2 de jun. de 2008 | By: @igorpensar

Vamos pensar... sobre a inclusão!

Por Igor Miguel

O conceito inclusão educacional, tão em voga na atualidade, tem implicações muito mais profundas do que se pode imaginar. Normalmente, tal conceito refere-se ao processo de inserção do sujeito com algum tipo de deficiência evidente como síndromes estruturais ou dificuldade de acessibilidade neuromotora-sensitiva, no espaço educacional. Porém, a inclusão fundamenta-se principalmente na chamada declaração mundial dos direitos humanos, que assevera a educação como um direito de todos.

No acesso à educação, aqueles sujeitos com “dificuldades evidentes” eram os primeiros a serem excluídos, por falta de infra-estrutura material e humana.

Ainda que de forma letárgica, a educação no Brasil caminha a passos de tartaruga, mas caminha. Dirige-se no sentido de criar espaços mais adequados e pessoas mais capacitadas para contribuir com a inclusão desses sujeitos com necessidades educacionais especiais.

Porém, há uma exclusão que ocorre no interior dos espaços educacionais, que produz um outro sujeito deslocado ou privado daquilo que é essencialmente educativo. O que dizer daqueles alunos, ditos “normais”, que sofrem uma série de distúrbios psico-afetivos, violentados, traumatizados, excluídos, ou que vivem, em ambientes hostis? O que dizer de professores que rotulam tais sujeitos de incapazes ou justificam o baixo desempenho de aprendizagem baseados em diagnósticos obscuros fundados no senso comum ou em um tipo de ingenuidade pedagógica?

Ora, o problema da exclusão não se resolve a inserção de sujeitos com necessidades educacionais especiais no espaço escolar. Professores, supervisores, orientadores e gestores em geral, podem ser agentes em potencial para excluí-los durante o processo de aprendizagem.

Turmas homogêneas, segregação de alunos com “dificuldades” de aprendizagem, deslocamento de professores ditos “pacientes” ou “bravos” para lidarem alunos indisciplinados, são mecanismos obscuros, parte de um currículo oculto, que sustenta uma exclusão interna.

Não haveria alguma possibilidade de subversão à ditadura dos rótulos ou do discurso da incompetência, da incapacidade? Será que um aluno não pode aprender ou se desenvolver cognitivamente, para além da chamada “deficiência” ou da “dificuldade escolar”?

Segundo Reuven Feuerstein sim, é possível. Este teórico da educação em seus vários anos de investigação com crianças sobreviventes de guerras, com síndromes estruturais ou imigrantes em processo de absorção cultural, afirma que é possível educar para além da deficiência.

Feuerstein escreveu um livro intitulado em inglês por: Don't acept me as I am! (Não me aceite como eu sou), referindo-se ao conformismo de pais e professores ante a deficiência de seus filhos ou alunos, sob o discurso obscuro de adaptação do mundo ao sujeito com “dificuldade”. A idéia é justamente o contrário, é não aceitar a “deficiência”.

O que se vê são estruturas, seja em âmbito familiar como escolar, que produzem nenhuma instabilidade cognitiva, ao contrário, são estruturas conformadas e conformadoras. Conformadas porque se acostumaram com o “deficiente”, e não provocam nenhuma mudança para que o referido aluno saia dessa condição. Conformadoras, porque além de se adaptar à deficiência, ainda contribuem para sua manutenção.

Dinâmicas inclusivas, precisam ser acima de tudo provocadoras, instáveis ou em outras palavras, deve conduzir o “deficiente” à mudança, à sublevação de limites impostos pela estrutura que envolve uma suposta limitação física ou psíquica.

Alunos com necessidades educacionais especiais envolve também aqueles aprendizes com dificuldades de aprendizagem, que sofrem de privação cultural, limitações cognitivas por falta de mediação, ou ainda, que demonstram clara dificuldade de aprendizagem, não porque são portadores de alguma deficiência estrutural, mas porque não foram mediados suficientes.

A ausência de sujeitos decodificadores da realidade, de mediadores humanos que se interponham entre o aluno e o mundo, interventores que expliquem a seus aprendizes como as coisas são, fornecendo-lhes ferramentas psicológicas, instrumentos para a transformação do mundo, tem provocado a exclusão desses sujeitos do processo básico da aprendizagem: o pensar.

Esses são excluídos não porque possuem algum deficiência evidente, mas por causa da baixa intencionalidade de mestres, professores, pais e mediadores naturais.

Os mentores da educação inclusiva poderiam levar em consideração o sentido amplo de inclusão, que implica na intervenção de mediadores culturais provocadores, que se coloquem em posição intermediária entre o universo dos estímulos, das relações sociais e dos conteúdos curriculares, e a vida intrasubjetvia, que envolve o pensamento desse excluídos no interior da dinâmica escolar.

A inclusão inclui ensinar à pensar!

1 comentários:

filoliveira disse...

teólogo,
um simples comentário de um simples professor de história que sou:
as duras e "traumáticas" experiências dentro de uma sala de aula me confirmam a cada instante que a educação aqui neste "solo de mãe gentil" é uma falácia.
inclusão?
de quem?
do que?
quem estamos incluindo?
quem estamos excluindo?
os professores muito mal tem tempo e condições de incluir-se dentro de suas "obrigações e funções pedagógicas"!!!
uma carga horária desumana e obrigatória para poder responder as suas mais baixas necessidades.
a falta de condições referidas são:
espaço físico, onde poderia ser trabalhado as copetências.
uma educação que viesse atender as verdadeiras demandas da comunidade local.
salário dígno.
a capacitação do professor para poder atender e incluir os excluídos.
mudança em toda esta "pirâmide" educacional.
e etc....
enquanto isto não vier acontecer, excluídos por deficiencia, seja física, social,mental ou psicológica, nunca terão a oportunidade de inserção.
o professor é o primeiro a ser incluido fora de todo este processo amigo. o professor!!!
a educação é excluída de todo debate sério que se faz neste país.
debatem economia, violência, políticas alternativas... esporte, transporte e .....
educação.
o cara que na última eleição para presidente veio com uma proposta de colocar a educação como "motor-mater" de seu governo, ganhou 2% de votos...
e aí?
se ele iria cumprir, é outro caso...mas...
o pessoal escolheu o homem das massas,o cara sem diploma,o "cuteiro" (cut), o homem das bolsas (escola, família, cerveja, pastel...igreja)
abraço