um tipo de "teodiceia exógena" (já falei sobre isso aqui), traduzindo, a viciante e insistente filosofia que transfere o mal ou encontra sua raiz em causas externas, em dimensões estruturais. A influência rousseauniana, para não falar em um tipo de antropologia pelagiana aqui, é evidente. Entretanto, estamos todos cônscios que a cosmovisão cristã é radical em afirmar que o mal está no homem.  Esta é a antropologia evangélica e agostiniana: a comunidade humana é irremediavelmente corruptível, e que toda ação moral é, em última instância, fruto da graça de Deus. 

Assim, se existem estruturas injustas no mundo, nas relações de poder, nas trocas sociais ou na cultura, isto se deve aos efeitos da desobediência e rebeldia da comunidade humana em relação ao Criador. O proletariado caído se derrubar o burguês caído se mostrará corruptível até mesmo nos métodos para derrubá-lo. Nós não tocamos nas coisas e elas viram ouro, elas viram barro. Por isso Paulo diz, que o ouro é o depósito em vasos de barro, é graça. Assim, para usar a inevitável analogia, existem outras riquezas e outras pobrezas.  E de fato, nossa guerra não é contra um mal chamado dinheiro, mas um mal chamado pecado.  E parafraseando Francis Schaeffer: tudo é espiritual, exceto o pecado.

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Igor Miguel
27 de mai. de 2014 | By: @igorpensar

Patrimônio dos Pobres

"Tudo quanto a Igreja possui, seja em propriedade, seja em dinheiro, é patrimônio dos pobres. E assim freqüentemente ali é entoada esta cantilena aos bispos e diáconos: que se lembrem que estão a manejar não valores próprios, mas os destinados à necessidade dos pobres; valores que, se de má fé são suprimidos ou dilapidados, se constituem réus de sangue. Daí serem admoestados a que, com sumo tremor e reverência, como à vista de Deus, os distribuam, sem acepção de pessoas, àqueles a quem se devem. Daqui também aquelas sérias reiterações em Crisóstomo, Ambrósio, Agostinho e outros bispos como eles com as quais diante do povo asseveram sua integridade." (João Calvino, em Institutas, Livro IV, Capítulo XIII).
20 de mai. de 2014 | By: @igorpensar

Missão Integral & Entrevista

Compartilho a excelente entrevista dada ao programa Academia em Debate da TV Mackenzie. E logo abaixo, ponderações pessoais a respeito do conteúdo da entrevista.




Missão Integral: ponderações à entrevista de
Jonas Madureira e Filipe Fontes1

Por Igor Miguel2


Acabei de assistir a entrevista do mano e Prof. Jonas Madureira e o Prof. Filipe Fontes disponível neste endereço https://www.youtube.com/watch?v=34PPk-sCNhU. Não sou nenhum especialista em temas teológicos. Como digo, da teologia deleito-me com o que julgo ser fundamental para minha existência e fé em Cristo. Sou obrigado como cristão a dar razão para minha fé e missão. Logo, minha posição aqui é passível de inúmeras objeções ou contra-argumentos, e estou aberto a elas.

Lembrando que Jonas é um amigo de fé e jornada, e sou admirador de seus textos e falas, aprendo muito com ele. Ele sabe disso. Quanto ao Filipe, não o conheço, mas gostei de sua participação na entrevista. De qualquer forma, considerem meus apontamentos aqui fruto de um interesse profundo de aprendizagem mútua. E claro, uma conversa doméstica ao cheiro virtual de um bom café. Sendo assim, trato ideias e não pessoas, até pelo motivo de respeitá-las.

Primeiro, considero a entrevista de boa qualidade. As perguntas levantadas pelo Rev Augustus Nicodemus foram pertinentes e tocaram em aspectos sensíveis no debate a respeito da teologia da missão integral.

Segundo, em geral, a entrevista foi precisa nas objeções apresentadas. Posso dizer que a entrevista é indicadíssima em termos teológicos. Não tenho dúvida de que há uma dependência de ideologias orientadas à esquerda entre os propagadores da teologia da missão integral. Isto a tal ponto, que o termo “missão integral” se tornou, como observado na entrevista, quase um sinônimo de uma espécie de “teologia de esquerda”, ou ainda, uma equivalência evangélica da teologia da libertação. Concordo com a ausência ou falta de clareza metodológicas entre os proponentes da missão integral e que há um certo ufanismo anti-imperialista, traduzido, muitas vezes, em um insistente desejo de elaboração de uma “teologia sul-americana”. Claramente, reproduções, ou no mínimo, reverberações ideológicas revolucionárias.

Além disso, uma objeção forte refere-se à dependência de certa epistemologia sociológica, e seu discurso como interface científica de modo a aproximar uma teologia que lida com questões de natureza social. Eu percebi isso, e não somente eu, que no documento provisório apresentado na recente Consulta do Movimento Lausanne, em Atibaia-SP, havia um tom excessivamente sociológico, quando deveria ser mais teológico. Claro, isto sem desconsiderar as implicações sociológicas da teologia da prosperidade, objeto daquele documento. De qualquer forma, um documento que represente o posicionamento da igreja evangélica brasileira deveria ser elaborado a partir da gramática da igreja, que é fundamentalmente teológica.

Chamo a atenção para o cuidado dos entrevistados em afirmar que há algo aí que a teologia da missão integral detectou que é legítimo, e que em geral, evangelicais históricos e ortodoxos, ignoram. O problema da pobreza deve ser tratado por cristãos de alguma forma. Claro, os encontros de Lausanne eram pra lidar com os rumos da missão no mundo moderno e globalizado, o que implicava também, em certa complexidade missiológica. O mundo tornou-se deveras multifacetado, obviamente, os desafios missionários tornaram-se igualmente complexos. Logo, isto exigia uma definição geral dos rumos da Grande Comissão, principalmente ante os novos desafios, o que incluiria o problema da pobreza.

Também percebo no discurso da teologia da missão integral a busca por um apoio em Lausanne, que não considera seriamente todas as implicações de um “Cristo todo, para o homem todo”. E, ironicamente, às vezes o que é chamado de missão integral acaba sendo uma missão reducionista. Pois ao reconhecer a necessidade de uma missão abrangente, acaba por concentrá-la apenas à dimensão social, o que pode ser mais uma evidência da influência da sociologia materialista histórica. Os entrevistados chamaram a atenção para esta fraqueza.

Agora, minhas observações. Bem, reconheço que a adoção de uma distinção entre missão e evangelismo é consistente. Bom lembrar que o termo “missão” foi elaborado historicamente para descrever aquilo que Deus confiou à Igreja e aos cristãos como tarefa a ser cumprida. Um termo exógeno à revelação que sintetiza uma verdade escriturística: o cristão e a igreja têm uma tarefa a cumprir. Entretanto, sou favorável a uma percepção mais abrangente (não digo em importância, mas em aspectos) do termo “missão”. Guilherme de Carvalho (2009) defende esta distinção também, a missão é abrangente, inclui tudo aquilo que Deus comissionou o novo homem recriado em Cristo e que vive sob seu senhorio: o que abrangeria os mandatos criacionais (religioso, cultural e social), e claro, o anúncio do Evangelho.

Não vou aqui repetir, o que todos deveriam ler: a genealogia da evolução teológica de Lausanne já elaborada e publicada em português, bem como uma proposta teológica alternativa e reformada ao predominante e enviesado discurso da missão integral (ibid., 2009). Não vi ninguém fazendo uma séria objeção ao que me refiro aqui, considerem seriamente os textos mencionados.

Mas, enfim, nesses artigos, o autor demonstra que a evolução do debate sobre a relação evangelismo e ação social passou por várias propostas: desde umas mais fundamentalistas, que insistiam em uma clara distinção, quase que ignorando totalmente o cuidado cristão com os mais pobres; até aqueles em um espectro mais à esquerda (com alguma aproximação de uma teologia mais liberal), que quase fundia o sentido de Evangelho com cuidado com os pobres. O que ao norte seria imediatamente associado ao que é chamado de Evangelho Social.

Por fim há os que preferem um posicionamento mais sóbrio. O que significaria que a missão cristã é abrangente e deve ter em seu escopo o evangelismo. O evangelismo não deveria ser confundido com ação social, mas esta também não deveria ser colocada em tensão com aquela. Antes, deveriam ser concomitantes. Afinal, a fé deve ser acompanhada de obras. O anúncio não deveria estar desassociado do testemunho. Timothy Keller (2013) também trata esta questão de forma bem simples, mas com uma precisão magistral: “o evangelho produz interesse pelo pobre e as obras de justiça dão credibilidade à pregação do evangelho. Em outras palavras, justificação pela fé nos leva a fazer justiça, e fazer justiça leva muitos a buscar a justificação pela fé.” (p.142).

Na entrevista, parece que não ficou clara esta distinção. De qualquer forma, alegar que a única tarefa da igreja, ou seja, sua missão, é exclusivamente “evangelística”, seria ignorar textos bíblicos sérios. Como, por exemplo, aqueles que dizem que Deus tem remido para si um povo “zeloso e de boas obras” (Tt 2:14); que Deus nos criou em Cristo para “boas obras” (Ef 2:10); que as obras do discípulo fazem os homens glorificar a Deus, como ensinado por Jesus no Sermão da Montanha (Mt 5:16); e finalmente, a conhecida exortação de Tiago a respeito das obras como evidências da fé.

Quando se fala de obras, fala-se de todo mandato adâmico que fora reconstituído na nova humanidade que emerge de Jesus. Temos que cultivar um jardim para a glória de Deus. E isto inclui, apesar de não exclusivamente, o cuidado com o mais vulnerável, como nos ensinou Jesus por meio da parábola do bom samaritano.

No que tange a nossa tradição reformada, esta ênfase abrangente da tarefa cristã, é claramente reconhecida no “amor ao próximo”. Claro que o melhor que podemos oferecer aos homens é a boa-nova, mas ela não deveria ser concorrente ou ameaçadora em relação a outras tarefas implicadas na missão cristã. Que como disse, sou favorável a uma concepção lato sensu.

Assim, repito, deveríamos reconhecer que a missão é integral sim, independente do termo estar deveras intrincado com teologias ideologicamente enviesadas, ainda assim, deveríamos considerar o sentido do termo. Uma missão integral é a tarefa cristã que reconhece que não há dimensão neutra da existência humana. Reduzir a missão à dimensão da justiça social, seria contradizer a natureza integral da missão. Ela toca nesta dimensão, mas também, opera na academia, na ciência, na política, nas artes e em todas estas esferas.

Se reconhecemos que a missão cristã é integral, o fazemos por considerar que Cristo reina integralmente. Se o senhorio de Cristo é o que orienta nossa missão, é bom mencionar que temos subsídio em nossa tradição, em particular a reformada, para uma missiologia integral. Refiro-me, em particular, ao que encontramos em Abraham Kuyper, ou no que chamamos de neocalvinismo. Mas, isto seria outra conversa. Aos mais corajosos, deixo a indicação dos textos: A Missão Integral na Encruzilhada: reconsiderando a tensão no pensamento teológico de Lausanne e O Senhorio de Cristo e a Missão da Igreja na Cultura: a ideia de soberania e sua aplicação (Carvalho, 2009). Pois estou longe de ser o primeiro a defender uma tese missiológica neste sentido.


REFERÊNCIAS

CARVALHO, Guilherme de. A Missão Integral na Encruzilhada: reconsiderando a tensão no pensamento teológico de Lausanne e O Senhorio de Cristo e a Missão da Igreja na Cultura: a ideia de soberania e sua aplicação In.: RAMOS, Leonardo. CAMARGO, Marcel. AMORIM, Rodolfo. Fé Cristã e Cultura Contemporânea: cosmovisão cirstã, igreja local e transformação integral. Viçosa: Ultimato, 2009. p.11-95.

KELLER, Timothy. Justiça Generosa: a graça de Deus e a justiça social. São Paulo: Vida Nova, 2013.

1 Fiz um breve comentário no mural do Facebook do amigo Paulo Dib a respeito do vídeo. Jonas considerou minhas ponderações sinteticamente lá publicadas. Agradeço pela concordância com os pontos lá levantados. Este texto é uma versão expandida.

18 de mai. de 2014 | By: @igorpensar

Cristãos são Alegres

Por Igor Miguel

Como pode uma fé que ostenta cruzes e um crucificado ser uma religião alegre? Seus heróis morreram em arenas ou em missões. Como pode? Estão sendo crucificados na Síria, e vocês se alegram? O mundo está secularizando. Os anarquistas tomam as manifestações nas ruas. E cristãos alienam-se com o quê?

Sim, cristãos são alegres. Pelo menos em minhas andanças e mesmo em minha comunidade local estou para ver povo mais feliz. E não me refiro àquela alegria performática predominante nos grandes eventos de louvor e adoração.  Mas ao sorriso espontâneo que emerge do partir do pão, do serviço ao vulnerável, da iluminação constante que emerge da leitura das Escrituras e da reunião ao redor da verdade evangélica. Sim é fato que há cristãos tristes.  Vive-se um tempo sombrio de fé arrefecida, de enfraquecimento dos vínculos comunitários, de inúmeras decepções e de incontáveis conversões inautênticas.  Há templos repletos de não-cristãos que pararam em uma igreja evangélica levados por movimentos proselitistas, mas que nunca foram expostos ao Evangelho de Jesus Cristo.  Ainda assim, um olhar mais disposto verá o que estou defendendo: há cristãos alegres.

Por outro lado, pode parecer uma alegria mórbida, alguns julgarão, até mesmo um tipo de entorpecimento para ressignificar o fardo da existência.  Há quem diga que cristãos trocam alucinógenos por experiências religiosas;  acho que em alguns casos isto até ocorra mesmo. Mas existe uma alegria autêntica aí, e precisamos discernir sua fonte.

Me refiro àquela alegria sóbria, grata e educada no amor de Deus. Alegria que se associa a uma esperança inabalável na vitória de Jesus.  Em Confissões, Santo Agostinho menciona como ele um dia foi assaltado por rubor e alegria quando iluminado com a realidade de Cristo e sua salvação.  Algo semelhante ao que John Wesley descreveu como sendo um 'estranho abrasamento do coração'. Claro que há um abuso e exagero a respeito de experiências emocionalistas, compartilho da maioria das críticas neste sentido, entretanto, há uma dimensão em que a graça atinge nossos afetos. Penso em uma convicção que “penetra nos afetos mais íntimos”, João Calvino observou:

"Pois este [o evangelho] não é doutrina de língua, mas de vida, e não se aprende unicamente com o intelecto e a memória, como as outras disciplinas, mas, quando recebida, possui afinal toda alma e encontra sede e receptáculo no mais profundo do coração. [...] Concedemos prioridade à doutrina em que se apoia nossa religião, visto que dela advém nossa salvação. Entretanto, é necessário que a doutrina penetre em nosso peito e chegue a nossos costumes, e de tal modo nos transforme que não nos seja infrutífera. [...] Evangelho cuja eficácia deveria penetrar nos afetos mais íntimos do coração, cem vezes mais do que as frias advertências dos filósofos, e assentar-se na alma e afetar o homem em sua totalidade." (Institutas, Livro III, cap. VI, 4.)

Sim, me refiro a afetos atingidos graciosamente pela doutrina cristã, isto que nasce de uma iluminação oriunda da interação entre o cristão, o Espírito Santo e as Escrituras. Calvino insiste nisso em vários momentos de sua obra:  mentes e corações precisam ser iluminados, do contrário, ninguém crerá em Cristo. Esta é uma obra do Espírito de Deus.

Quando somos iluminados pela graça, e assim, reconhecemos que a verdade se fez carne em Jesus Cristo, e finalmente, somos informados misteriosamente da veracidade de sua morte e ressurreição, não nos resta outra coisa, senão, a mais doce esperança.  Ela nos afeta por inteiro, nos alegra. Por esta razão o apóstolo Paulo foi claro: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” (Rm 14:17).

Então, insisto: cristãos são alegres. Cristãos estão ancorados no triunfo de Jesus sobre a morte. Não andam enebriados de utopias, mas também não são apáticos e fatalistas, é gente esperançosa. Paulo encontrou algo desta natureza entre os cristãos da antiga igreja macedônia: “Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia; porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade.” (II Co 8:1-2).  A base da alegria desta comunidade cristã de centenas de anos atrás nos serve de exemplo. Sua alegria não era circunstancial, pois apesar de sua pobreza e tribulação, ainda assim, se alegrava e era generosa.

Muita da falta de alegria e esgotamento espiritual que alguns cristãos alegam experimentar, e eventualmente todos nós somos atingidos por isso, não tem origem de coisas reais, mas são, em algum sentido, desilusões providenciais.  Literalmente, ilusões que são desfeitas para alavancar a fé destes peregrinos ao que é real.  A realidade do cristão concentra-se na morte e ressurreição do Salvador.  Sua existência situa-se em uma “Pedra Angular”, e não em expectativas religiosas infantis, como se sua alegria depende-se da transitoriedade do sofrimento.  Há uma graça que vem do Jesus Ressuscitado que anima o coração.  A alegria que, por algum motivo, alguns perderam, mas que pode ser recuperada, como na oração de Davi: “Restitui-me a alegria de tua salvação.” (Sl 51:12).

Enfim, lembre-se que mesmo em um mundo onde há pressão e uma atmosfera de cinismo e apatia, mesmo tentado ao abatimento e às lágrimas, o cristão tem esperança que Cristo fez nova todas as coisas. O cristão é informado pelo Espírito Santo, a partir das Escrituras, que ele está reconciliado com Deus por meio de Jesus.  E assim, ele pode se alegrar por tão grande salvação.  Definitivamente, cristãos são alegres!
16 de mai. de 2014 | By: @igorpensar

Curtíssima: a cruz e ação política

Tem uma dimensão política na cruz que é uma antítese a muita forma de se agir politicamente. A cruz é uma passividade ativa. Não é inércia, é de uma reatividade silenciosa. O crucificado não é um agente revolucionário, cuja plataforma é a violência militante. Ao contrário, os poderes o estão violentando na cruz. Todos os poderes temporais e espirituais estão despedaçando sua carne na cruz.

A violência que incidiu sobre Cristo é o que todas as pessoas querem fazer com Deus. Quando violento o outro, violo uma alusão ao Criador. No horizonte da experiência temporal, o ser humano é o que temos de mais próximo de Deus. Com a encarnação do Verbo, isto se radicaliza, o próprio Deus está entre nós em Cristo. Neste momento, nossas pulsões deicidas vão à última potência e massacramos o filho de Deus com requintes de crueldade.

Quem venceu? O crucificado venceu! Pois em sua aparente passividade, que em nada correspondia às expectativas revolucionárias dos zelotes, triunfava sobre seus algozes. Assim, tomava a chave da morte e do inferno. Triunfava sobre os que alegavam ter poder sobre a vida e a morte (característica do império romano). Não era uma revolução, era juízo e redenção. Deus estava vencendo e amando seus inimigos. E é precisamente este triunfo do amor que deveria estar no centro de nossas ações políticas.
12 de mai. de 2014 | By: @igorpensar

O Alienista e a Alienação

Por Igor Miguel


Foi veiculado pela impressa televisiva e eletrônica, o recente projeto de elaboração de uma versão mais "fácil" da obra "O Alienista" de Machado de Assis. O projeto aprovado será financiado com fundos públicos de incentivo à cultura. A proposta é tornar acessível obras clássicas da literatura brasileira. A começar, por esta obra deliciosa de Machado.

A polêmica se polariza entre progressistas que são favoráveis à adaptação e conservadores que são favoráveis ao formato clássico da obra.  Bem, minha opinião vai mais pro espectro conservador. E digo os motivos educacionais de meu favorecimento a este posicionamento mais do que àquele.

As objeções de pedagogias mais progressistas irão no sentido de que a postura conservadora inclina-se a um tipo de elitismo excludente. Mas prefiro um posicionamento mais cirúrgico: o que é excludente neste país é uma pedagogia que não desafia, mas se simplifica baseado no argumento de inclusão de classes menos favorecidas. E isto acontece necessariamente porque ao invés de "puxarmos" os que estão em níveis de aprendizagem menos favoráveis, reduzimos a qualidade do ensino, alegando fins sociais inclusivos.

Nesse ponto, recorro ao psicólogo da educação Reuven Feuerstein que defende a tese de que inclusão não é necessariamente a que aceita ou se conforma com a estrutura cognitiva do educando. Mas, que em um tom de inconformismo, propõe desafios cognitivos que criam instabilidades, uma desarranjo estrutural, pois aprendizagem só acontece em tais situações (retomo a tese de Piaget de acomodação e assimilação). Logo, em algum sentido, não aceitamos nossos alunos como estão, queremos que cresçam, que se desenvolvam e tenham seu repertório simbólico enriquecido. Claro que existe aí um princípio da psicologia mediacional que sou favorável: o processo formativo de um aluno não pode ser tão desafiador a ponto de frustrar o aluno e nem tão fácil a ponto de enrijecê-lo. A ideia é criar uma liminaridade didática que o aluno consiga dar saltos viáveis em um processo de enriquecimento explorando a plasticidade de sua capacidade de aprendizagem. 

Baseado nesta postura de "aprendizagem baseada no desafio" que os educadores e a educação deveriam viabilizar o fornecimento de pré-requisitos simbólicos, ampliação do repertório linguístico e um bom programa de educação cognitiva (desenvolver a capacidade de pensar), e assim, possibilitar a leitura de obras da altura de Machado de Assis, em seu texto original.

Neste ponto, chegamos a uma falácia pedagógica muito recorrente em nossas escolas públicas, aquela que sustenta a inclusão como mera facilitação ou infantilização das interfaces pedagógicas. Ao contrário, uma educação inclusiva é aquela que amplia o universo do estudante, promove competências intelectuais e fornece ferramentas cognitivas, e neste caso, interpretativas, para que ele possa ter acesso ao que já existe. E não, adaptar a cultura às limitações que aí estão por falta de educação básica de qualidade.

Não vou nem chegar nas perdas inerentes a uma adaptação literária. Que qualquer um que lida com traduções ou versões reconhece.

Então fica aí o desafio: o que precisamos não é o empobrecimento de nosso patrimônio cultural, mas o enriquecimento da capacidade intelectual de nossos alunos. Mas, sabe como é, isto demandaria alta qualificação docente e da própria dinâmica escolar. Isto implicaria em uma radical reforma educacional. Fica aí o desafio.
8 de mai. de 2014 | By: @igorpensar

Cristianismo Público [entrevista - vídeo]

Uma entrevista para o Movimento Mosaico em Goiânia, sobre a vocação pública do cristianismo.



Nota: Só peço desculpas ao L'Abri Brasil pela pequena confusão nos créditos. (Pastor do L'Abri), foi uma pequena desinformação dos editores. Como sempre digo, sou apenas uma amigo e professor voluntário da Escola do L'Abri, como amo este ministério e divulgo sempre suas atividades, acaba rolando esta associação. Me sinto honrado, claro, mas é bom esclarecer que não sou obreiro do L'Abri.