Como minha ida ao evento na
Congregação Shear Yaakov em São Paulo, como anunciado no site
Yeshua Chai anda repercutindo entre os líderes do Ministério Ensinando de Sião e simpatizantes, vou deixar claro aqui no meu blog os seguinte termos:
Em
nenhum lugar neste site vocês encontrarão que me oponho ao judaísmo-messiânico como espaço culturalmente apropriado para judeus autênticos expressarem sua fé no Messias Jesus. Ao contrário, minha luta é contra o falso judaísmo-messiânico ou a distorção travestida de judaísmo messiânico que assumiu uma forma híbrida em território brasileiro. Me refiro ao restauracionismo, que é uma outra coisa, que pretende indiretamente descredibilizar o cristianismo, suas raízes históricas, produzindo uma sensação de desenraizamento entre cristãos. Para isto basta ler texto já publicados
aqui e
aqui.
Gentios cristãos quando em crise com sua fé, em termos históricos e espirituais, e quando desconhecem sua própria história e o evangelho mesmo, tornam-se suscetíveis e tentados a se tornarem judeus, entrando em uma busca frenética por "genealogia", "ancestralidade" ou coisas do gênero. Quando não conseguem encontrar nenhuma ancestralidade ou não inventam traços de judaicidade, entram de cabeça em propostas teológicas que asseveram que um não-judeu ao "guardar a Torá" ou "observar práticas judaicas" será abençoado etc.
Meu conhecimento do movimento, inclusive entre seus pioneiros, me leva a ver outra coisa: o judaísmo-messiânico jamais pretendeu trazer algum tipo de complicação ao cristianismo. Como vejo alguns
intelectuais do movimento asseverando. O que querem estes reais e raros judeus-messiânicos, repito, é apenas um espaço no Corpo de Cristo para viverem sua fé e cultura (ponto). Agora, engajar-se em uma agenda de "restauração da Igreja do I século", como se "restaurar raízes judaicas da fé cristã" fosse um grande objetivo do movimento é uma contradição, inclusive ao
"statements" das grandes uniões (UMJC) e similares.
A grande verdade é que ser judeu é: ser filho de mãe judia. Em alguns casos, tolera-se o filho de pai judeu. Ou seja, a memória transmitida e a legitimidade comunitária é o que determina identidade judaica. Mas, poucos judeus crentes em Jesus no Brasil gozam desta ancestralidade. Logo, o desconforto e a tensão, inclusive experimentada por aqueles que encabeçam o restauracionismo no Brasil, quando não arrumam um teologia para fundamentar suas escolhas (como fazem os chamados "nazarenos" ou os da teologia "efraimita"), valem-se do fenômeno "marrano" ou do "criptojudaísmo", para sustentarem uma judaicidade simplesmente questionável, alegando um suposto apoio ou interesse de Israel a respeito do marranismo.
Ora, qualquer pessoa que acompanha o fenômeno, sabe, que não há meios de se comprovar judaicidade destes marranos, pelo simples motivo de terem, se tiverem mesmo, uma precária memória oral, sem qualquer testemunho documental. Logo, o único "tira dúvidas" nestes casos, seria a conversão formal ao judaísmo, como tem sido o tratamento até o momento por parte de algumas iniciativas judaico-ortodoxas. E se uma pessoa que diz ter Jesus Cristo como seu Senhor, entende a doutrina paulina da adoção, entende a obra magnífica de Deus ter introduzido pecadores na santidade de Deus por meio do sacerdócio de Jesus, ainda dedica tempo, energia, esforço e entra e uma busca frenética ad infinitum por legitimidade até estes termos, sinto muito, está devotando-se a um ídolo. Enquanto, nós cristãos simplesmente dedicamos energia, para comunicar Cristo nas periferias, em países não alcançados, em nossa vida profissional, para testemunhar e viver Jesus, estes vivem dia-a-dia, só pensando em serem autenticamente judeus perante a comunidade judaica, que ainda simplesmente os vê como não-judeus e ponto.
Outro ponto importante, insistem em afirmar que eu disse que é necessário crer em Calvino, Lutero e/ou os pais da Igreja para que alguém seja salvo. Qualquer leitor do meu blog, sabe que jamais diria algo tão ridículo. O que tenho asseverado é que a fé protestante clássica assevera a Escritura como única regra de fé e prática, e isto concordamos todos, entretanto, o cristão precisa considerar seriamente o que nossos irmãos do passado já leram sobre ela. A isto chamamos "tradição". Interessante, que judeus-messiânicos como David Rudolph, um expressivo teólogo do movimento, esteja envolvido com esta redescoberta da herança teológica cristã junto com
outros cristãos nos EUA, que diferença!
A tradição cristã por sua vez não tem autoridade final, e sim as Escrituras, mesmo ela está submetida aos critérios das Escrituras. Como bem observa Alister McGrath em um
excerto que coloquei aqui há alguns dias. Engraçado que, estes citam rabinos judeus não-crentes com toda tranquilidade, Maimônides, Hilel, Elizer Ben Yehuda, Rabi Akiva etc, e ninguém se incomoda. Alegam que cristão guardam tradições de homens, mas praticam uma liturgia, em muitos pontos, igualmente não relatada nas Escrituras, ostentam símbolos rabínicos como
kipá, luzes de shabbat etc etc, sem nenhum desconforto. Veja bem, todas estas tradições são legítimas dentro de uma comunidade autenticamente judaica. Mas, o que me incomoda, é a alegação de aquelas práticas tradicionais, realizadas por cristãos sejam pagãs, indiscriminadamente. Ora, para mim é uma clara afirmação de superioridade cultural, e isto é uma distorção típica de movimentos restauracionistas, desde seus primórdios.
Pelo que me consta, não há nada entre homens como Joseph Rabinowitz, Moshe Ben Meir, Yechiel Tsvi Lichtshtein e outros pioneiros do passado, que o judaísmo messiânico tenha como missão "restaurar o cristianismo" ou levar cristãos a restaurarem suas "raízes judaicas da fé" como algo central para a Igreja Cristã. A fé cristã e apostólica se sustenta unica e exclusivamente em Cristo em no evangelho, como exaustivamente defendo.
Logo, minha objeção teológica e crítica é ao restauracionismo que concentra energia em assuntos completamente estranhos ao judaísmo-messiânico, como o conheço em suas origens e em breve história, quando comparada com a tradição protestante.
Então, digo claramente, não se deve confundir "restauracionismo judaizante" com "judaísmo-messiânico". Mesmo que as grandes instituições do movimento apoiem comunidades ou ministérios que praticam "restauracionismo judaizante", o fazem por seus motivos, que a meu ver são igualmente sujeitos a críticas, os quais dispensam comentários.
De qualquer forma, práticas restauracionistas devem ser duramente criticadas, principalmente em dias em que a fé cristã em território brasileiro caminha para um crescente interesse pela centralidade de Cristo e do evangelho. Que Deus nos ajude a repelir tamanho engano que procura descredibilizar a fé cristã e ofuscar a verdadeira proposta do judaísmo-messiânico.
Por favor, até hoje não vi nenhum tratamento apropriado sobre as coisas que tenho dito e escrito. Vejo, uma apelação espiritualista e sentimentalista, sem nenhum tratamento dos pontos aqui defendidos. Vejamos agora algumas coisas que foram escritas a meu respeito no mural do facebook de Joseph Shulam.
A propósito, a conversa foi completamente removida do mural dele, depois que este texto foi publicado, o arquivo em PDF com a conversa na íntegra pode ser acessado aqui. Abaixo seguem algumas sentenças e minhas réplicas:
"Sr. Igor tem publicamente denunciado todo movimento messiânico, tem falado contra a liderança do movimento messiânico, e pediu às pessoas que não orassem por mim quando estava no hospital em Nova Iorque." (Joseph Shulam)
Não me posicionei contra o movimento messiânico, mas contra o restauracionismo judaizante, que infelizmente se traveste de judaísmo-messiânico. Quanto ao período em que o Shulam esteve no hospital, eu não disse para não orarem por ele, nunca disse isto, ao contrário, eu mesmo orei pela melhora dele, minha esposa é testemunha. Pois Cristo me ensinou a orar por todos indistintamente, meu desconforto com todos deste movimento é apenas de natureza teológica.
"Ele experimentou a Torá de Deus e voltou ao velho vômito, como as Escrituras dizem." (Joseph Shulam)
Vejam bem, observem o que é o evangelho para o sr. Shulam: a Torá. Isto é insustentável, o evangelho é Jesus Cristo, não a Torá. A Torá (lei) mesmo é o "aio" ou "pedagogo" que nos conduziria a Cristo, diz Paulo. Então, o que estes restauracionistas afirmam é que minha atual experiência e vivência com Cristo em uma comunidade cristã, engajada no amor a Deus, junto com toda comunidade cristã, é "vômito", e depois afirmam em seus púlpitos que não se julgam melhores do que ninguém. Eu sempre disse que este discurso era para mascarar as intensões reais deste movimento.
"O que acontece aqui é que alguns querem destruir o trabalho e visão do judaísmo-messiânico e o direito dos judeus para expressar sua fé sem qualquer qualquer rei [coisa] da moderna inquisição protestante." (Matheus Zandona Guimarães)
Como assim destruir? Ao contrário, quero que os judeus crentes vivam legitimamente sua identidade, tanto que vou a uma comunidade judaico-messiânica este final de semana para comungar com aqueles que são legitimamente judeus em Jesus, para asseverar o direito deles viverem como tais, e para desencorajar gentios cristãos a não caírem na tentação de quererem se tornar judeus. Nada que bons judeus messiânicos concordariam. Mas, claro, restauracionistas vão se sentir desconfortados com isto.
"Vocês não podem ignorar esses fatos. Não deveriam jamais colocar em vosso púlpito uma pessoa que fez uma declaração endereçada à 'Igreja' pedindo perdão por fazer parte do Judaísmo Messiânico, e atestando que a aceitação de dogmas como a 'Trindade' e a inflabilidade de líderes protestantes como Calvino e Lutero, são obrigatórios à salvação do discípulo. Não pode colocar em vosso púlpito uma pessoa que se colocou como inimigo da Restauração dos Anussim, um assunto que atualmente ocupa os principais debates acadêmicos e religiosos de ISRAEL e Portugal. É exatamente sobre isso que ele irá palestrar. Sei que há pseudo-judeus por aí e que complicam a vida de todos nós. Também somos contra esses grupos. Porém, colocar esses grupos juntamente com um mover do Eterno como a restauração dos Anussim, é muita insensatez!" (Matheus Zandona Guimarães)
No
documento me retrato (junto com meus irmãos) de ter ido contra a Trindade, por motivos óbvios, quem questiona a plena divindade do Pai, Filho e Espírito Santo, sim deveriam ser vedados de subirem aos púlpitos e não o contrário. Nunca em nenhum lugar alego a "infalibilidade dos reformadores ou dos pais da Igreja", ao contrário eles estão sob o crivo das Escrituras, mas, assim como vocês respeitam o sr. Shulam como alguém de importância para vosso movimento, nós preferimos honrar nossos mestres cristãos do passado, o que não significa irrestrita submissão ou uma leitura acrítica. Esta é uma acusação ridícula e indigna de maiores esclarecimentos.
Não pedi perdão por fazer parte do judaísmo-messiânico, mas por fazer parte de um movimento restauracionista judaizante. Ao contrário, o que alegamos no documento é:
Apesar de tudo que foi mencionado acima, a nossa retratação não se refere nem pretende atingir a legitimidade do judaísmo-messiânico como movimento apropriado para o acolhimento de judeus que reconhecem a Jesus como Messias, Salvador e Senhor, pleno de sua divindade. O judaísmo messiânico em suas principais representações internacionais, como o UMJC (União de Congregações Judaico-Messiânicas - EUA), é ortodoxo em sua confissão, não ferindo os pilares da fé em Cristo. Esse mesmo movimento deixa claro sua discordância com aqueles grupos que pretendem aplicar uniformemente a Torá (lei) a todos, sem compreender as vocações específicas.
Agora, vejam a docilidade e o tom diretamente doutrinário e teológico que nossa posição é tratada:
"Saibam porque líderes de comunidades cirstãs sérias em Brasília, São Paulo, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, dentre outros estados, cortaram definitivamente o relacionamento com ele e sua gangue. " (Matheus Zandona Guimarães)
Curiosamente, com todos os problemas e discordâncias teológicas que tenho com a proposta doutrinária do Ensinando de Sião, jamais ousaria me dirigir a estas pessoas nestes termos. Mesmo, vendo que estão doutrinariamente afastados da centralidade e suficiência do Evangelho, jamais os chamaria de "gangue". Desculpe-me Matheus, mas, eu te perdoo por esta acusação grave. Uma pena que você não consiga tratar as questões aqui da forma apropriada, e faça apelações nestes termos. Mas, não se preocupe, eu o perdoo por isto, Jesus me ensinou isto. Mas, reafirmo, que continuarei não concordando com vários dos pontos ainda sustentados por vocês, vossa ênfase é errada. Hoje, todos nós, que desfrutamos da alegria de um evangelho simples, centrado em Cristo, sabemos como é destrutiva uma teologia que coloca outras coisas como centro, excluindo o evangelho da graça pregado pelos santos apóstolos.
A propósito, se Deus quiser, estaremos na Shear Yaakov, compartilhando nossa trajetória de fé em Cristo. Sinto muito que isto tudo tenha causado tanto transtorno a vocês.
Na graça de Cristo,
Igor
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*Estes trechos foram retirados do mural do facebook do sr. Joseph Shulam. Para acessar a conversa na íntegra (PDF) clique aqui na íntegra.