20 de fev. de 2013 | By: @igorpensar

Evangélicos, mas Católicos




A fé protestante não é um projeto que procurou revolucionar o cristianismo histórico, como se poderia imaginar.  A reforma não é uma quebra de paradigmas necessariamente.  A intenção dos reformadores era retomar exatamente aqueles elementos mais católicos, dos quais o cristianismo medieval, em geral, havia se afastado.

Evangélicos, em geral, tem dificuldades com o termo "católico" como se ele significasse o "catolicismo romano", mas a expressão grega é traduzida simplesmente como "universal".  Ser um cristão católico é ser alguém que crê numa fé universal, acumulada historicamente, comum a toda cristandade.  Entretanto, é fundamental reconhecer que não somos inventores de nada, mas cristãos que se firmam naquilo que há de mais "católico" (universal) em nossa fé: Jesus Cristo.  Claro, que existem outros elementos aí presentes, como a Trindade, o Evangelho da graça, o sola scriptura, a tradição e a confessionalidade, que são também, desdobramentos de nossa catolicidade.
Não é suficiente sermos cristãos reformados e evangélicos, temos que ser mais católicos (universais), no sentido literal do termo.

Esta é uma ministração em áudio com 58 minutos de duração, gravada nas instalações da Igreja Esperança em Belo Horizonte, por ocasião do Dia da Reforma Protestante em outubro de 2012.  Seu tema é:  Evangelicidade e Catolicidade.

Escute, medite e compartilhe com outros irmãos que anseiam por esta fé cristã universal.
15 de fev. de 2013 | By: @igorpensar

Rasguemos a Bíblia? Hã?

Prezados leitores,

Achei um texto no blog da Ana Clara Cabral, filha do Elienai Cabral Jr. brincando com fogo, ou melhor, com a Bíblia.  Refiro-me ao texto intitulado "Rasguemos a Bíblia!" da supracitada autora.

Pois é, pelo título, imagina-se as sandices escritas por causa de expressões cada vez mais "generosas" de cristianismo que encontramos por aí.  Sei que pessoas sofrem abusos, exclusões e julgamentos desproporcionais em nome de uma "fé" legalista e deseducada.  Mas, não é relativizando valores caros para a fé cristã que nos tornaremos mais tolerantes. 

Na verdade, o cristianismo é "intolerante" em algum sentido.  Não toleramos, por exemplo, o pecado.  Isso pode parecer meio hipócrita né?  Mas, não é não, pense direito!  Não toleramos o pecado que reside em nós, em primeira instância, e em nenhum outro ser-humano.  Não suportamos a antropologia de Jacques Rousseau que nascemos todos "bonzinhos", "legaizinhos" ou quase anjos.  Acreditamos na verdade de São Paulo, Agostinho, Lutero e Calvino, que somos todos pecadores, e somos por natureza filhos da ira, não obstante termos sido criados para sermos imagem de Deus. 

A questão é que a denúncia cristã a respeito do pecado não é um julgamento de fariseus hipócritas jogando pedras nos de fora, mas uma denúncia doméstica com fins universais.  Conhecer a Deus, envolve, concomitantemente conhecer a nós mesmo, já dizia o reformador genebrino.  Sendo assim, o que afirmamos é que a condição do gay não é diferente da nossa, eles não tem nenhum privilégio por serem "socialmente excluído".  Cristãos são contra a opressão e a injustiça, mas a opressão e a exclusão social de gays, lésbicas e transgêneros não os santifica, não os coloca de fora da denúncia cristã.  São pecadores, como nós cristãos.  A única exceção, neste caso, é que a "ficha caiu" pra nós, admitimos isto, e corremos pra cruz de Cristo por esta razão.  E convidamos a todos os homens a admitirem a mesma coisa: vocês não são bonzinhos!

Pois bem, fiz um comentário ao texto da Ana por lá, provavelmente será publicado, cito:

Ana Clara,

Li seu texto, teria muita coisa para escrever, dizer e me posicionar.  Mas, respeito seu direito de opinar publicamente, como espero, pelo bem da verdade que o cristianismo nos legou, que tenhamos um pouco de bom senso.  Acho muito cliché e sem bom gosto este lance de relativizar cristianismo para sermos "tolerantes" e “intelectualmente” relevantes.  O cristianismo sempre foi conhecido pelo amor ao pecador, e tinham como expressão máxima deste amor, a denúncia pública do pecado (Jesus não foi tolerante aos pecados de idolatria, corrupção moral, hipocrisia religiosa etc), e o anúncio da boa-nova que acolhe a todos.  Somos todos iguais, preste atenção nisso, somos todos iguais, mas iguais em nossa corrupção, em nossa insistência em sempre fazermos o que é errado.  Vivemos esta tensão de sermos “imagens de Deus”, porém, deformados pela trinca do pecado.  Somos inimigos de Deus, todos nós, gays, trans, héteros, homossexuais e nós cristãos.  A denúncia cristã não é que o homossexual é diferente de nós, exatamente o contrário, eles são exatamente como nós, dignos da mesma exortação que nos levou aos pés da cruz.  O convite cristão é para que se arrependam, como nós o fizemos ou fazemos.  Sinto muito, mas acho que seu texto está curvado diante das pressões culturais da pós-modernidade, você acha “cult” relativizar (rasgar) a Bíblia.  Acha fundamentalista a afirmação politicamente incorreta de uma Verdade.  Agora, sejamos minimamente honestos, e se a Bíblia estiver certa?  Sabe, o cristianismo não é uma religião de crédulos em qualquer besteira, mas céticos quanto a tudo que a cultura discursa.  Não acreditamos em tudo, acreditamos em Deus.  O mundo moderno acredita em tudo, menos em Deus.  Cristãos são céticos de mais, moderninhos são excessivamente crédulos.  E seu Deus nos fez como bonecos do barro? Qual é o problema?  Isto fere sua dignidade?  Desculpe, mas Rousseau estava errado, e Agostinho acertou, somos e nascemos pecadores, todos, indistintamente.  Poema ou história, somos, de fato, algo muito próximo do barro.

É isso aí...

Igor Miguel
4 de fev. de 2013 | By: @igorpensar

Les Misérables

Por Igor Miguel

Previsível.  Após grandes tragédias a questão do problema do mal é mais uma vez reerguida e  respondida.  Cristãos dos mais diversos seguimentos, espíritas, testemunhas de jeová, judeus e muçulmanos, emitem sua opinião sobre a questão.   Porém, não é esta minha previsível previsão.  Ela se dirige à seguinte equação:

desastres => explicações espiritualizantes => reação anti-religiosa

Pois é, houve uma enxurrada de evangélicos neo-pentecostais dando explicações de causa e efeito sobre o que aconteceu no fatídico evento em Santa Maria - RS.   Os comentários vão desde "julgamento divino", e como sempre, pseudo-relatos de que "satanás armou um laço de morte" e "mimimi".  Nada diferente de quando ocorreu o grande terremoto no Haiti:  um punhado de crente deseducado, dentre eles os "apóstolos" (e não-crentes também), afirmando ter sido o evento um tipo de julgamento por causa da prática de vudu entre haitianos.  Escrevi sobre isto na ocasião.

Diante da espiritualização de alguns, prevendo a reação não menos infantil de anti-religiosos que adoram este tipo de comentário, lancei a seguinte frase no Twitter para os crentes:


Claro que minha frase foi postada na esperança de ver alguns crentes despertarem de seu limbo espiritualizante, e assim, tomarem os devidos cuidados com a "falação".  Pensei: quem sabe alguns acabam se lembrando que a Bíblia fala de um Deus que é soberano sobre a vida e a morte.  E assim, esperava, largassem esse maniqueísmo de dois poderes equivalentes: Deus e o Diabo.  Pura ingenuidade minha.

Um mega-parênteses para ilustrar a concepção de alguns dos arautos destas sandices:

Após a matéria da Forbes sobre os "pastores/bispos/apóstolos" multimilionários, fiz questão de enviar um Twitter para alguns dos mencionados na matéria:


Não esperava nenhuma resposta, obviamente, mas não é que o Hernandes me respondeu?  Previsivelmente, a resposta dele foi bem dentro do esquema maniqueísta que me referi acima:



Cito este caso apenas para demonstrar como este pessoal faz: se fascinam pelo poder e o dinheiro, esquecem de erguer a cruz de Cristo, e depois me veem com estas chorumelas.   E ainda piram quando a mídia não-cristã abre a tumba e mostra como são "sepulcros caiados".  Claro que aí vale novamente o uso do inferno e do Diabo como dispositivos retóricos.  Ouvi que o Diabo é o Diabo de Deus, dizem ser esta frase de Lutero, pois é, mas para alguns, as coisas parecem uma grande partida de futebol, onde há onze jogadores de cada lado.  O que mostra mais uma vez a deseducação que acomete alguns dos que se identificam como cristãos evangélicos, e como alguns "pastores", como o autor da pérola aí cima, se valem da ignorância para se legitimarem.

Bem, agora que já tratei dos problemas domésticos.  Vou tratar um pouco dos problemas públicos.  Voltemos agora ao final da equação.

Pois é, a reação anti-religiosa foi imediata, também pudera, muitas abobrinhas circularam pela rede.    Foi publicada uma matéria de Cora Ronái no site O Globo no dia 31/01 com o título "Os Miseráveis", onde presumia este mero leitor, encontrar as impressões da autora sobre a atual produção para o cinema do clássico Les Misérables de Victor Hugo.  Entretanto, o que encontrei, foi um comentário deslocado quanto a proposta do artigo logo na introdução, quase em tom de desabafo.  Transcrevo:

Não aguento mais a estupidez e a ignorância dos fundamentalistas religiosos — de qualquer credo. Sou de um tempo em que religião era questão de foro íntimo: quem tinha tinha, mas não ficava exibindo em público, como medalha por bom comportamento. Não suporto mais ler caixas de comentários que, por qualquer motivo, viram latrinas imundas, cheias de brados louvaminheiros e palavras de acusação, transbordando um orgulho podre. Sim, porque é disso, afinal, que se trata: todos os que brandem a religião como se fosse a bandeira de um time se julgam superiores aos demais. Tenho horror dos que, em nome do “amor” entre aspas, semeiam o ódio mais visceral; me repugnam os que falam em nome de Deus — qualquer que seja ele — como se fossem seus legítimos porta-vozes. As notícias na internet sobre a tragédia de Santa Maria estão cheias de comentários absurdos, que condenam os jovens por se divertirem e lhes negam o Reino dos Céus. Que pessoas horrendas são essas que têm coragem de culpar as vítimas?! Que talibãs cristãos, que escória, que sarandalha desprezível.
_________
Pronto. Agora que desabafei, podemos ir em frente.

Sem comentar a indelicadeza com o leitor que espera ler uma coisa e encontra outra, tive que ler o texto em questão, pois o tema "religião" é de minha alçada.  Me senti um pouco incomodado com o tom generalizante e impreciso, mas há várias vozes reproduzidas aí, então vamos "brincar" com um pouco de apologética?

Primeiro, mandei o seguinte Twitter para ela:

Obtive a seguinte resposta:


Depois tentei um tréplica, e não obtive resposta (previsível também).  Mas, vamos lá.

Primeiro, acho que concordamos sobre a absurdidade desta turma que se aproveitou do evento de Santa Maria para expor sua concepção distorcida de cristianismo.  Concordo.  Mas, a moça deu algumas pisadas de bola que precisam ser tratadas.

Ela insinua que religião é de "foro íntimo", mas contraditoriamente, emite publicamente sua opinião sobre religião.  Uma prova que religião afeta publicamente a todos, mesmo os anti-religiosos (que não sei ser o caso da jornalista).

Religião NÃO é uma questão de foro íntimo, e a tentativa iluminista de segregar a vida religiosa à esfera privada fracassou, basta olhar para ver como a religião, política, psicologia, economia e por aí vai se intrincam.  Por esta razão, a religião é objeto de pesquisas acadêmicas, inclusive digna de uma "ciência da religião" para seu estudo.  Então, acho que a moça ficou emocionalmente afetada pela "opinião pública", e "publicamente" disse que religião não pode ser "pública".   Estranho não?

A resposta dela foi evasiva e não corresponde ao conteúdo do texto de O Globo onde critica diretamente as manifestações públicas idiotas, das quais também discordo, a respeito do evento em Santa Maria.  Penso que religião, cultura, futebol, política e questões de gênero, devem estar na arena pública, na ágora, nas praças, na web, e não devem ser privadas da crítica, nem pelos recursos legais, nem por nenhum discurso secularizante.

Talibãs cristãos... hum.  Veja bem, o uso do termo "talibã" aí refere-se a ideia geral de "fundamentalista", acho que fundamentalismo é um problema, apesar do uso indiscriminado do termo.  Entretanto, associar "fundamentalismo" com expressão pública de religiosidade é impreciso, se não foi esta a intenção, acabou ficando assim.

Todos os seres humanos operam a partir de tradições e visões de mundo diferentes.  E, obviamente, não dá para ser relativo, dá para ser dialógico, mas não relativista.  A agenda progressista não está disposta a abrir mão de sua agenda, mesmo amparada pelo mito do progresso, luta de classe e outros.  Ninguém acorda de manhã sem uma crença mínima sobre o sentido da vida, uma meta de realização, e se forem alienados, pode ter certeza, alguém com crenças bem firmes está pensando nisto e vendendo.  Nem que seja em forma de carro ou uma viagem para Punta Cana.

Finalmente, quero deixar claro que a falação "neopentecostalogospel" é pobre, espiritualizante, proselitista, anti-bíblica e alguns adjetivos a mais.  Mas não menos pobre e sentimentalista do que o "prefácio desconexo" dos miseráveis.  Não é só a neutralidade científica que é um mito, a neutralidade religiosa também.