29 de out. de 2010 | By: @igorpensar
26 de out. de 2010 | By: @igorpensar

Sobrenatural não Existe

Por Igor Miguel

Não sou naturalista, nos termos da física aristotélica, que insiste em tratar as coisas que aí estão como determinadas por leis autônomas, por uma previsibilidade matemática, por uma monotonia auto-determinada. Não creio em natureza, creio em criação. Creio em um Deus que age e opera constantemente no mundo, que decreta por sua palavra cada flor que se abre, o pássaro que cantou perto de minha janela, no beijo que minha esposa me deu, creio em um mundo que é fruto de um verbo constante e eterno. Creio na criação, não como um discurso dos homens, mas como fruto da palavra permanente do Criador:
Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1:3)
Ao negar o natural, nego o sobrenatural. Um sobrenaturalista é um naturalista esporadicamente surpreendido. Quando creio em criação, tudo é fruto de um permanente milagre, tudo é milagroso. Para mim, o pão que chegou em minha mesa é tão milagroso quanto um paralítico que salta de sua cadeira, tudo é dádiva, tudo é digno de gratidão. Um teísta -- como eu -- é aquele que vive em um permanente estado de graça e surpresa, ele se surpreende apenas com o fato de existir, de respirar.

Me assombra ouvir a palavra “sobrenatural” em lábios cristãos, seu uso significa que alguém se dobrou ao secularismo, já não consegue ver o mundo de Deus como criação, mas como invenção, como um mundo animado, por forças matemáticas previsíveis. Ele mesmo se vê em um mundo sem graça, sem dádiva, por isto tem que atrair para seu mundo opaco, algo de fora, como os pagãos sempre fizeram. Por favor, espante-se com o salmista, cante com ele:

Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir. (Sl 33:9)

Para o naturalista, tudo é uma questão de previsibilidade matemática, de números que se encontram, de uma realidade aprisionada na lógica da causa e efeito, para um teísta, tudo é um grande espetáculo, uma dramatização constante, de um Deus amorosamente exibido, que se descortina por meio das coisas que foram criadas.

O naturalista desencantou o mundo por não suportar a exigência da fé, por não dar conta do permanente milagre, do permanente decreto divino, não suportou o verbo. O naturalista acusa o teísta de subjetivismo, por firmar sua fé em uma experiência privada, penso que mais que uma acusação, é uma objeção honesta. Entretanto, o que na verdade um teísta, um cristão, experimenta é uma mudança de perspectiva, uma atração à realidade. Mais que uma experiência subjetiva, quando capturado pelo amor de Deus, um cristão é atingido com uma mudança existencial.

Ele começa a ver o mundo para além do mundo. Tudo começa a ficar colorido, ele se nega a aceitar a proposta acinzentada da ciência, ele não consegue ignorar o amor, ele quer um sentido, não se conforma com o discurso de que sua vida se esgotará em um vazio tenebroso.

Como é difícil traduzir para os naturalistas que nossa fé é pensante, mas não somente pensante, pois não se dobra aos reducionismos. Nossa fé desvenda um mundo pulsante e cheio de vida, por isso, ao observarmos as flores e os pássaros, temos a quem dirigir nossas lisonjas, nossa fé exige humildade e gratidão, palavra que os naturalistas abominam.

Não creio no sobrenatural, pois para isto teria que admitir um mundo natural que não é sustentado por Deus, creio em criação, em mundo que aí está por uma constante ação de Deus. Por isto, Ele é digno de toda gratidão, louvor e permanente ações de graças.

Não resisto... tenho que citar G.K. Chesterton novamente:
Mas talvez Deus seja forte o suficiente para exultar na monotonia. É possível que Deus todas as manhãs diga ao sol: "Vamos de novo"; e todas as noites à lua: "Vamos de novo". Talvez não seja uma necessidade automática que torna todas as margaridas iguais; pode ser que Deus crie todas as margaridas separadamente, mas nunca se canse de criá-las. Pode ser que ele tenha um eterno apetite de criança; pois nós pecamos e ficamos velhos, e nosso Pai é mais jovem do que nós. A repetição na natureza pode não ser mera recorrência; pode ser um BIS teatral. O céu talvez peça bis ao passarinho que botou um ovo. (Ortodoxia, p. 63)

Justiça Imputada

Por Igor Miguel

A mensagem da justificação pela fé e a salvação por meio da graça nunca podem se esgotar. Jamais se tornarão periféricas, uma mensagem para iniciantes, jamais a graça será uma "doutrina rudimentar". Não há como meditar sobre a suficiência de Cristo e não se maravilhar.

Não é a omissão da mensagem da graça que conduzirá os crentes a uma vida ética e santa, ao contrário é a afirmação e a clareza do amor de Deus a nós, mediante Cristo, que nos convida irresistivelmente a uma vida de obediência à sua lei.
Pela graça descobrimos uma vida de obediência amorosa e voluntária, cheia de gratidão.
A justificação pela fé é uma doutrina incrível, sempre esquecida ou banalizada. A justificação significa que a reta justiça de Deus deve ser realizada. O pecado evoca a ira de Deus e infelizmente o pecado está nos homens. O que os transforma em alvo da indignação divina. Entretanto, este Deus justo é carregado de amor abundante, e como demonstração de seu amor incondicional, Ele expõe seu Filho como alvo de todo juízo e ira divina.

Pela fé nos unimos misteriosamente com Cristo em uma pacto, em uma troca expiatória. Jesus Cristo é o bode expiatório, o Isaque sacrificado, aquele que recebeu integralmente todas as minhas iniquidades. Ele recebe em meu lugar todo juízo e violência, Ele se torna o "maldito de Deus", em meu lugar. Quando me uno a Cristo, igualmente, toda justiça e retidão, dele, se tornam minha, e o Pai me vê como filho de seu amor, e não mais filho da ira.
Dessa forma, a justificação significa que Deus atribuiu e imputou justiça a um injusto, por meio da justiça daquele inocente que foi violentado em lugar do que era digno de toda violência.
À união misteriosa com Cristo por meio da fé -- que é uma confiança e fidelidade graciosa -- dá-se o nome de unio mistica. Uma unidade que nos coloca como justos e desencadeia um processo dinâmico de santificação, em que nos tornamos servos da justiça (Rm 6) e não mais em escravos do pecado. Assim, o apóstolo Paulo observa:
... agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis (Cl 1:22).
Segundo Martinho Lutero, foi este entendimento que trouxe profunda transformação a seu coração. Assim, ele pôde se libertar da condenação que lhe afligia, e encontrar alívio em um Deus que lhe justificou mediante tão magnífico sacrifício:

“Embora, com monge, vivesse uma vida irrepreensível, sentia-me um pecador com a consciência culpada diante de Deus. Eu também não podia acreditar que havia agradado a Deus com minhas obras... comecei a entender a 'justiça de Deus' como aquela justiça por meio da qual o justo vive pelo dom de Deus (a fé); em que essa frase: 'é revelada a justiça de Deus', faz referência a uma justiça passiva, por meio da qual o Deus misericordioso nos justifica pela fé, conforme está escrito, 'o justo viverá pela fé'. Imediatamente, tive a sensação de haver nascido de novo, como se estivesse entrando pelos portões abertos do paraíso. Desde aquele momento, vi toda a Bíblia sob a perspectiva de uma nova luz... E agora, aquilo que eu havia uma vez odiado na frase 'a justiça de Deus', comecei a amar e a glorificar como a mais doce das frases, pois essa passagem em Paulo tornou-se para mim o verdadeiro portão do paraíso” (Leituras de Romanos).
Quem ou o que tem nos mantido firmes? Não nos firmamos como justos em nossa própria capacidade, não nos gloriamos de nossas obras sociais, não nos exaltamos sobre nossa performasse espiritual, encontramos alívio e firmeza, na suficiência do amor de Deus. Não estenderíamos a mão ao pobre se não pelo amor e graça de Cristo que opera em nós.
Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus. (Rm 5:1).
Nossa justiça é a justiça de Jesus, Ele cumpriu e obedeceu as exigências da Torá (lei) em toda perfeição, não errou em absolutamente nada, não escorregou em nenhum preceito ou mandamento que lhe cabia. Obtivemos "paz" (shalom) com Deus, não há mais beligerância, tensão ou juízo, mas alívio mediante o sacrifício do Cordeiro de Deus. Por isto, somente por esta graça "estamos firmes", e nos gloriamos, nos orgulhamos somente na esperança do triunfo glorioso de Deus, que é presente e escatológico em Cristo Jesus.
24 de out. de 2010 | By: @igorpensar

Jesus o Construtor

Por Igor Miguel

[Para baixar em PDF clique aqui].

Os evangelhos mencionam que Jesus era filho de um "carpinteiro", o que no contexto da cultura judaica significava que ele mesmo, o próprio Jesus, também o era. Uma responsabilidade do pai judeu era ensinar uma profissão ao filho (Talmud, tratado Kedushim 4a e Midrash Shemot Rabá 28:2). Uma profissão associada ao estudo das Escrituras (Torá) era considerada uma virtude, como observa a tradição: "Uma excelente coisa é o estudo da Torá combinado com alguma ocupação [...] todo estudo da Torá sem trabalho se tornará no fim fútil e a causa do pecado" (Avot II, 2).

A palavra grega que está no original dos evangelhos, traduzido por "carpinteiro", é o termo tektôn [τεκτων] que é uma expressão genérica para uma profissão que envolve todo tipo de arte e construção. Um tekton poderia ser um ferreiro, pedreiro, artista ou um engenheiro, o correspondente hebraico seria charásh [חרש] que é usado no Antigo Testamento para as diversas profissões ligadas ao artífice em geral (I Sm 13:19; II Sm 5:11; I Rs 7:14; II Rs 22:6; Os 13:2).

Seria perfeitamente aceitável que Jesus e seu pai fossem envolvidos com a construção e edificações. Talvez daí, entendemos a frequência com que textos ligados à construção e edificação estejam sempre associados à relação de Jesus e a sua Igreja (I Pe 2; Hb 10:19-24; Ef 2:17-22). O próprio Jesus faz uso desta linguagem, quando disse para Pedro:

Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt 16:18).

Jesus Cristo é o grande edificador, não somente isto, ele é o próprio fundamento de onde a Igreja se ergue como comunidade que abriga o Espírito Santo. Ao menos esta é a linguagem que encontramos no seguinte texto:

[...] vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito. (Ef 2:13-22).

O apóstolo Paulo após falar sobre o poder de Cristo e seu sacrifício em criar uma uma unidade misteriosa entre judeus e gentios, afirma que o evangelho (a boa nova) anunciou shalom (paz) aos que estavam longe, ou seja, as nações (hb. goyim - estrangeiros), e aos que estavam perto, isto é, os judeus. Shalom [שלום] aqui deve ser compreendido para além do sentido de "ausência de conflito", o termo hebraico significa: prosperidade, saúde, estabilidade, tranquilidade, firmeza, justiça e outras expressões que estão semanticamente ligadas ao termo. A boa nova (o evangelho) é a proclamação da shalom do Reino nos termos dos profetas (Is 66:12), um Reino futuro, mas que pode ser antecipado em Cristo por sua Igreja. Um dia futuro em que todos os povos, línguas e nações, se integrarão no Israel de Deus, se torna uma realidade presente no igual acesso que ambos (judeus e gentios) possuem em Cristo na Igreja Invisível.

Na Igreja todas as distinções étnicas, sexuais, hierárquicas, distinções importantes na dinâmica da vida vocacional, se desfazem perante o Pai. Pois quando o pai se dirige a um ex-pagão, não o vê como tal, mas o contempla como contempla seu Filho (Jesus). Por isto, na unidade de todos os santos em Cristo no Espírito Santo, em especial quanto aos gentios (não-judeus), Paulo conclui: "Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus." (v.19).

Jesus já tinha dito que edificaria sua Igreja, esta comunidade maravilhosa, cheia de pessoas esperançosas, com corações cativos por este amor. Uma grande família de Deus, onde ninguém é estrangeiro (hb. gêr). O construtor Jesus Cristo, agora se integra à construção, sendo ele a pedra angular (v.20).

O que significa ser pedra angular? Em grego o termo usado é akrogoniaiós [ακρογωνιαιος], seu correspondente hebraico é rosh piná [ראש פינה]. Paulo neste texto recorre ao salmo 118:22 interpretado profeticamente que diz: "A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular." Texto que Jesus tinha usado em Mt 12:10 se referindo indiretamente a ele.

A pedra angular é uma pedra posicionada estrategicamente em determinada parte da estrutura de uma construção, com o fim de equilibrar as partes que a compõe. Um exemplo bem ilustrativo é seu uso na construção de arcos de pedra. Nestas edificações, arcos eram construídos com blocos de pedras pré-moldados, que se encaixavam sem o uso de argamassa, e mantinha-se em equilíbrio, sendo a pedra angular, a pedra em forma de cunha que se encaixava precisamente na parte superior do arco, entre uma metade e outra dos blocos de um arco, mantendo o equilíbrio físico da estrutura.

Baseado nisso, o texto de Paulo começa a tomar forma. A família de Deus é edificada sobre o fundamento dos profetas e apóstolos, que é o testemunho da Antiga Aliança e da Nova Aliança. A atividade profética e a atividade apostólica, a narrativa da Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) e do Novo Testamento, convergem para a pedra angular, para Cristo, a pedra que os construtores rejeitaram, o que se encaixa, assim, perfeitamente na profecia e em seu cumprimento.

A Igreja só pode crescer, se estiver bem ajustada nas Escrituras, no testemunho dos profetas e dos apóstolos, centrados em Cristo. Não é um conhecimento literário, uma apreensão teológica a respeito das Escrituras, isto não é suficiente. A Igreja é uma comunidade edificada, construída na revelação proclamada pelos profetas e ensinada pelos apóstolos, porém sob a perspectiva e o ajuste de Jesus Cristo. Se Cristo for tirado do centro, a edificação se desmorona, e as palavras das Escrituras se tornarão apenas conhecimento literário.

Em Jesus Cristo, o construtor, a pedra angular: "... todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito." (v.21 e 22).

Sim! Jesus Cristo é a pedra, a rocha rejeitada, desprezada, mas que completa o "quebra-cabeças". Jesus é o testemunho definitivo, aparentemente insignificante, mas a única peça que se encaixa precisamente no que os profetas falaram e era ele o sentido final da missão dos apóstolos.

Por isto o apóstolo Pedro, cujo nome ironicamente significa pedra, afirma:

Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, a pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos. Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia. (I Pe 2:4-10).
Uma grande comunidade está sendo edificada em Cristo. Aqueles que rejeitam a pedra, tropeçam nela, se torna rocha de escândalo. Entretanto, para os santos, Jesus Cristo se torna o fundamento, a pedra angular, para quem convergem os profetas e os apóstolos, sendo Ele, o núcleo de onde a Igreja cresce e todos os santos na unidade do Espírito. Deixamos assim de ser pagãos, assimilados pelo pecado, para sermos inseridos, na comunidade eleita, a comunidade sacerdotal, a casa espiritual: a Igreja.

20 de out. de 2010 | By: @igorpensar
17 de out. de 2010 | By: @igorpensar

Eu Tenho Esperança!

Galera,

Disponibilizo abaixo um texto muito importante do meu pastor Guilherme de Carvalho a respeito da esperança. Muita gente tem perdido a esperança quanto à relevância da Igreja e seu papel. Muitos se envolvem em movimentos de negação da legitimidade da Igreja Visível e acabam atingido a pureza da Igreja Invisível. Eis um texto que trouxe bálsamo ao meu coração a respeito da Igreja. Ainda há esperança...

***

Por Guilherme de Carvalho

Não sou utópico. Não tenho ilusões sobre o caráter do mundo e das pessoas, nem tento me convencer de que as coisas não estão tão ruins. Pois as coisas estão mesmo muito ruins. Não sou um otimista irracional, seja do tipo triunfalista-religioso, seja do tipo progressista-secular. Não penso que as coisas darão certo se mantivermos o pensamento positivo, ou se dermos educação ao povo, nem tenho certeza de que as coisas sempre darão certo para mim no futuro.

Mas também não sou cínico. Nem por isso sou cínico. Não posso me defender da decepção reprimindo os meus sonhos! Não quero manter na boca o gosto amargo das frustrações do passado. Não me rio da alegria inocente de quem sofreu pouco, nem desconfio da alegria serena de quem sofreu muito. Não posso permitir que o mal que me cerca cegue as minhas vistas ao bem sobre o qual estou de pé...

Então, o que sou?

Sou cristão. Não sou utópico nem cínico, porque através da nuvem de maldade, feiura e falsidade - que está aí, não nego - eu vejo a luz da bondade, da beleza e da verdade! Porque quando aspiro a fumaça deste ar impuro eu sinto o oxigênio, e o respiro; porque no fundo da realidade inteira, na sua fonte oculta e profundíssima o que habita é a alegria absoluta, o amor original, e a imortalidade de tudo o que é digno, santo e valioso neste mundo!

Por isso creio na Igreja, como diz o Credo Apostólico. Eu creio na Santa Igreja Universal porque através desse frágil vitral trincado brilha uma luz divina. Sei que ele está rachado, mas sei mais ainda que uma luz o atravessa e vai parar colorida sobre o meu corpo. Eu tenho esperança na Igreja porque pedras quebram vidraças, mas não apagam o Sol da Justiça. Então não lançarei pedras, nem fecharei meus olhos, nem fugirei para o escuro; consertarei vidraças e farei vitrais!

Eu creio na Igreja porque a Igreja é a nação da esperança; porque ela aprendeu a ver o fundo do universo, descobriu a fonte da luz, sentiu o oxigênio em seus pulmões. A Igreja deixa a alegria entrar sem prender a respiração, como os cínicos medrosos, com seu bem-informado pessimismo cosmológico. E assim, saciando-se de alegria como de uma fonte invisível, a igreja dá esperança!

A Esperança é um dom divino. Ela não confunde, "porque o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi outorgado". A Esperança não sabe se ainda vai chorar muito ou pouco, mas sabe que um dia saltará de alegria. Porque no Espírito, ela já vive esse dia.

Eu creio na Igreja porque tenho Esperança.
E a esperança não será frustrada...
porque é a obra do Espírito Santo!
16 de out. de 2010 | By: @igorpensar

Arte em Foco/PR: Impressões

Por Igor Miguel

Estamos aqui, eu e Guilherme de Carvalho, em Curitiba-PR, testemunhando um evento sem proporções quanto a seu potencial redentivo. Simplesmente estou impressionado com tanto potencial carismático, tanta graça e criatividade para serem derramadas em um mundo cada vez mais enfeiado pelo pecado e maldade.

Incrível como grandes ações fogem completamente aos critérios sedutores de sucesso de nossos tempos. As pessoas estão acostumadas a medirem seu sucesso pelos números e não pela qualidade das pessoas.

Ainda estou sob efeito de tanta expressão estética, tanta arte boa e graça, traduzidos em pintura, música, teatro, composições, poemas, danças e dramatizações diversas. Realmente, é tudo impressionante, muito impressionante.

O Pr. Guilherme de Carvalho apresentou uma palestra sobre o Senhorio de Cristo sobre o universo da arte, e como esta esfera da realidade carece do engajamento dos santos. Como há espaço e culto na missão dos vocacionados em fazer arte pela arte. Uma arte despretensiosa, sem fins proselitistas, apenas com um foco: encher o mundo e a vida das pessoas de graça.

O mundo está feio e se somos antecipadores do Reino temos uma missão: embelezar o mundo, subvertendo a imposição da morte, da violência e da feiura.

Estamos diante do Pai revestidos de um Senhor ressurreto, que triunfou sobre a morte e todos seus efeitos e causas. Assim, nossa missão com Deus é nos emaranharmos no mundo, sem participar das "iguarias do rei", mas levando o triunfo da vida.

Não tenho dúvida, de que não há nada mais apropriado para "colorir" o mundo e tirar sua cinza do que uma "banda de Shalom" carregada de dons e dádivas à tira-colo para enfeitar e criar "jardins de beleza", que remetem nosso paraíso original e o Reino que já está aí.

Pelo evento que acontece aqui em Curitiba-PR deu para se ter a ideia das dimensões que será o Arte em Foco em Sabará-MG. Será um evento intraduzível. Já estou até vendo aquela cidade cheia de artistas, dançarinos, músicos e poetas despejando a graça de Cristo através da expressão estética. E no final, que possamos todos dizer como o Criador, que no fim de seus feitos criativos declarou: que tudo era muito bom.

Venha você também para o Arte em Foco em Sabará-MG

www.artemfoco.com
13 de out. de 2010 | By: @igorpensar

A salvação pertence ao Senhor

Por Igor Miguel
Escrevi um texto teológico sobre a revolução que aconteceu em minha mente e coração a respeito do que é o evangelho e como ele se opera. Nenhuma novidade que os teólogos clássicos e os cristãos já afirmavam desde a reforma protestante. Este texto é uma tentativa de apresentar o evangelho de Jesus Cristo de forma mais simples, porém, com toques em pontos fundamentais para que possamos prosseguir à plena compreensão de Deus em Jesus. Peço perdão se não fui claro no primeiro texto, ele está em uma linguagem excessivamente teológica, talvez necessária. Mas, este tem um tom de “discipulado”, uma linguagem mais catequética, espero conseguir compensar meu egoísmo em não trazer tão grande evangelho em termo mais compreensível.
O objetivo modesto desta exposição é apresentar o evangelho à luz da Carta de Paulo aos Efésios capítulo 2 do verso 1 ao verso 10. Sei que muitos fariam esta apresentação de forma muito mais competente. Mas, proponho uma abordagem simples e didática, tendo em vista que o evangelho, como é descrito nas Escrituras, alcance o maior número possível de pessoas. Estou convencido de que a crise da Igreja Evangélica no Brasil se deve principalmente a falta de compreensão do que é o evangelho. Este pequeno texto tem este propósito, comunicar a suficiência do evangelho e da graça em Jesus Cristo para que o homem seja salvo e colocado em uma nova realidade e vida.
ou
Escute também em áudio na íntegra






8 de out. de 2010 | By: @igorpensar

A Encarnação e uma Igreja Relevante

Por Igor Miguel

Pra muita gente, a Igreja Local é aquele lugarzinho que todo mundo vai lá, faz uma coreografia de culto e adoração a Deus, ficam em silêncio ouvindo um sermão e depois de alguns tapinhas nos ombros e saudações automáticas, cada um segue seu rumo, e correm para ver se dá tempo de ver o "Fantástico".

Ao admitirmos que Jesus Cristo é o centro e fundamento donde tudo faz sentido, temos que admitir que sua comunidade, chamada por Ele de "corpo", tem uma papel magnífico de estender sua missão e a relevância de sua mensagem através do tempo e do espaço.

O mundo muda, as coisas mudam, a cultura muda, igualmente os desafios de tornar o evangelho relevante também mudam. Amei a definição de meu amigo e historiador José Cristiano, quando conceitua o cristianismo como uma "visão de mundo", um locus, a interface entre a linguagem de Sião (a linguagem dos santos) e a linguagem dos gregos. Lá se acumulam as experiências, o conhecimento, os argumentos, os concílios, os fracassos e acertos, lá estão as impressões que "joios" e "trigos" imprimiram, e é isto que me faz acreditar no cristianismo, como um espaço fértil, donde a Igreja, noiva misteriosa de Cristo, pode se enriquecer e ser enriquecida. Não é porque ele - o cristianismo - é "certinho", unânime, uniforme e "purinho", que me faz o cristianismo um movimento interessante, é justamente por sua capacidade de lidar com a complexidade da cultura.

Não dá para brincarmos de "Igreja", não dá para nos distrairmos dentro de um gueto religioso, não dá. Não dá porque estamos diante de um mundo cheio de questões culturais complexas. Nossos jovens não conseguem nos entender mais, nossa linguagem se tornou massante, hermética, sem sentido. Quando se fala de "Igreja" o mundo responde com as impressões saturadas da linguagem gospel. Definitivamente não dá.

Nos grandes centros, nos caldeirões culturais a coisa ainda é mais grave. Lá a comunidade local não sabe lidar com os movimentos artísticos, com os desafios que nossos jovens encaram na universidade. Nossos pastores não sabem (tirando raras exceções) que suas ovelhas andam se corroendo pela lógica fria, pelos determinismos numéricos, pelos filósofos pós-estruturalistas, pelos marxistas doutrinários. Sem contar, aquelas ovelhas imaturas, que são seduzidas pela ambição de se tornarem "bem sucedidas" como último sentido da vida.

Enquanto algumas comunidades estão preocupadíssimas com movimentos internos, com "possíveis rebeldes" no rebanho, esquecem que suas ovelhas já estão sendo devoradas por dentro, pelos valores deste século. Infelizmente, estes líderes não conhecem mais a música de sua geração, não conhecem as tribos urbanas e a cultura narcisista de seu tempo.

A resposta? Lembre-se, Deus está em missão! Ele se voltou para o mundo e se lançou no meio da história. O Verbo em Carne, Jesus, é Deus dramatizado, é a vontade de Deus em 3D. Com que propósito?
"... a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus." (Ef 3:18-19).
A encarnação é escandalosamente desafiadora. Ela nos adverte que Deus quis se tornar tão conhecido que "apelou". Ele enviou seu Verbo de forma que pudéssemos apreendê-lo. Se Deus virou gente para se tornar conhecido, então, no que deveríamos nos transformar para que a comunicação de Cristo se torne relevante? Paulo responde:
"Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele."(I Co 9:22-23).
De alguma forma, o drama da encarnação do verbo, continua pela Igreja. A comunidade batizada (empréstimo de Vanhoozer), a cidade de Deus, agora testemunha aos cidadãos da cidade dos homens, por meio de uma linguagem clara e relevante: Jesus Cristo já tomou os poderosos deste século, tudo e todos estão agora sob seu poder.

Neste sentido, nossa missão muda e o desafio é que, mais e mais, cristãos precisam se tornar engajados, precisam saber circular na cultura, nas artes e na política. Como Daniel, que na corte babilônica, no epicentro da cultura do mundo antigo, não comia das iguarias do Rei, pois tinha uma missão. A missão de Daniel, como a nossa, é sermos jovens, sábios, integrados com Deus, sem nos deixarmos desintegrar pela Babilônia, e lá, desvendar e desnudar, os mistérios, até que Nabucodonozor tenha que admitir:
"Certamente, o vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador de mistérios, pois pudeste revelar este mistério." (Dn 2:47-48).
Honestamente, não dá pra ser "crente burro" na atual conjuntura. Do contrário seremos engolidos por este século, destruídos e nossa identidade ficará aos cacos.

Coragem! Jesus Cristo é o Senhor.
7 de out. de 2010 | By: @igorpensar

O Verdadeiro Jesus Cristo


Caros amigos de L’Abri,





Vem aí o V Ciclo de Palestras L’Abri-AKET com o tema: O Verdadeiro Jesus Cristo


Quem foi Jesus Cristo?


Quem não faz essa pergunta, em algum momento de sua vida? A figura de Jesus Cristo é tanto uma unanimidade quanto um enigma na mente contemporânea. Ninguém se atreve a desprezar ou difamar o nome de Jesus; todos o respeitam como um santo, ou um grande líder. Mas todos tem dúvidas e perguntas sobre sua identidade: "os evangelhos que contam sua história, são confiáveis?"; "ele quis fundar uma igreja?"; "ele fugiu para a Índia?"; "qual foi seu verdadeiro ensino?" e, talvez a mais importante das perguntas: "Jesus foi mesmo enviado por Deus?"

O V Ciclo de Palestras L'Abri Brasil, sob o tema: "O Verdadeiro Jesus Cristo", será dedicado ao enigma da Identidade de Jesus Cristo. Venha explorar e descobrir quem foi o ser humano mais importante da história!

De 28 de Outubro a 16 de Dezembro, todas as quintas-feiras às 20h, na Casa do L'Abri em Belo Horizonte.

PROGRAMA

28/10 Jesus nas Artes Visuais (Rodolfo Amorim)
04/11 A Confiabilidade Histórica dos Evangelhos (José Cristiano)
11/11 Jesus e o Judaísmo (Igor Miguel)
18/11 A Mensagem de Jesus (Guilherme de Carvalho)
25/11 A Política de Jesus (Guilherme de Carvalho)
02/11 A Veracidade da Ressurreição de Jesus (Frederico Almeida)
09/12 O Significado da Ressurreição de Jesus (Rodolfo Amorim)
16/12 A Identidade de Jesus Cristo (Guilherme de Carvalho)

ENDEREÇO

Rua HELIOTRÓPIO, 145 - STO ANDRÉ - Belo Horizonte Orientações:

Seguindo a Av. Pedro II, sentido bairro, após o PORTAL SHOPPING CAR (antes da Av. Catalão), vire uma rua à esquerda (R. Sabinópolis), uma rua à direita (R. Magnólia), uma rua à esquerda (Heliotrópio), segundo quarteirão à esquerda.

Informações: Vanessa (31-9225-1923) ou Alessandra (31-8417-6211) FAVOR CONFIRMAR PRESENÇA POR TELEFONE OU EMAIL!

Jesus é o Memra

Por Igor Miguel

*Este texto é uma adaptação a uma pergunta importante enviada por um dos participantes do post "Clareando...", identificado como Jonas.


Olá Igor, gostaria de saber onde fica Deus, ou como queira "Deus Pai", nesse contexto de fé. Leio seu blog e até agora só vi espaço para Jesus, "o filho", e o Pai como fica? Ou não fica? Já parou para pensar que a proposta cristã, onde a salvação é Jesus, só tem 2000 anos? Quem salvava antes? (Jonas)
Minha resposta ampliada seria:

Primeiro: quem é o Pai? A "paternidade" de Deus só foi bem desenvolvida no Novo Testamento, principalmente pela revelação do Filho de Deus, Jesus Cristo.

O termo "Pai" era uma referência a todos os aspectos invisíveis de Deus., aqueles atributos que nenhum homem pode conhecer diretamente. João 1:18 é claro quando diz que "ninguém jamais viu a Deus". Entretanto, o Pai se dirige a sua criação, deseja se relacionar com ela, porém a condição caída dos homens e suas limitações os impede de ter tal acesso.

Então, como os homens poderiam se relacionar com Deus no Antigo Testamento? Como este Deus se revelava? Ele se revelava principalmente por meio de "teofanias". Teofania é o termo usado para "manifestações de Deus", eram manifestações em que Deus se revelava de forma que o homem pudesse suportar. Dentre as teofanias mais conhecidas estão aquelas quando Deus se revelou como "Anjo do Senhor", como homem (quando mostrou as costas para Moisés), o anjo que lutou com Jacó etc.

Então os rabinos judeus levantaram um problema: se Deus é transcendente, ou seja, se Ele está para além da criação e das criaturas, como podem os homens terem acesso a Ele? Uma resposta seria: por meio das "teofanias". Por isso, as traduções aramaicas do Antigo Testamento, conhecidas como Targum (no plural Targumim), em muitas passagens em que Deus se revela em forma "humana" (antropomorfismo) ou coisa do gênero, geralmente se faz uso da expressão aramaica: Memra מאמרא.

Memra é o termo aramaico para a expressão em português "palavra", seu correspondente grego seria logos λογος. Com esse termo os escribas judeus indiretamente afirmavam enfim, que sem a mediação da "Palavra" (memra), Deus jamais seria conhecido.

Da teologia do memra, desenvolveu-se a compreensão de João, de que esta "Palavra" este "Verbo" que revela o Deus Transcendente (o Pai), se faz carne e habita entre nós (João 1:1-14). O que significa, que mesmo no AT, toda compreensão do Pai dava-se por meio do Verbo de Deus - o Messias. O conhecimento de Deus era então mediado e não imediato.
"Ninguém jamais viu a Deus; o filho unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou." (Jo 1:8 - ARC)
O Pai é possuidor de todos os atributos invisíveis da divindade. Ele é a fonte de tudo, dEle procedem o Filho (gerado e não criado Hb 1:5) e o Espírito Santo, dádiva do Pai, por intercessão do Filho (Jo 14:16). Dessa forma, o conhecimento do Pai é impossível autonomamente. Ninguém pode conhecê-lo sem o Filho, sem o "verbo de Deus".

O texto abaixo, mostra um tempo, em que o Pai se desvelará diretamente aos seus eleitos, observe, que antes disso, Jesus (o Filho), tem toda primazia, até que tudo seja julgado e colocado debaixo de seus pés, quando enfim, Deus será tudo em todos e o próprio Filho (Jesus) se sujeitará ao Pai.
"Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos pés. E, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, certamente, exclui aquele que tudo lhe subordinou. Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos." (I Co 15: 27-28)
A primazia é de Jesus, para Ele todas as coisas convergem, quem honra o Filho honra o Pai, que vê o Filho vê o Pai. O que não significa que Ele é o Pai em sua função trinitária, mas, é ELE (Jesus) quem O revela (o Pai).

Jesus como gerado, é co-substancial (tem a mesma natureza divina) do Pai, mas seu papel e função são distintos, seu papel pessoal é distinto. Importante mencionar, que quando as pessoas se relacionavam com Deus, por meio do memra ou suas teofanias (como a shechiná que merece um estudo), não o tratavam como uma "semi-divindade" ou um "demiurgo", ou simplesmente um anjo, o tratavam nos termos da divindade, de Deus mesmo. Abraão, quando da visita do anjo, se dirige a Ele como YHVH. Neste sentido, Jesus, o Verbo, é algo para além de uma "teofania" (manifestação), pois nEle habita corporalmente a plenitude da divindade (Cl 2:9).

Lembro-lhes, que JESUS o VERBO não é apenas uma "representação" (como afirmei em um artigo escrito há alguns anos atrás). Ele é co-eterno e co-substancial com o Pai, o que significa que Ele é fundamentalmente e essencialmente DEUS. Sem qualquer fragmentação de sua natureza. Porém, simultaneamente, se distingue dEle em seu papel divino. Se assim não for, fomos libertos por um "representante" e não por Deus. E temos vários textos como Filipenses (Fp 2:6-7) que deixam claro que Ele (Jesus) abriu mão (grego kenosis) de sua subsistência divina para se tornar semelhante aos homens.

Em suma, quanto a divindade: UNIDADE (monoteísmo). Quanto a seu papel redentor e pessoalidade: DISTINTO (complexidade).

Existe um "paradoxo" na trindade, mas nunca uma "contradição". No paradoxo coisas aparentemente distintas podem conviver sem se anularem, na contradição isto não ocorre. Jesus está em unidade na divindade, Ele não é um "Deus Autônomo" o que incorreria em "idolatria", e também não é simplesmente um "representante", um arquétipo, pois Ele é co-substancial em absoluta unidade com o Pai.

Para entendermos esta "economia" (lit. 'a ordem da casa') da trindade, cito um trecho interessante do livro MATOS, Alderi Souza. Fundamentos da Teologia Histórica: São Paulo: Ed. Mundo Cristão, 2008. sobre o desenvolvimento da doutrina entre os pais capadócios:

"Uma característica distintiva dessa abordagem da Trindade é a prioridade atribuída ao Pai: ele é a fonte ou origem da Trindade, o fundamento de sua unidade. O ser do Pai é comunicado tanto ao Filho quanto ao Espírito de maneira distinta: o Filho é 'gerado' do Pai e o Espírito 'procede' ou 'emana' do Pai." (p. 68)

O que significa que a primazia do Pai, se reconhece no Filho, que dEle procede.
"Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a PRIMAZIA." (Cl 1:18).

6 de out. de 2010 | By: @igorpensar

Treinamento em C.Frio

Temas: Missão Integral / Perspectiva de Reino


IBC Cabo Frio - Rua Expedicionário da Pátria, 341
São Cristóvão - Cabo Frio-RJ

Temas: Missão Integral / Perspectiva de Reino

Jesus Cristo: supremo!

Clareando...

Pessoal, tenho que escrever um adendo, não tem jeito. Por uma questão de praticidade vou colocar as coisa bem claras:

1. Meu retorno à ortodoxia cristã não é um retrocesso, é um retorno. Algumas pessoas me mandam e-mails como se eu estivesse "desviado" ou "caído" em algum pecado. Por um lado isto foi bom, pois deu pra ver como "estes que questionam" tratavam irmãos cristãos como no fundo, no fundo, desviados. Este é o sintoma que quero tirar da minha vida!

Como não tiveram um "adultério" para arrumar pra mim, agora falam que estou em "adultério espiritual". Desculpem-me, mas estar fora da ortodoxia cristã, sim, isto é ser sectário. Ignorar os pilares clássicos da fé, sim, envolve um certo "desvio". Eu não estou desviado, estou ajustando a rota de minha trajetória em Deus.

2. Não tenho culpa se dentre os que me mandam e-mail estão os "preguiçosos pela leitura". Uma lida cautelosa da retratação deixará claro que minha visão da lei não mudou, minha visão da necessidade das raízes judaicas para uma compreensão bíblia rica não mudou (basta ver que faço mestrado em estudos judaicos e continuo palestrando sobre o assunto, e participo de um grupo de estudos que lida com a relação judaísmo-cristianismo). Fora justamente a consideração a estas raízes que me fizeram rever estes fundamentos cristãos que "todo mundo" chama de "Roma" e nem sabe do que está falando. Descobri, que muito das coisas que estão lá na tradição e prática cristãs tem raízes no judaísmo, algo que já tinha escrito por aqui, no artigo "Raízes que Permanecem".

3. A retratação deixa claro minha/nossa percepção e reconhecimento a um movimento que agrega judeus em Cristo (judaísmo-messiânico), porém o que questionamos, é como um ambiente artificialmente "judaico-messiânico" pode ajudar a Igreja Cristã gentílica em algum sentido? O que dirá restaurá-la. Um dos poucos que consegue isto, talvez por sua competência teológica e seu conhecimento do cristianismo, seja o Daniel Juster em seus últimos artigos já mencionados por aqui.

4. Minha visão escatológica, se tornou mais cristã ainda. Já era antes. Quando me opunha ao dispensacionalismo, não fazia nada além do que os reformadores fariam, nunca creram em um suposto arrebatamento "pré-tribulacionista" (J.N. Darby) ou em uma teologia "escapista". A propósito, este é um debate e uma posição que nunca foi judaica, sempre cristã. O que pregava antes sobre "escatologia" está alinhado com teólogos cristãos como Charles Dodd e George Ladd.

5. Estou escrevendo uma defesa clara a respeito de nossa jornada à descoberta da legitimidade da trindade. Será uma bomba, mas necessária, pois para mim a acusação de que a "trindade" é triteísta é ingênua. Alguns objetam que não há uma "ordem econômica" (hierarquia) na trindade, há sim! Algo que Calvino chamava de "ordem hipostática". Não quanto a natureza fundamental da divindade que é una, mas quanto aos papéis relacionais (hipóstases), como claramente propõe o credo Niceno.

6. Minha percepção do sábado: neste ponto ouve um ajuste. Optei pelo "bom senso" sustentado pela tradição cristã reformada. Não acho justo e coerente à luz do Novo Testamento uma imposição do "formato judaico" de observância deste dia para não-judeus. Creio que o quarto-mandamento é perene e é um princípio ético para todo ser-humano (não só crentes), porém, não creio que uma pessoa só é "abençoada" quando o observa na "sexta-feira ao por-do-sol". A objeção a esta posição seria que há uma "benção especial" para este dia.

Não posso concordar com isso. A benção do Senhor está na obediência ao princípio do mandamento. Pense nos cristãos em países árabes que descansam na quinta-feira ao por-do-sol pois é o dia descanso muçulmano? Eles não possuem outro dia para descansar! Não obstante, querem ter 6 dias de trabalho e descansar em um sétimo. Sinceramente, se sabemos que o "sábado" foi feito para o homem e não o homem para o sábado, não vejo problema em uma flexibilidade, desde que seja observado um dia de descanso. Quantas pessoas que conheço sofrem, pois só podem descansar no domingo, pois trabalham no sábado para manterem suas famílias. Essas pessoas não deveriam "sofrer" por isto, antes, devem considerar a misericórdia de Deus, cujas leis são flexíveis e dadas ao homem.

6.1. Quanto aos judeus, normatizaram este dia como o "sétimo dia" (sexta-feira ao por-do-sol), não vejo problema nisto também. Este é o dia instituído como descanso. Não vejo problema também em cristãos que optam pela "sexta-feira" como dia para observarem o "shabat", não vejo problemas, desde que respeitem seus irmãos que descansam em outro dia que não este. Indico o livro "Do Shabat para o dia do Senhor de D.A. Carson - Ed. Cultura Cristã".

7. Minha objeção, óbvia e simples, é que "raízes judaicas" são periféricas, minha visão de mundo e de Deus é "cristologicamente" orientada. Ou seja, sem Jesus Cristo no centro, sem a revelação, a encarnação do verbo, sem o evangelho e o senhorio dEle, não há graça, não há carisma, não há obediência. Sem um entendimento e uma vida estruturada por tudo que Jesus significa e é, esquece, é religião; sofisticada, bonitinha, cheia de firulas, mas ainda é uma religião sem "graça".

8. Tirando os ajustes mencionados na carta, pouca coisa muda em minhas pregações, mas as poucas coisas que mudam, são coisas fundamentais. Apesar de Cristo ser frequentemente mencionado em minhas pregações anteriores, não deixava claro sua centralidade, algo que fiz principalmente nas pregações entre os anos de 2006-2010. O problema é estatístico havia mais uso dos termos "judeu" e "judaísmo", do que para Jesus (Yeshua), o que significa enfim, que cometia um erro na ênfase.

9. Não me arrependo um centímetro de minha decisão, por uma questão simples: a alegria da salvação pula em meu coração. Não há um minuto em meu tempo, que não nasce um poema, uma música, uma expressão de gratidão a Deus. Minha esposa experimenta a mesma coisa. A oração deixou de ser algo as vezes feito com dificuldade, agora brota naturalmente, brota como uma fonte contínua. Um fervor primitivo, algo do tipo que tinha quando me converti. Um ardor, porém, com mais clareza na palavra e nos fundamentos desta fé. Estou muito feliz, não que minha vida está fácil agora, ao contrário, mas seria capaz de ir para uma país africano, se fosse vontade de Deus, e lá morrer por este evangelho. Algo irresistível acontece dentro de nossos corações!

10. Minha pergunta: porque as coisas não eram claras assim? Pois se não colocarmos Jesus Cristo claramente em seu lugar. Se não o coroarmos como Rei sobre nossas vidas. Se transformarmos MEIOS em FIM, seremos idólatras, e ELE, que é a fonte da vida, não despejará sua graça sobre nós.

Enfim, descobri que ser monoteísta é ser definitivamente cristocêntrico, afinal: "Ninguém jamais viu a Deus; o filho unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou. " (Jo 1:18). Por isto, a única forma real de viver o Shemá (Dt 6:4) é afirmar claramente que Jesus Cristo é o único meio sacerdotal pelo qual chegamos a Deus. E isto tem implicações muito mais sérias.

Se alegre também! Reafirme sua fé na suficiência de Cristo e naquele em quem habita a PLENITUDE DE TODA DIVINDADE. (Cl 2:19).

Amem!
Igor Miguel
4 de out. de 2010 | By: @igorpensar

Pão da Aflição

O que pensas pequeno jovem?
Agora desprovido de tua autonomia,
Te despistes de todos os amparos que te legitimavam.

Por que te retratas? Eis tu um estúpido!
Que na estupidez mantinha-se de pé erguido em seu próprio ego,
Sendo admirado pelos que te legitimavam.

Mas, um dia, um dia ele te pegou pelo cabelos.
Te colocou irresistivelmente de joelhos diante da cruz.
Lá, no "lugar" só o que ouvistes foram teus pecados sendo golpeados.
Sim, nos golpes e nos cravos de Teu Senhor, sob sangue inocente.

Agora, orgulhoso jovem, o que tens?
Não tens nada do que eles possam te aplaudir.
Não tens as lisonjas, os aplausos, estás em ruína.

Agora, que tudo rompeu sobre ti.
Agora, que estás em cacos.
Te colocarei sob os meus pés.
Lá encontrarás repouso e dignidade.
Silêncio, cura e reconstituição de tua alegria.

Sim, um dia você me pediu para não cair.
Não sabias das implicações daquela oração.

Agora, olha pra ti!
Não tens nada, nada que possam te aplaudir.
Apenas a minha mensagem escandalosa...
Que afirma minha perene misericórdia como aquilo...
Aquilo que escandaliza judeus e enlouquece gregos.

Não te preocupes meu filho, ele também foi amaldiçoado.
Não te preocupes, os religiosos também conspiraram contra ele.
Agora, "eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome"*.

Sim, tu tens apenas o madeiro,
A punhalada que Isaque não recebeu.
Te refugias no violentado.
Em suas chagas, tu também serás curado.
Mas, por enquanto, te fartarás no Lechem Oni**.

Aleluia!

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* Atos 9:16.
** Pão da Aflição [לחם עני]: o pão ázimo (sem fermento) comido na noite de páscoa, deste pão Jesus instituiu a ceia. Este pão simbolizava a aflição/tribulação dos filhos de Israel no Egito. Jesus se identificou com este pão, como um sinal de sua "aflição" na cruz, por isso disse: "Este é meu corpo que é partido por vós".
3 de out. de 2010 | By: @igorpensar

Salvos por Sua Determinação

"Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem do seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho." (II Tm 1:8-10).

É Ele quem faz a obra, não você...