24 de mai. de 2010 | By: @igorpensar

Por que não sou ateu?

Por Igor Miguel
"Não há problema em não se acreditar em Deus; o problema é que se acaba sempre acreditando em alguma besteira." (G.K. Chesterton)
Não sou ateu porque não consigo desacreditar no que já se revelou. Não sou ateu, pois ser ateu para mim não é possibilidade. Ser ateu significaria ignorar a extravagância da natureza, seria ignorar a genialidade das partículas mais rudimentares e a profundidade das coisas mais simples. Ser ateu seria ignorar o fato de que existem paradoxos que não se contradizem. Só Deus poderia criar complexidade em coisas aparentemente tão simples, e grandeza em coisas tão modestas.

Não sou ateu pois não posso negar o inegável, não posso negar o descortinado, o revelado, não posso negar minha trajetória existencial. Não posso ser ateu, pois não quero fingir que não vejo o mistério, o grande, o complexo, o inteligente, a harmonia e a transcendência.

Não sou ateu porque Deus está aí mesmo quando toda sofisticação científica se esforçou por negá-lo ou ao menos ignorá-lo. No futuro a guerra não será mais entre ateus e não-ateus, será entre crer em Deus ou nos ídolos. A guerra não será sobre a fé e nunca foi, pois ela sempre esteve lá. Sim! A fé sempre esteve aí do seu lado, ao lado do filósofo e do cientista. Sem uma credulidade mínima, sem uma confiança paradigmática, mesmo que provisória, não haveria os saltos científicos, as revoluções científicas. Sem um mínimo de confiança, não haveria "objetividade" científica. A fé está lá, pois a ciência objetiva é subjetivamente orientada, e o sujeito é crente inevitavelmente.

O homem pode se abster de Deus, mas não pode se abster da fé. Nenhum homem suportaria viver sem um mínimo de confiança em alguma coisa ou alguém. Os homens ficariam aterrorizados se pensassem nas probabilidades de um ônibus capotar na estrada, de um avião cair, de ser atingido por uma bala perdida, de contrair uma doença contagiosa, de herdar um câncer dos antepassados, seria perturbador, se não houvesse um mínimo de fé, para sair de casa, e ignorar as estatísticas, mas confiar no motorista, no piloto, no engenheiro, no médico. Agora, se ele fosse um pouco mais honesto, confiaria em Deus, que está sob todos os cálculos e estatísticas, que é Senhor da proteção e do desastre. Que converge a previsibilidade e a imprevisibilidade a seu serviço, a sua vontade amorosa. Nem sempre compreensível, mas sempre amorosa. Aí reside a fé!

Minha fé não é cientificamente comprovada. Ainda bem! Pois se fosse, não seria fé, seria ciência. Deus não seria Deus, seria mais um objeto científico, mais uma bactérias sob a lente do microscópio. Ele não pode ser "ontologizado" fisicamente, não pode ser quantificado quimicamente, não pode ser sistematizado filosoficamente, pois é pura relação. Isto não significa que Deus seja alguma coisa que só pode ser compreendida misticamente, ao contrário, isto significa que se pode conhecê-lo em relação ao que Ele é. Quando o homem entra em relação com Deus, Deus se revela. Aos que não querem encontrá-lo, Ele se oculta, coloca uma barreira intransponível entre sua revelação e o que o ignora.

Mas, aquele que é minimamente honesto, perguntará, buscará e irá encontrá-Lo. Ele estará lá, obviamente presente, misteriosamente e plenamente existente.
Nada é tão real do que Aquele de onde procede toda realidade. Nada é tão existente do que Aquele de onde emana toda existência.

Não obstante, o encontro não é racionalizável nos termos cartesianos. Ele tem uma racionalidade e lógica próprias, uma outra articulação. Lá, afetividade, racionalidade, espiritualidade, física, química, lógica e mística, convergem para a composição multidisciplinar, integral do homem que se curva boquiaberto ante ao espetáculo de Sua presença:
Não dá para ser ateu.
Pois, o meu ser transcende o ser apenas ateu.
Não dá para ser ateu.
Pois, atoa eu não quero viver.
Não dá para ser ateu.
Pois, o teu deus não pode ser o meu.
Não dá para ser ateu.
Pois, o ateu não é, deixou de ser.
Não dá para ser ateu.
Pois meu ser é no encontro com o "Eu Sou o que Sou".

21 de mai. de 2010 | By: @igorpensar

Uma luta com classe!

Por Igor Miguel


"Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta." (Marx & Engels no Manifesto do Partido Comunista).
Não posso concordar com Marx/Engels.  O pressuposto de uma revolução  desencadeada pela ideia de luta de classe me soa tentadora, mas toca em questões de fé que me são muito caras.  A ideia de "conflito constante" e de "guerra ininterrupta" como algo natural, que conduzirá o homem a uma transformação revolucionária, como se houvesse algum tipo de "desenvolvimento" como afirmará Marx em vários pontos de seu manifesto, é insustentável a partir uma cosmovisão cristã.  Se eles sustentam um "desenvolvimento" pela contradição, pelo conflito, então sugerem que há algo de bom na tensão entre os interesses humanos, que ao meu ver, é a própria cooptação do mal primevo, já afirmado por Adam Smith (auto-interesse).

O auto-interesse do autor da Riqueza das Nações, agora domado, torna-se o germe, que no final "redimirá" o mundo por meio de processos revolucionários que culminarão com o desenvolvimento da sociedade e por fim a humanidade. O que Millbank [1] chama de "vontade demiúrgica do individualismo humano", torna-se a mola propulsora para o desenvolvimento. O paganismo aqui é explícito! Querem trazer o Olimpo para o mundo, divinizar os homens e colocá-los na condição de portadores do arbítrio divino.  


Aquilo que já era perverso nas raízes do capitalismo, torna-se ainda mais perverso na pena de Marx, pois o que era mau, agora torna-se o próprio meio que conduzirá os homens ao “paraíso” comunista. Adam Smith admitira o auto-interesse, procurou usá-lo para um fim objetivo, domando-o, legislando-o, enquanto Marx, diviniza-o, lhe dá um tratamento messiânico, um sabor escatológico à instauração da guerra dos deuses, dos indivíduos (agonismo).

De acordo com a tradição cristã, principalmente de raiz reformada, é insuportável a ideia de revolução por meio da subversão contra autoridades determinadas. Biblicamente, as autoridades foram instituídas por Deus, que em sua soberania, eleva e abate os poderosos, principados e potestades. Logo, quem “conspira” contra um poderoso, conspira contra os desígnios de Deus.

Neste sentido assevera Abraham Kuyper:

... segue-se que todos os homens ou mulheres, rico ou pobre, fraco ou forte, obtuso ou talentoso, como criaturas de Deus e como pecadores perdidos, não têm de reivindicar qualquer domínio sobre o outro, e que permanecemos como iguais diante de Deus, e conseqüentemente iguais como seres humanos. Por isso, não podemos reconhecer qualquer distinção entre os homens, exceto a que tem sido imposta pelo próprio Deus, visto que ele deu a um autoridade sobre o outro, ou enriquece um com mais talentos do que o outro, para que o homem de mais talentos sirva o homem de menos, e nele sirva a seu Deus. (A. Kuyper em O Calvinismo)
Isso significaria passividade ante à corrupção? Absolutamente não! Isto não significa em hipótese alguma que a tradição judaico-cristã seja “passiva” ante a corrupção, a injustiça e o abuso de poder. Diante destes males, tomamos a frase de São Pedro, “mais importa obedecer a Deus do que a homens”. Neste sentido, se uma autoridade falha em seu papel, julga-se que não se deve “derrubá-lo” pela “mão armada”, ou por qualquer tipo de “crime”. Pois isto seria responder “mal por mal”, seria fazer uso de tirania para derrubar o tirano.

Compete-nos, denunciar a injustiça pela justiça, confrontar a iniquidade com a lei, denunciar o “roubo” com o “não roubarás”. A exposição da lei, o exercício da denúncia profética, no estilo João Batista que apontou as orgias de Herodes. Mas, nunca, nunca se deixar seduzir pela revolução, jamais fazer uso da mesma lógica dos tiranos, a lógica do golpe. Nunca dar ouvido ao jacobino que procurou seduzir William Wilberforce, que finalmente optou pela transformação pelos caminhos da justiça ao invés da conspiração. Neste sentido, uma percepção política cristã, deveria se basear em uma “reforma” e nunca na “revolução”; na desobediência civil, mas nunca na conspiração.

Não há como ser progressista, não há como confiar no homem sob efeito da queda. Neste sentido, a visão agostiniana [2] de “queda” concebia que o cristão é um ser em permanente estado de “desconfiança” a respeito das pretensões humanas (ceticismo cristão) e absoluta “confiança” na soberania de Deus sobre os poderosos. Não é possível confiar na revolução a partir da
luta de classes, a resposta judaico-cristã envolve uma luta com classe e a sofisticação necessárias, para com graça, manifestar justiça onde opera a iniquidade.
“… o homem que vemos todos os dias – o trabalhador.... o pequeno funcionário... está mentalmente preocupado demais para preocupar-se com a liberdade. Ele é mantido sob controle com literatura revolucionária. É acalmado e mantido em seu lugar por meio de uma constante sucessão de filosofias insensatas. Ele é marxista num dia, nietzcheano no outro, super-homem (provavelmente) no dia seguinte e escravo todo os dias.” (G.K. Chesterton em Ortodoxia).
_____________________
[1] MILBANK, John. Theology & Social Theory: beyond secular reason. Malden, USA: Blackwell Pub., 2006.
[2] Se bem, que a visão de queda tem raízes profundas, mesmo em eras pré-paulinas. Há evidências de uma teologia da queda na escatologia dos essênios.

Pedagogo: o profissional

Por Igor Miguel

*A imagem ao lado é uma estatueta em terracota que fora encontrada na Grécia. Uma representação do "escravo pedagogo" conduzindo seu aprendiz à escola.

Existe uma confusão nas datas. Alguns dizem que dia 18, outros 20 e outros 22. Então, vou postar hoje dia 21 para agradar gregos e troianos. De qualquer forma, não posso deixar de homenagear estes profissionais que pensam processos educacionais e que estão nas várias instâncias da sociedade, engajados na educação.

Eles não estão só na escola. Estão também na empresa, nas ONGs, instituições filantrópicas, entidades religiosas, faculdades, forças armadas, hospitais e onde você puder imaginar, lá terá um pedagogo.

Tornou-se sem dúvida a profissão com o maior número de profissionais na atualidade. O que pode parecer um desprestígio, na minha interpretação, não é. Afinal, quem faz o bom pedagogo é o próprio pedagogo.

Um bom pedagogo está conectado com o mundo do conhecimento, sabe se articular nos vários universos formacionais. O pedagogo é o cara que não educa somente, ele pensa no processo educacional propriamente dito. Já dizia que a diferença entre a educação espontânea e a educação pedagogicamente orientada, é que a última é INTENCIONAL. Ou seja, o pedagogo é alguém que ensina sem "ingenuidade".

Assim, um pedagogo, preocupa-se com os meios, com o processo, entre o sujeito que aprende e seu objeto de aprendizagem. Um mediador por excelência. O pedagogo, não se concentra no conteúdo, concentra-se em como traduzir o conteúdo em termos que seus aprendizes possam compreender.

Para isto, vale-se de recursos teóricos. Procura compreender a cognição, o afeto e a complexidade social da realidade de seus alunos. Um bom pedagogo é com certeza um pesquisador. Não consegue olhar para a realidade desprovido de um repertório sofisticado para interpretá-la.

Quando se ouve um bom pedagogo, não se sabe se ele é filósofo, antropólogo, sociólogo, ou psicólogo ou historiador, pois vale-se de ferramentas das diversas ciências da educação para integrá-las em favor de seu campo de atuação.

Um pedagogo, pode-se dizer, é um cientista da interdisciplinaridade. Talvez, pela complexidade de seu campo de atuação, talvez seja por isso injustamente tratado como um "generalista" ou a própria pedagogia como uma "ciência" sem "epistemologia". Não obstante, prefiro considerá-lo como um articulador dos vários saberes.

Mas lá, na pedagogia, o debate é intenso, pois eles(as) (os(as) pedagogos(as)) são bons(boas) no debate. Lembro-me de calorosos embates sobre a emblemática dicotomia "teoria" e "prática", pois de fato, não dá para ser um pedagogo sem uma boa base teórica, bem como sem uma boa atuação prática.

O pedagogo não quer ser um "ativista" da educação, e tão pouco, alguém que se dedica às elucubrações teóricas que não atingem a realidade de sua atuação. Ele é o sujeito da práxis. Ele deseja uma boa atuação, teoricamente bem orientada.

Enfim, neste dia, gostaria de homenagear, todos os profissionais da educação, que como eu, amam sua profissão e querem se engajar para tornar esta belíssima área em objeto de respeito e reconhecimento, pela realidade que é a profissão PEDAGOGO!
9 de mai. de 2010 | By: @igorpensar

Eli! Eli!

Por Igor Miguel

Impossível descrever minha trajetória espiritual nos últimos 12 anos. Impossível! Impossível descrever a graça de Deus e por onde o Espírito Santo me guiou nestes intensos anos. Desde quando criança tinha experiência aterradoras com meus pecados ante a indescritível presença de Deus, em pura santidade. Impossível, traduzir em texto ou palavra, impossível reduzir a magnitude da soberania de Deus e como ele se revela por meio da revelação escrita, por obras de filósofos, historiadores, pela música, pela bossa nova, o jazz, o reggae, as cantigas hebraicas, e pela história dos reformadores.

Minha vida vem sendo impregnada e imersa entre frases de grandes mestres da Torá, e mestres do cristianismo, ouço as vozes destas duas grandes tradições, que por algum motivo se auto repeliram durante a história. Mas quando tiramos do baú destas tradições "coisas velhas" e "coisas novas", quando colocamos o tempero ético hebraico e a ortodoxia cristã, alguma coisa realmente misteriosa acontece. Ouve-se a melodia apocalíptica, a "Canção de Moisés" e a "Canção do Cordeiro".

O primeiro amor? Ah! Ele sempre esteve aqui, sempre se renovou, sempre se renova. O primeiro amor é o amor atual, é minha paixão atual. Esta boa-nova que esmaga os altivos e ressuscita um novo homem, nova criatura. Sim, um novo homem nasceu do "vale dos ossos secos", sobre os oráculos do profeta, ao ruido do rio Quebar na Babilônia. De lá, ressurge um novo homem, um novo jardim a ser cultivado, prestes a compor junto com outras orquídeas, cravos, girassóis, algo mais belo que os jardins suspensos do palácio de Nabucodonosor.

Amparado por tamanha misericórdia, só me resta ações de graça, só me resta amar a justiça até as últimas consequências. Romper as vozes confusas daqueles que lutam e daqueles que sucumbem em meio a batalha! Só posso dar graças por estar de pé! Só posso dar graças por ter o casamento que tenho, por ter minha vida imersa em novidade de vida.

Encontrei na velha sabedoria judaico-cristã respostas para dilemas profundos de minha alma, somente lá, através da voz dos patriarcas, dos profetas, sacerdotes, rabinos, apóstolos, apologetas, pregadores, reformadores e teólogos. Enfim, até hoje escuto os ecos da sã doutrina, das orações e a emblemática imagem do judeu crucificado, que sempre me liga à crucificação branca de Marc Chagall. A cruz poderia ser interpretada como uma espada, poderia evocar imagens inconscientes de terríveis perseguições em nome de uma falso cristianismo e um falso Cristo. Mas, repentinamente, a cruz torna-se em sua barra horizontal uma imagem da história, do tempo, que é interrompido violentamente pelo transcurso vertical da encarnação, do verbo que divide a história em antes e depois dele. A cruz é um escândalo! Não pelo que fizeram com ela, mas pelo que ela fez nos homens que a entenderam.

Místico encontro! Ainda podia-se ouvi-lo dizer em língua semita: Eli! Eli! Lamá? Lamá azav'tani? Meu Deus! Meu Deus! Por quê? Por que me abandonaste?

אלי אלי למה עזבתני

A resposta não é tão óbvia, mas está ao alcance daquele que perguntar...

6 de mai. de 2010 | By: @igorpensar

Tempo & Eternidade [Vídeo]

No último sábado (01/05) ministrei na Congregação Har Tsion em Belo Horizonte o tema "O Deus Eterno que Opera no Tempo". Grande parte desta palestra foi inspirada no livro O Schabat do filósofo judeu Abraham Joshua Heschel, um dos livros de autoria judaica mais lido por cristãos na atualidade.

Para assistir a palestra na íntegra, clique na imagem abaixo!


Bons estudos!