22 de dez. de 2008 | By: @igorpensar

Diálogo: o logos em via de mão dupla

Por Igor Miguel

Martin Buber, acima de qualquer rotulação, pode ser qualificado como um 'filósofo existencialista'. Mas, sua filosofia é acima de tudo monoteísta-judaica. Buber é o reflexo de um antigo modus cogitare bíblico, com raízes profundas em uma civilização que derruba os mitos e problematiza a existência de múltiplas forças "espirituais" que "animam" as coisas.

Buber retoma a visão de mundo dos chassidim, o desdobramento último de um religião ordinária e consegue retirar da inteligência dos 'rebes' princípios que tocam as profundezas do que geralmente considera-se superficialidade, trivialidade ou rotina.

Para Buber as coisas não são 'coisas' autônomas, elas são por causa da palavra. Para Buber, a palavra está antes das coisas e o que existe, só existe enquanto e a partir da palavra.

A relação sujeito-objeto é denominada por Buber por "EU-ISSO", uma relação "monológica", pois não se espera uma resposta do ISSO. Por outro lado, há a estrutura EU-TU, enquanto relação dialógica, o logos (palavra) que se emite e que se recebe.

Para Buber, o EU enquanto aquele vai ao encontro do TU, só é EU (existente) quando se relaciona ou se vê no TU. Sem o TU, ou sem o diálogo, não há humano. Por outro lado, qualquer primazia ao ISSO, resultaria em coisificação*, em uma não-humanização e finalmente a não-existência.

"Se o homem não pode viver sem o Isso, não se pode esquecer que aquele que vive só com o Isso não é homem" (BUBER, 2007, p.37).

O Isso precisa ser compreendido, a partir da dialogicidade EU-TU, do diálogo, de uma perspectiva obviamente humana. Porém, esta relação estrutura-se pela "palavra", que ordena, que filtra a realidade, que evoca sentido nas relações inter-subjetivas ou inter-objetais.

O sacramento do diálogo encontra-se em sua etimologia, uma palavra que vai e que volta. Exatamente este 'logos' que sai do emissor, espelha-se, refrata-se e volta ao EU, que cria os vínculos que remetem ao diálogo primevo entre o ser que dirige a palavra e o que a traduz e a devolve como palavra subjetivada, humanizada.

O diálogo não acontece necessariamente pelo "dito", pela locução e pela sonoridade, ela se traduz em palavras que já estão e são decodificadas ou traduzidas por gestos, olhares, abraços, beijos ou intercurso corporal. O diálogo é esse vínculo romântico, sedutor na relação com o outro, essa mensagem que vai, mas volta como um 'querer-ouvir' e 'ser-ouvido', alteridade no sentido mais profundo da palavra.

Em uma realidade em que as pessoas servem às coisas e aos objetos, o diálogo é um interessante referencial para elaboração de ethos para a vida moderna, pois converte o objeto e a técnica em servos do humano e não senhores destes. A burocracia enquanto racionalização, controle das coisas e mecanismo de vigilância do fluxo dos valores objetais, pode ser restruturada a partir de pequenos gestos dialógicos que reconstituam a racionalização, humanizando-a. Conforme Buber (2007):

"Não há fábrica nem escritório tão abandonado pela criação que neles um olhar da criatura não se possa elevar de um lugar de trabalho ao outro, de uma escrivaninha à outra, um olhar sóbrio e fraternal, que garanta a realidade da criação que está acontecendo: quantum santis. E nada está tão a serviço ao diálogo entre Deus e o homem como esta troca de olhares, sem sentimentalidade e romantismo, entre dois homens num lugar estranho".

O grande perigo de um homem que estrutura sua existência pela relação em que o ISSO prevalece sobre o EU, é que esse sujeito tem sua percepção da realidade distorcida. A relação EU-ISSO é sem reciprocidade e resposta, é de natureza monológica. Um sujeito acostumado com o objeto silencioso, relaciona-se com outros homens a partir desse paradigma, tratando-os de forma silenciosa, como sujeitos sem resposta, sentimento ou competência. Esta relação objetal é cruel, pois desaloja a subjetividade do outro, arranca-lhe a "alma", rouba-lhe sua preciosidade humana e singularidade. Resultado? Um homem truculento, bruto e insensível.

Por outro lado, o homem dialógico é provocador, apaixonado, fluido e romântico. Permite-se e abre-se para o outro, deixa-se levar, mas também deixa-se ir, devolve-se ao outro enquanto si. O sujeito dialógico é curioso, quer ouvir e apaixona-se pelo que o outro tem a dizer e a entregar. Ele também espera uma resposta humana, não elogios demagógicos ou de natureza bajuladora, mas a verdade que liberta, voz e palavras de uma natureza familiar. Esse é o o proprietário da palavra que vai, mas volta.

Ainda assim, o homem não vive sem o ISSO. Mas, como lidar com ISSO sem que ele se apodere do humano? Lidando com o ISSO sob uma perspectiva humana. Uma abordagem humana sobre o ISSO, implica em lidar com a realidade de forma generosa e sustentável, implica em uma postura ecologicamente humana. O que não se traduz em termos animistas ou panteístas, como se entidades autônomas estivessem na materialidade ou na natureza, que com certeza não é um ente orgânico - Gaia. Mas, entender que pela palavra tudo foi ordenado a serviço e sustento do humano, mas pela mesma palavra imprimir na objetividade a subjetividade.

O homem tem um nome, que se traduz em termos de subjetividade e identidade, por isso pela palavra pode nomear o ISSO, imprimindo nele sua humanidade, sua generosidade dialógica, pela palavra que vai, mas volta. O logos*** em via de mão dupla!

formatis igitur Dominus Deus de humo cunctis animantibus terrae et universis volatilibus caeli adduxit ea ad Adam ut videret quid vocaret ea omne enim quod vocavit Adam animae viventis ipsum est nomen eius - Gênesis 2:19**.

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REFERÊNCIAS

BUBER, Martin. Do Diálogo e do Dialógico. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2007.

_____________. Eu e Tu. 10 Ed. São Paulo: Ed. Centauro, 2006.

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*Coisificação: O termo não é usado por Buber, apesar do processo "coisificação" estar presente indiretamente em suas idéias. Adaptação do termo "reificação" usado por Karl Marx. Refere-se ao processo de alienação, em que o ser humano enquanto força produtiva, se marginaliza em relação à produção, tornando-se nulo, objeto e coisa, descaracterizando as matizes que o fazem humano.
** Tradução : "Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles".
*** Uso o termo em seu sentido simples em grego λογος (lógos), simplesmente como 'palavra', mas também ligado ao sentido que São João dá ao termo, associado ao hebraico דבר (davár), em que a 'coisa' e a 'palavra' estão semanticamente integrados.


21 de dez. de 2008 | By: @igorpensar

Finalmente Graduado

Finalmente, terminei minha graduação em pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais ontêm (dia 20/12) à noite.  A cerimônia de colação de grau foi incrível, foram momentos realmente de muita alegria.  Agradeço minha esposa, meus pais, minhas irmãs, meus sogros e meu sobrinho, pela torcida e consideração por este rito de passagem.

Abraços!
Igor
19 de dez. de 2008 | By: @igorpensar

Pensamento Complexo e um Mundo Complexo (revisado)

Por Igor Miguel

O que está acontecendo com o mundo?

Esta é um pergunta desafiadora e tem implicações profundas com nossa existência neste mundo, pois apesar de não pedirmos para nascer nele, aqui estamos e o desafio está posto. O que fazer agora, que os fatos são tão rápidos e as coisas tão complexas?

Por complexidade, entende-se a percepção de que as coisas que aí estão e os fenômenos que nos deparamos, não são tão simples como parecem. Uma gota d'água, não é uma coisa fluida, é uma composição complexa. Água para químicos é H2O, mas para os que vivem em países em que ela é escassa é sinônimo de sobrevivência e toda uma complexidade de relações que estão envolvidas no fator água.

Durante muito tempo, as coisas e os fatos eram compreendidos dentro de uma linearidade e de leis estáticas que explicavam tudo. Hoje porém, sabe-se que o elemento humano torna tudo mais profundo e com múltiplas matizes e significados.

Falar de complexidade sem evocar Edgar Morin, judeu sefardita, seria no mínimo uma ingratidão. Este filósofo e acima de tudo epistemólogo, elaborou o conceito de pensamento complexo. Basicamente, pode-se dizer que o pensamento complexo lida com a idéia de totalidade, de uma estrutura de partes que interagem e que só estão aí por causa de sua existência nas relações que a sustentam.

A grande contribuição dessa abordagem é que ao invés de se tentar organizar o que é aparentemente caótico, desorganizado, deve-se pensar o descontínuo, como algo inteligível desde que abordado dentro de uma ótica que permite sua estadia aí, na realidade.

Não poucas vezes, o ser humano lida com pequenos "incidentes" irracionais e a-matemáticos, que esbarram em sua rotina que são denominados por ele de coincidências. O que ele faz quando essas coincidências acontece? O homem elabora uma explicação artificial com ares de probabilidade para justificar o não-explicável. A isso os antigos chamavam de "milagre".

O milagre é complexo e é de uma ordem incrível, tão fascinante que não se enquadra aos modelos clássicos de racionalidade. Mas, é um fenômeno e acontece. Um acontecimento não mensurável, incalculável, mas ainda um acontecimento que conflita nossos paradigmas e nos aterroriza.

Interessante a reação do homem com as coincidências, como que por um lapso mesmo os mais céticos viram religiosos, um tipo de xamã, de místico e procura explicar de forma fantástica - ainda que na discrição de seus silenciosos pensamentos - o inexplicável. Incrível, como que neste momento, o homem remente às funções mais "primitivas" de sua mente para lidar com o caos.

O grande problema é que este pensamento dito "fantasioso" ou "místico" é de uma esfera ainda desconhecida para o homem, que prefere artificialmente ignorá-la, dando-lhe ares de infantilidade, quando na verdade é um mecanismo que ele traz desde de sua infância.

Alguns deram asas a esta "imaginação", ingenuamente e sem medo peregrinaram pelas veradas do espiritual, do misterioso e foram absorvidos pelas transcendência.

Porém outros, ao invés de lidarem com um misticismo absorvente, optaram por uma percepção religiosa com uma racionalidade típica e de natureza própria.

A experiência religiosa da fé monoteísta (em todas suas matizes) desafia o mundo a compreender o aspecto transcendente sem perder contato com a realidade. O monoteísmo toca em uma máxima filosófica paradoxal deliciosa: 'o caos ordenado'. O mundo é caótico, não porque ele está aí seguindo uma trajetória não mensurável, mas porque caminha dentro de uma racionalidade de outra natureza, seu eixo tem uma matemática sui generis, para além do que pode-se dizer ou pensar.

Este mundo complexo, mas inteligível, criou uma nova demanda sócio-cultural e um novo desafio cognitivo. O grande desafio é pensar fé, ciência, educação e filosofia a partir dessa complexidade, deste mundo de "milagres" que escapam aos critérios convencionais. A explicação não estaria nem em um misticismo espiritualista icognoscível e nem em um materialismo objetivista e quantificável.

Interessante pensar que a matemática lida geralmente com o 'ideal', mas o 'real' (natural) é cheio de interrupções, números ímpares e primos, de 7 e não de 10. Sabe-se que há um trabalho pela complexidade e pelo caos, mas até que ponto este ainda não é um serviço viciado, uma tentativa de submeter a profundidade da realidade em um tubo de ensaio?

De certa forma, Jesus estava certo quando disse: "Quem não receber o Reino de Deus como uma criança não entrará nele" (Mc 10:15). O que é o Reino de Deus, se não este mundo de Deus, do supervisor soberano, que colocou o mundo como um enigma e o homem como um grande curioso? Ele deu o segredo, ser como uma criança, resgatar aquele pensamento complexo, aquele desejo de explicar as coisas por sua natureza e evocar a idéia da um senhor soberano.

Pensamento complexo é pensar como uma criança nesse sentido, de se portar curiosamente e naturalmente, sem se preocupar com o que vão dizer, se recorremos a fantasias, explicações religiosas ou milagreiras. Essas coisas estão aí e os que abandonaram a infância, foram engolidos por um racionalismo sintético e artificial que não leva em conta a multiplicidade cores e matizes nesta grande bolha da vida.

11 de dez. de 2008 | By: @igorpensar

O que mudou na ortografia brasileira?

Este é um guia prático sobre o que mudou na língua portuguesa. Confesso que é um alívio saber que trema (ü) acabou, e que se restringe apenas as expressões em língua estrangeira, como o alemão "Müller" e outros. Fiquem atentos aos prefixos e às paroxítonas que não são acentuadas. Outra notícia, acabou o acento diferencial.

Segue abaixo um guia rápido disponível na fonte indicada.

Abraços,
Igor
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Guia Prático da NOVA ORTOGRAFIA

Saiba o que mudou na ortografia brasileira
por Douglas Tufano
(Professor e autor de livros didáticos de língua portuguesa)

O objetivo deste guia é expor ao leitor, de maneira objetiva, as alterações introduzidas na ortografia da língua portuguesa pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, por Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e, posteriormente, por Timor Leste. No Brasil, o Acordo foi aprovado pelo Decreto Legislativo no 54, de 18 de abril de 1995.

Esse Acordo é meramente ortográfico; portanto, restringe-se à língua escrita, não afetando nenhum aspecto da língua falada. Ele não elimina todas as diferenças ortográficas observadas nos países que têm a língua portuguesa como idioma oficial, mas é um passo em direção à pretendida unificação ortográfica desses países.

Como o documento oficial do Acordo não é claro em vários aspectos, elaboramos um roteiro com o que foi possível estabelecer objetivamente sobre as novas regras. Esperamos que este guia sirva de orientação básica para aqueles que desejam resolver rapidamente suas dúvidas sobre as mudanças introduzidas na ortografia brasileira, sem preocupação com questões teóricas.

Mudanças no alfabeto

O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y. O alfabeto completo passa a ser:
A B C D E F G H I J
K L M N O P Q R S
T U V W X Y Z


As letras k, w e y, que na verdade não tinham desaparecido da maioria dos dicionários da nossa língua, são usadas em várias situações. Por exemplo:
a) na escrita de símbolos de unidades de medida: km (quilômetro), kg (quilograma), W (watt);
b) na escrita de palavras e nomes estrangeiros (e seus derivados): show, playboy, playground, windsurf, kung fu, yin, yang, William, kaiser, Kafka, kafkiano.

Trema

Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui.

Como eraComo fica
agüentaraguentar
argüirarguir
bilíngüebilíngue
cinqüentacinquenta
delinqüentedelinquente
eloqüenteeloquente
ensangüentadoensanguentado
eqüestreequestre
freqüentefrequente
lingüetalingueta
lingüiçalinguiça
qüinqüênioquinquênio
sagüisagui
seqüênciasequência
seqüestrosequestro
tranqüilotranquilo


Atenção: o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas. Exemplos: Müller, mülleriano.

Mudanças nas regras de acentuação

1. Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba).

Como eraComo fica
alcalóidealcaloide
alcatéiaalcateia
andróideandroide
apóia(verbo apoiar) apoia
apóio(verbo apoiar) apoio
asteróideasteroide
bóiaboia
celulóideceluloide
clarabóiaclaraboia
colméiacolmeia
CoréiaCoreia
debilóidedebiloide
epopéiaepopeia
estóicoestoico
estréiaestreia
estréio (verbo estrear)estreio
geléiageleia
heróicoheroico
idéiaideia
jibóiajiboia
jóiajoia
odisséiaodisseia
paranóiaparanoia
paranóicoparanoico
platéiaplateia
tramóiatramoia


Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis. Exemplos: papéis, herói, heróis, troféu, troféus.

2. Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo.

Como eraComo fica
baiúcabaiuca
bocaiúvabocaiuva
cauílacauila
feiúrafeiura


Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí.

3. Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem e ôo(s).

Como eraComo fica
abençôoabençoo
crêem (verbo crer)creem
dêem (verbo dar)deem
dôo (verbo doar)doo
enjôoenjoo
lêem (verbo ler)leem
magôo (verbo magoar)magoo
perdôo (verbo perdoar)perdoo
povôo (verbo povoar)povoo
vêem (verbo ver)veem
vôosvoos
zôozoo


4. Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.

Como eraComo fica
Ele pára o carro.Ele para o carro.
Ele foi ao pólo Norte.Ele foi ao polo Norte.
Ele gosta de jogar pólo.Ele gosta de jogar polo.
Esse gato tem pêlos brancos.Esse gato tem pelos brancos.
Comi uma pêra.Comi uma pera.


Atenção:
- Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Pôde é a forma do passado do verbo poder (pretérito perfeito do indicativo), na 3a pessoa do singular. Pode é a forma do presente do indicativo, na 3a pessoa do singular. Exemplo: Ontem, ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode.

- Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é preposição. Exemplo: Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim.

- Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Exemplos:
Ele tem dois carros. / Eles têm dois carros.
Ele vem de Sorocaba. / Eles vêm de Sorocaba.
Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra.
Ele convém aos estudantes. / Eles convêm aos estudantes.
Ele detém o poder. / Eles detêm o poder.
Ele intervém em todas as aulas. / Eles intervêm em todas as aulas.

- É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do acento deixa a frase mais clara. Veja este exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo?

5. Não se usa mais o acento agudo no u tônico das formas (tu) arguis, (ele) argui, (eles) arguem, do presente do indicativo dos verbos arguir e redarguir.
6. Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados em guar, quar e quir, como aguar, averiguar, apaziguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir etc. Esses verbos admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do indicativo, do presente do subjuntivo e também do imperativo. Veja:
a) se forem pronunciadas com a ou i tônicos, essas formas devem ser acentuadas. Exemplos:
verbo enxaguar: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxáguem.
verbo delinquir: delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínquam.
b) se forem pronunciadas com u tônico, essas formas deixam de ser acentuadas. Exemplos (a vogal sublinhada é tônica, isto é, deve ser pronunciada mais fortemente que as outras):
verbo enxaguar: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxaguem.
verbo delinquir: delinquo, delinques, delinque, delinquem; delinqua, delinquas, delinquam.
Atenção: no Brasil, a pronúncia mais corrente é a primeira, aquela com a e i tônicos.

Uso do hífen

Algumas regras do uso do hífen foram alteradas pelo novo Acordo. Mas, como se trata ainda de matéria controvertida em muitos aspectos, para facilitar a compreensão dos leitores, apresentamos um resumo das regras que orientam o uso do hífen com os prefixos mais comuns, assim como as novas orientações estabelecidas pelo Acordo.
As observações a seguir referem-se ao uso do hífen em palavras formadas por prefixos ou por elementos que podem funcionar como prefixos, como: aero, agro, além, ante, anti, aquém, arqui, auto, circum, co, contra, eletro, entre, ex, extra, geo, hidro, hiper, infra, inter, intra, macro, micro, mini, multi, neo, pan, pluri, proto, pós, pré, pró, pseudo, retro, semi, sobre, sub, super, supra, tele, ultra, vice etc.

1. Com prefixos, usa-se sempre o hífen diante de palavra iniciada por h. Exemplos:
anti-higiênico
anti-histórico
co-herdeiro
macro-história
mini-hotel
proto-história
sobre-humano
super-homem
ultra-humano
Exceção: subumano (nesse caso, a palavra humano perde o h).

2. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento. Exemplos:
aeroespacial
agroindustrial
anteontem
antiaéreo
antieducativo
autoaprendizagem
autoescola
autoestrada
autoinstrução
coautor
coedição
extraescolar
infraestrutura
plurianual
semiaberto
semianalfabeto
semiesférico
semiopaco
Exceção: o prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o: coobrigar, coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante etc.

3. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de r ou s. Exemplos:
anteprojeto
antipedagógico
autopeça
autoproteção
coprodução
geopolítica
microcomputador
pseudoprofessor
semicírculo
semideus
seminovo
ultramoderno
Atenção: com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen. Exemplos: vice-rei, vice-almirante etc.

4. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s. Nesse caso, duplicam-se essas letras. Exemplos:
antirrábico
antirracismo
antirreligioso
antirrugas
antissocial
biorritmo
contrarregra
contrassenso
cosseno
infrassom
microssistema
minissaia
multissecular
neorrealismo
neossimbolista
semirreta
ultrarresistente
ultrassom

5. Quando o prefixo termina por vogal, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma vogal. Exemplos:
anti-ibérico
anti-imperialista
anti-inflacionário
anti-inflamatório
auto-observação
contra-almirante
contra-atacar
contra-ataque
micro-ondas
micro-ônibus
semi-internato
semi-interno

6. Quando o prefixo termina por consoante, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma consoante. Exemplos:
hiper-requintado
inter-racial
inter-regional
sub-bibliotecário
super-racista
super-reacionário
super-resistente
super-romântico

Atenção:
- Nos demais casos não se usa o hífen.
Exemplos: hipermercado, intermunicipal, superinteressante, superproteção.
- Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r:
sub-região, sub-raça etc.
- Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano etc.


7. Quando o prefixo termina por consoante, não se usa o hífen se o segundo elemento começar por vogal. Exemplos:
hiperacidez
hiperativo
interescolar
interestadual
interestelar
interestudantil
superamigo
superaquecimento
supereconômico
superexigente
superinteressante
superotimismo

8. Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen. Exemplos:
além-mar
além-túmulo
aquém-mar
ex-aluno
ex-diretor
ex-hospedeiro
ex-prefeito
ex-presidente
pós-graduação
pré-história
pré-vestibular
pró-europeu
recém-casado
recém-nascido
sem-terra

9. Deve-se usar o hífen com os sufixos de origem tupi-guarani: açu, guaçu e mirim.
Exemplos: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu.

10. Deve-se usar o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares. Exemplos: ponte Rio-Niterói, eixo Rio-São Paulo.

11. Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição. Exemplos:
girassol
madressilva
mandachuva
paraquedas
paraquedista
pontapé

12. Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte. Exemplos:
Na cidade, conta-
-se que ele foi viajar.

O diretor recebeu os ex-
-alunos.

Resumo - Emprego do hífen com prefixos

Regra básica
Sempre se usa o hífen diante de h:
anti-higiênico, super-homem.

Outros casos
1. Prefixo terminado em vogal:
- Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
- Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, semicírculo.
- Sem hífen diante de r e s Dobram-se essas letras: antirracismo, antissocial, ultrassom.
- Com hífen diante de mesma vogal:
contra-ataque, micro-ondas.

2. Prefixo terminado em consoante:
- Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-bibliotecário.
- Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, supersônico.
- Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.
Observações
1. Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r sub-região, sub-raça etc. Palavras iniciadas por h perdem essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
2. Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal:
circum-navegação, pan-americano etc.
3 O prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante etc.
4. Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-almirante etc.
5. Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista etc.
6. Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen:
ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar, recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.

Fonte: http://michaelis.uol.com.br/novaortografia.html
9 de dez. de 2008 | By: @igorpensar

Apresentação de Monografia - Convite

Caros amigos,

Este é um convite para a apresentação e defesa da minha monografia de conclusão de curso.  Segue abaixo maiores informações, será um prazer recebê-los.

Título: A Importância da Educação Cognitiva no Processo de Inclusão Escolar
Data: 10/12/2008
Orientador: Profa. Mestre Regina Leal
Local: No auditório da Faculdade de Educação da Universidade de Minas Gerais.
Endereço: Rua Paraíba , 29 Bairro Funcionários - Belo Horizonte/MG (Próximo ao Hospital João XXIII).
Horário: 9:30 hs 

RESUMO DA MONOGRAFIA:

A monografia aborda os paradigmas legais e teóricos que sustentam o conceito de inclusão social e suas implicações educacionais, bem como a possível importância da educação cognitiva para esse processo.  A investigação tem por objetivo geral abordar a importância da educação cognitiva e programas educacionais inerentes a essa perspectiva, que possam facilitar o desenvolvimento de sujeitos com dificuldades educacionais especiais.  Como objetivo específico, concentra-se em uma experiência realizada in loco no Instituto de Educação de Minas Gerais, uma escola pública da rede estadual que se encontra situada na região central de Belo Horizonte, caracterizada pela alta diversidade de seu público.  A referida experiência deu-se em sessões de mediação cognitiva com alunos da referida instituição, que apresentavam evidentes dificuldades de aprendizagem.  A pesquisa foi norteada por teorias do desenvolvimento como a epistemologia genética de Jean Piaget; a abordagem sócio-cultural[1] de Lev S. Vygotsky e principalmente as teorias da modificabilidade cognitiva estrutural e a experiência da aprendizagem mediada desenvolvidas por Reuven Feuerstein, que sintetizou as duas teorias anteriores.

Palavras-chave: Inclusão; aprendizagem; educação cognitiva; mediação; Reuven Feuerstein.



[1] Adotamos a terminologia usada por Alex Kozulin

3 de dez. de 2008 | By: @igorpensar

Hinê MaTôv (Quão Bom!)

Essa é uma sugestão do meu amigo Tiago Murillo, a versão mais incrível que já ouvi em minha vida, do clássico salmo Hinê MaTôv Umanaim Shêvet Achim Gam Yachad (Quão bom e agradável é que os irmãos estejam unídos).  Vale a pena ouvir, mesmo!  E por favor, preste a atenção na voz do solista (como se fosse necessária a observação). ;  )



13 de nov. de 2008 | By: @igorpensar

O que estou ouvindo...

Essa semana estou ouvindo:

Palavrantiga Volume 1 Do meu amigo Marquinho, músico formando-se na UEMG. Simplesmente fantásticas as letras da música, os solos de guitarras, com timbres de teclado, ótimo! Difícil encontrar letras de músicas religiosas (gospel) que tratam as coisas como são. Estou cansado de músicas sensitivas, tácitas e espiritualistas. Preciso de músicas históricas, enraizadas no homem enquanto sujeito que caminha para a redenção. Chega de "quero te sentir", "quero te abraçar", etc.

Shattered de Mataisyahu muito, mas muito bom, quatro músicas incríveis. Rap, Rock, Reggae e música mizrachí (oriental) hebraica. Simplesmente Matisyahu.

Fica aí a dica.

Bull Cloned (Touro Clonado)?

Internet é engraçado, tenho percebido que muito leitores andam lendo meu artigo "Wall Street Bull" e que o texto tem dando alguma repercursão na net.  Só me supreendi com um "textículo" (diminutivo de texto e não do touro)  que se não for uma tentativa de clonagem da produção de minha autoria, é no mínimo um dêjaví impressionante.

Meu artigo foi postado no dia 5 de outubro o do cloner foi no dia 30.  Engraçado...

Façam a comparação: 



Abraços,
Igor Miguel

5 de nov. de 2008 | By: @igorpensar

Obama e os Iranianos

Postei um vídeo há algum tempo, penso que vale a pena assistí-lo novamente após a vitória de Obama, para isso clique aqui.

Segue abaixo um artigo que gostei de tudo que ando lendo por aí:

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Vitória de Obama nos EUA surpreende iranianos

A vitória do candidato democrata Barack Obama nas eleições presidenciais dos Estados Unidos gerou surpresa e incredulidade no Irã.

De acordo com o correspondente da BBC em Teerã Jon Leyne, muitos iranianos aprovam a vitória do homem cujo nome, Obama, significa "ele conosco" em persa. E quase todos queriam o fim do mandato de George W. Bush.

Mas boa parte dos iranianos simplesmente não consegue acreditar que os Estados Unidos votaram em um candidato negro, segundo Leyne.

O correspondente afirma que o resultado deve ter surpreendido o governo em Teerã.

"Os que governam este país aprenderam a viver com a certeza de que os Estados Unidos, o Grande Satã, é o inimigo. De certa forma, eles prosperam com este antagonismo", disse Leyne.

Resta saber como será o comportamento do governo iraniano em relação a um presidente que já afirmou que está aberto a negociações incondicionais com o Irã.

E tudo isso ocorre no momento em que o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad enfrenta a batalha pela reeleição no próximo ano.

Muitos no país acreditam que o próprio Ahmadinejad está tentando uma reconciliação com os Estados Unidos.

Mas existem muitas opiniões conflitantes na elite governante iraniana e o presidente é conhecido por sua diplomacia que é, como afirma o correspondente, um tanto "excêntrica".

2 de nov. de 2008 | By: @igorpensar

KompoZer - Editor de HTML visual para Linux

Finalmente!

Depois de uma longa jornada pela web, esse universo maravilhoso, encontrei um editor visual de HTML, que ajuda muito na substituição do dream. Aqueles que tinham problemas em encontrar um editor visual e talvez apresentavam algum desconforto em uma migração total a uma distribuição Linux (em meu caso Ubuntu), podem fazer uso do KompoZer. Enxuto, prático, visual e naturalmente não é o dream, mas ajuda muito.

Eis o link e façam bom uso: http://kompozer.net/download.php podem baixar!

28 de out. de 2008 | By: @igorpensar

Passageiro hóspede do que passou

Por Igor Miguel

-- Estás de passagem caro companheiro?
-- Sim estou! - Disse o homem que passava.
-- Por que passas?
-- Passo porque a vida é assim, nós passamos.
-- Por que não encontras um repouso? Por que não te instalas diante dessas montanhas?
-- Porque estou de passagem, como já disse! - Respondeu o andarilho com um tom de impaciência.
-- Então, por que passas?
-- Passo, porque tudo é novo. Tudo é passageiro. Tudo se faz e se desfaz.
-- Tudo? Como ousas dizer tal coisa? Olhe essas montanhas, aí estão!
-- Ora, por que me amolas? Devo ir-me!
-- Ir aonde? Se tudo é passageiro, como insistes, para onde vais?
-- Vou para onde eu quiser.
-- Pense! Tu não vais, as coisas é que passam.
-- Como assim? - Perguntou intrigado o peregrino.
-- Sim. Tu estás aí, pensas que andas, mas as coisas é que passam. Tu estás sempre no mesmo lugar, no lugar dos que fogem, no lugar dos que procuram...
-- Tu me irritas!
-- Sim, sei que te irrito. Mas, quero dizer-te que podes, ao invés de peregrinar, parar por aqui e olhar aos que se passam, aos que cruzam o teu caminho.
-- Dizes que fujo?
-- Não! As coisas é que fogem de você, elas te escapam. Quando pensas em parar?
-- Não penso em parar! Mas, admito que nunca pensei no que falas.
-- Sabe por que pensas agora?
-- Não... Me digas!
-- Porque parastes pra pensar e chegaste a conclusão que, o passageiro é hóspede da transitoriedade.
10 de out. de 2008 | By: @igorpensar

Pedagogia eclética. Que trem é esse?

Por Igor Miguel

Há alguns anos, perguntei a uma pedagoga qual o método de alfabetização ou qual pressuposto teórico ela tinha simpatia, ou a partir de qual referencial ela pensava sua práxis pedagógica. Naturalmente, esperava que ela dissesse algo como, sou construtivista ou sócio-interacionista, dialética, materialista-histórica, crítica, libertária, behaviorista, tradicional-conteudista ou algo do gênero; mas não, ela disse: - Sou eclética!


Eclética? Até hoje estou digerindo essa resposta e não tenho coragem de dizer o que penso sobre o que ela disse e por favor, não me force a dizer isso pra ela. Torço para que ela leia este texto acidentalmente - tomara que isso aconteça - mas, não estou disposto a fazer isso, ainda não.

Mas, voltando a resposta da pedagoga eclética. Sinceramente, o que ela desejava dizer com isso?

O termo "eclético" vem do grego εκκλητικος (ekklétikos), o Dicionário Aurélio o define como: "Posição intelectual ou moral caracterizada pela escolha, entre diversas formas de conduta ou opinião, das que parecem melhores, sem observância duma linha rígida de pensamento" (Dicionário Aurélio - Versão Eletrônica). Interessante pois filologicamente falando, o termo grego em sua conotação primeva, é uma junção de de duas expressões gregas.

A primeira delas é "ek" que é uma preposição ablativa, cujo desdobramento latino é o ex*, que pode ser traduzida como "de" (de origem, como from em inglês).

A segunda parte da palavra vem da raiz "klêtós" que pode ser traduzida como "chamar", "convocar", "eleger", etc.

O termo ekletikos tem conotação política, Xenofontes usa a expressão referindo-se a um comitê de cidadãos escolhidos para uma função específica.

Baseado nessas informações poderíamos construir uma definição etimológica de "eclético" ou do que vem a ser "ecletismo".

Em português a idéia de "escolha" está presente no termo eclético, ao menos conforme o Aurélio, há uma conotação eletiva, como alguém que "elege" certas idéias como próprias e assim, evita a rigidez de apenas uma opinião.

Meu receio, é que minha amiga, ao dizer "eclética" não o fez nos termos do Aurélio, temo que ela associou seu "ecletismo" como justificativa para sua ingenuidade teórica, como uma resposta "evasiva" para o esvaziamento epistemológico de sua prática pedagógica.

Receio, que a pedagoga eclética, seja um pedagoga do pragmatismo pedagógico, do ativismo inconsciente e possivelmente uma profissional do senso comum.

Uma pergunta perturbadora seria: É possível ser um pedagogo eclético? Respeitando-se a conotação etimológica da palavra, acredito que sim. Se ser eclético significa se apropriar de algumas abordagens pedagógicas que são contíguas, que dialogam entre si, sim é possível ser eclético. O que não significa que isso seja algo simples, penso que nos termos acima seria quase insustentável o ecletismo. A exigência intelectual de combinar diversas referências teóricas e a partir delas construir uma referência metodológica para ensinar, não é tarefa fácil.

Sinceramente, os novos rumos da pedagogia no Brasil, não são muito animadores. O caminho que as faculdades de educação estão tomando, a partir dos novos paradigmas legais (novas diretrizes curriculares do curso de pedagogia), resulta em uma pedagogia pragmática. Isso significa que a pedagogia perde sua sofisticação e o pedagogo não é um cientista da educação. Deveria sê-lo, mas não é, já deram o último golpe nessa ciência que estava quase morrendo. Nas novas diretrizes do curso de pedagogia, a pesquisa está afixada no último lugar, em uma escala hierarquicamente organizada em docência, gestão e pesquisa, isso não deveria ser assim. Pergunto: quem está pensando pedagogia enquanto ciência?

Mas, os grandes responsáveis por esse fracasso epistemológico, foram os próprios pedagogos, pois ao gabarem-se de seu ecletismo, esvaziaram a pedagogia de sua profundidade teórica, dicotomizando teoria-prática, desmerecendo a tradição científica sobre a educação, debochando de homens como Piaget, Vygotsky, Makarenko, Freire, Dewey e outros. Existem, contradições entre essas abordagens, fazer recortes entre eles, e eleger o que parece interessante, é uma arte que eu pessoalmente não sei fazer, e tenho minhas dúvidas que alguém o consiga de forma competente. Não quero ser generalista, luto contra isso, tenho esperança, e me orgulho de minha profissão, luto para não ser associado com um animador de crianças, luto para mostrar que nossa profissão é algo além, e o faço com alguma leitura, com reflexão e me esforço para articular isso em minha prática pedagógica.

Não é de hoje, que insisto sobre a crise epistemológica da pedagogia, fiz um crítica sobre isso aqui neste blog em outro momento quando ainda estava no segundo período da faculdade. Já sentia essa angústia naquela época.

Me parece que o caminho para superar a crise seria criar uma nova tradição, estimular a pesquisa, fomentar filósofos da educação, provocar o surgimento de cientistas da educação e epistemólogos da pedagogia.

Uma pessoa que diz que é construtivista e sua prática é tradicionalista, ou a que diz que é libertadora e é conteudista, não é nada, é um auxiliar de distribuição de saberes bancários**.

Sinceramente, tenho minhas dificuldades de denominar isso de ecletismo pedagógico. Isso é um pandemônio pedagógico, um mutante hibrido, andrógeno, uma coisa indefinida. Uma contradição à natureza da pedagogia, enquanto ciência que educa deliberadamente, com intencionalidade.

Se neutralidade científica é um mito, ecletismo pedagógico é uma desculpa esfarrapada para a inconsciência profissional. Ecletismo pedagógico é sinônimo de ingenuidade pedagógica.

Tenho esperança, o fatalismo não faz meu estilo, minha formação ético-religiosa me ensinou a crítica, mas também me ensinou a esperança, o sonho e a possibilidade de mudança. Acredito que nossas ações tem efeitos redentores. Baseado nessa ética, podemos mudar a situação, a coruja*** pode voar mais alto e sair da caverna da obscuridade. Há certa conotação revolucionária nessa fala, um "q" de revolução cultural. O desafio seria um retorno aos clássicos, ler bons teóricos, fazer boas leituras, não esses livros de fórmulas educacionais prontas, de discursos milagrosos, mas boas referências.

Insisto, que a pedagogia é ciência da educação, essa é minha utopia, e sonho com grandes debates epistemológicos, com mais congressos, simpósios e pesquisas que tenham isso como tema.

___________
* Um bom exemplo do uso da preposição "ex" (latim) é a expressão ex-nihilo que pode ser traduzido como "do nada".
** Bancário, no sentido que Paulo Freire dá ao termo, quando se refere à eduacão conteudista.
*** A coruja é símbolo da pedagogia.
5 de out. de 2008 | By: @igorpensar

The Wall Street Bull

Por Igor Miguel

O Charging Bull ou Wall Street Bull, uma escultura em bronze de um touro feito pelo artista italiano naturalizado americano Arturo Di Modica, repousa em suas mais de 3 toneladas no Bowling Green Park próximo a Wall Street em New York. O Bowling Green Bull, como também é conhecido, tornou-se um símbolo da vigorosidade e robustez da economia americana ante as instabilidades do mercado internacional. O touro reprodutor, viril e musculoso, inspira confiança em um mercado livre, agressivo, otimista e próspero.

O Touro de Bronze remete inevitavelmente ao Bezerro de Ouro, esculpido pelos israelitas recém saídos do Egito, no deserto do Sinai diante da outorga da lei divina, a Torá. O que vemos é um povo que testemunhou os milagres da liberdade, dos valores éticos de um Deus pessoal, de uma relação real entre o Eu-Tu Eterno¹. Este mesmo povo ao se deparar com a ausência de seu libertador e profeta, Moisés, angustia-se procurando em um culto menos elaborado, concreto, respostas para seus dilemas existenciais. Com os despojos retirados dos egípcios, colares, brincos e símbolos em ouro, fundem e esculpem ante os olhos complacentes do sacerdócio araônico, um ídolo, que quase remete ao Touro de Wall Street, salvo por sua matéria prima.

Lembro-me de uma frase de meu professor Daniel Juster, quando disse que "Há um êxodo para todos os povos". Sem dúvida a experiência de emancipação dos judeus do Egito, é protótipo das aspirações de todos os povos que procuram identidade nacional e liberdade.

A história americana rememora o êxodo quando pensamos na travessia de seus colonizadores, a ruptura com a metrópole inglesa, os fundamentos éticos judaico-cristãos e como os EUA tornaram-se o símbolo de uma terra que agrega a diversidade e a liberdade, dos negros, dos judeus vindos de terras brasileiras e outras minorias, que experimentaram seu êxodo.

O grande problema é que a visão de mundo judaico-cristã, era um desafio intelectual muito grande, ante a acessibilidade aos recursos, ao dinheiro e a concretude dos despojos trazidos com a liberdade. Seus profetas se ausentaram, seus sacerdotes assistiram silenciosamente ou deixavam-se levar pela cultura de massa. Como Arão, tele-evangelistas, padres e rabinos, calaram-se, e o Bezerro de Bronze foi trazido sem permissão ao Bowlling Green Park², todos o veneravam, todos ofereceram oferendas a sua virilidade e imponência. Mamon, o antigo deus da riqueza, é agora reverenciado e personalizado através de um mercado tão autônomo, que de fato é uma coisa, uma entidade. Este deus tem sacerdotes e doutrina, sua regra de fé e prática é o laissez-faire. Os místicos judeus arrumaram uma "cabala do dinheiro" e os pastores evangélicos brasileiros vão aos EUA estudar nas escolas dos paladinos do evangelho da prosperidade.

A primeira preocupação dos dirigentes políticos e dos economistas com a queda das torres gêmeas não foi com as pessoas, mas com os consumidores, os adoradores da "besta que subiu do mar" (Apocalipse 13), o mercado.

Os americanos abandonaram o monoteísmo e tornaram-se idólatras, curvaram-se diante da soberania do dinheiro, do mercado e da riqueza, abriram mão da fé relacional e humana, por uma relação Eu-Isto (Buber), objetal, reducionista e desumana.

Muitas coisas podem ser ditas a respeito da crise econômica americana, muitos fatores estão envolvidos, uma resposta seria ingênua, mas não tenho dúvida, que de alguma forma, pode-se dizer que o problema da economia norte americana é a hipocrisia. A hipocrisia de ter impresso em suas cédulas In God We Trust, quando na prática o que se pensa é In Markets We Trust³.

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¹ Relação dialógica que determina a humanidade e a consciência ontológica dos homens, segundo o filósofo Martin Buber.
² Arturo Di Modica trouxe o Charging Bull sem permissão e licença ao Bowlling Green Park.
³ Devo essa reflexão ao artigo In Markets We Trust de Peter Laarman.
26 de set. de 2008 | By: @igorpensar

Máxima de Heschel sobre Auschwitz

Uma frase de perder o sono, máxima do incrível rabino, filósofo e teólogo: Abraham Joshua Heschel:

A questão que deve ser levantada sobre Auschwitz não é 'onde estava Deus?' mas, 'onde estava o homem?'

23 de set. de 2008 | By: @igorpensar

Beyond the Dualism (Além do Dualismo) - Paulo Freire

Paulo Freire em seu discurso filosófico, era quase um teólogo, que pensava como Martin Buber, na superação do dualismo imanência e trasnscendência.

Paulo Freire under his philosophic speech was almost a theologian.  He thought like Martin Buber at overcoming of dualism between immanence and transcendence.



16 de set. de 2008 | By: @igorpensar

VI Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire - AO VIVO (NET)

Caro educador,

O VI Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire está sendo transmitido gratuitamente pela Internet. 

O Fórum começou hoje (dia 16), informe-se em Participe a Distância .  Estarei participando do Círculo de Cultura - Cidadania Planetária no dia 19 (sexta-feira).

Abraços,
Igor Miguel
11 de set. de 2008 | By: @igorpensar

Um Toque de Clássico

Vejam esse maestro, e que música!  Impressionante como a relação dele com a música é sinestésica, a música se manifesta em 3D, ele a toca.  Por favor não chorem, para mim é emocionante ver essa cena!

Nada melhor do que Strauss: Till Eulenspiegels bem interpretado por Carlo Tenan para começar o dia.



7 de set. de 2008 | By: @igorpensar

Liberdade de Impressa no Governo Aécio Neves em Minas Gerais

As eleições estã chegando. Por favor, investiguem seus possíveis candidatos da forma mais direta possível, recorram a fontes além das oficiais. Os veículos de imprensa em Minas Gerais não são donos da verdade. Neutralidade e imparcialidade de informação são mitos. Em um pais dito democrático, o mínimo direito que temos é de tirarmos nossas próprias conclusões e não reproduzirmos acriticamente o que a mídia disponibiliza como informação.

Antes de votarem em quaisquer coligações, com o discurso de continuísmo, vejam os vídeos abaixo:

Vídeo produzido no Reino Unido discute a censura em Minas Gerais



Eu fiz um estágio pedagógico na Pedreira Padre Lopes e vi com meus olhos a "crackolândia" instalada no local. Qualquer um que for lá hoje, verá o "movimento" no local. A mídia mineira não faz qualquer denúncia, isso não vai para a impressa, por motivos óbvios.

Os vídeos abaixo são para pensar, e podem ser uma possível resposta para os motivos porque os diversos problemas sociais existentes em Belo Horizonte e Minas Gerais não são veiculados.

PARTE - I



PARTE - II




[Saiba Mais]
1 de set. de 2008 | By: @igorpensar

Gestão Humanizadora em Pedagogia do Oprimido

Há alguns meses disponibilizei um post neste blog sobre minha pretenção de publicar um artigo que já estava pronto. Não achei nenhuma revista ou publicação cujo eixo temático fosse compatível com a proposta do artigo.

Pois bem, finalmente o artigo cujo título é gestão humanizadora em pedagogia do oprimido, foi submetido à comissão acadêmica do VI Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire que ocorrerá este mês na PUC-SP e foi oficialmente aprovado hoje.

Fiquei muito feliz com a notícia e muito honrado, pois dos 6 encontros quem já ocorreram, esse é o segundo que ocorre em território brasileiro. O que demonstra a envergadura e a importância de um fórum como esse no cenário educacional internacional.

No link abaixo é possível ter acesso a um resumo do artigo:

http://www.paulofreire.org/FPF2008/WebTrabalhoResumo?origem=TrabalhoIgorMiguel&inscr=IgorMiguel

Em breve o referido artigo estará sendo disponibilizado na íntegra no site do VI Encontro Internacional, disponibilizarei o link em breve.

Abraços,
Igor Miguel
27 de ago. de 2008 | By: @igorpensar

Entenda o Conflito Rússia x Geórgia - II

Novamente os oráculos de Jeffrey Nyquist

Sua reflexão parte de um pressuposto lógico, a Rússia está jogando, e a Europa está dançando ao som do balé. A OTAN está dividida pelo interesse no gás russo, afinal o segundo maior óleoduto do mundo (que está na Geórgia) está em risco, e litros de óleo bruto estão fazendo no mar negro.

As previsões de Jefrey e outros especialistas, o mundo caminha para a descentralização do ocidente, como detentor da hegemonia política internacional.

Bom para pensar...

Igor Miguel
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A Rússia joga e o Ocidente sai dividido
por Jeffrey Nyquist em 27 de agosto de 2008

Fonte: http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=6837&language=pt

© 2008 MidiaSemMascara.org

Quando uma civilização começa a perder os laços de coesão, a primeira ação é sempre interna. Essa ação é oculta, espiritual e não é observada pelo público. O filósofo brasileiro Olavo de Carvalho recentemente apontou para o fato de que a Civilização Ocidental produziu mais pessoas “educadas” do que temos posições para elas. Na verdade, nós as educamos além de sua inteligência, dando-lhes ferramentas avançadas demais para o seu caráter, colocando fora do alcance delas uma vida simples, de trabalho maçante, mas satisfeita. Em outras palavras, produzimos uma horda de inteligências impotentes, furiosa porque sua educação principesca não pode render-lhes nem somas principescas, nem um reino.

Quando uma civilização já está bem adiantada no caminho do auto-esfacelamento, os bárbaros pressentem a crescente fraqueza do Império. Eles se reúnem nas fronteiras. Eles forçam, ameaçam e se inquietam. No início da semana [passada] o presidente da Rússia, tendo invadido e saqueado um pequeno país, advertiu que a Rússia esmagaria qualquer um que se pusesse em seu caminho. A linguagem ameaçadora foi usada com respeito à Polônia e Ucrânia. Em resposta a isto, a OTAN se dividiu. Alguns estados membros não tinham o desejo de considerar a Rússia culpada pela invasão, pois a Rússia lhes fornece gás natural e petróleo.

É engraçado como as coisas terminam. O preço do petróleo deverá subir novamente. Há um oleoduto avariado, vazando no Mar do Norte e o segundo maior oleoduto do mundo, foi danificado na Geórgia. É engraçado também, e muitos vão achar que é uma coincidência, mas um patriota ucraniano recentemente me explicou que os preços da energia caíram ao fundo logo antes da explosão do reator nuclear em Chernobyl, em abril de 1986, liberando uma nuvem radioativa que se espalhou pela Europa. As pessoas que passaram por essa experiência não têm muita vontade de construir usinas nucleares. Que melhor propaganda poderia haver para o gás natural russo? E agora a Europa depende do gás russo.

O Ocidente está ideologicamente dividido. Entre nós, há demasiadas pessoas que acreditam nas mentiras russas. Acreditamos, no nosso jeito simplista de pensar, que a minúscula Geórgia provocou a poderosa Rússia. Nem nos preocupamos em descobrir o que realmente aconteceu. Aqui vão apenas algumas indicações de que Moscou planejou tudo muito antecipadamente: (1) no mês passado, o exército russo fez exercícios de simulação de invasão a um pequeno país; (2) a Rússia chamou de volta a Moscou os seus embaixadores para uma reunião em 15 de julho, a fim de discutir um novo conceito de política externa ligado à necessidade de “defender” os povos de língua russa em países não especificados; (3) os representantes de Moscou na Ossétia do Sul evacuaram mulheres e crianças de etnia russa antes de iniciar intenso bombardeio a vilarejos georgianos; (4) a artilharia da Ossétia do Sul abriu fogo às onze da noite (23h:00min), enquanto a artilharia georgiana só reagiu após o meio-dia (12h:30min); (5) colunas mecanizadas russas já estavam se movendo para dentro da Geórgia antes do avanço georgiano na Ossétia do Sul, em 8 de agosto; (6) os russos estavam mobilizando navios de guerra no Mar Negro antes da suposta “agressão georgiana”; (7) sites georgianos na Internet estiveram sob intenso ataque russo antes do início das operações militares.

Quanto a este último ponto, o New York Times publicou um artigo de John Markoff, intitulado Before the Gunfire, Cyberattacks [Antes do Bombardeio, Ataques Cibernéticos]. De acordo com Markoff, “semanas antes das bombas caírem sobre a Geórgia, alguém estava atacando os servidores da web georgianos”. De especial interesse é o detalhe: “uma torrente de dados direcionados contra os sites do governo da Geórgia continha a mensagem: ‘win+love+in+Russia’ [vitória+amor+na+Rússia]”. Ataques posteriores colocavam a imagem de Hitler próxima ao presidente georgiano Saakashvili no site do parlamento georgiano. Os ataques russos aos sites georgianos começaram “já em 20 de julho, com a barragem coordenada de milhões de acessos... que sobrecarregaram e efetivamente fecharam os servidores de Internet georgianos”.

Você continua achando que foi a Geórgia que começou a guerra?

Tão incrível quanto possa parecer, os especialistas russos em desinformação querem que você acredite que Dick Cheney [vice-presidente dos EUA] provocou a guerra. Em 14 de agosto, a TV russa serviu uma dose venenosa do Dr. Sergei Markov, um importante cientista político do Kremlin. De acordo com Markov, Dick Cheney quer ajudar John McCain a vencer a eleição em novembro. Para este fim, Cheney estaria tentando começar uma nova Guerra Fria com a Rússia. Com uma atmosfera de Guerra Fria, McCain derrotaria Obama nas urnas. Markov ainda afirmou que os Estados Unidos estariam engendrando um conflito armado entre a Ucrânia e a Rússia.

Enquanto os russos queimam e pilham cidades e vilarejos da Geórgia, estrangulando a sua economia até o ponto do colapso, o mundo livre estremece. Tal como observou amargamente um analista americano, “Os europeus deixaram transparecer sua capitulação total à Rússia, e os russos sabem disso. O Kremlin examinou a alma da Europa e descobriu – que não há alma nenhuma”.

De acordo com o New York Times, a Casa Branca subitamente descobriu que a liderança russa é “enganadora e evasiva”. Onde é que essa gente estava nas últimas nove décadas? Quando foi que o Kremlin deixou de ser outra coisa que não “enganador e evasivo”? Mas nada é mais exasperante do que os comentários recentes do Secretário de Defesa Robert Gates, de que “não estava prevendo um retorno à Guerra Fria”. Mas a Guerra Fria nunca acabou, Sr. Gates! O lado russo meramente repetiu o experimento soviético da NEP [Nova Política Econômica] de Lenin. Aquilo que Moscou fez nos anos 1920 foi realizado em escala maior nos anos 1990. Será que esses sovietólogos americanos têm algum senso comum, de qualquer espécie, ou os requisitos econômicos de nossa cultura comercial sobrepujaram de tal forma o senso comum estratégico, que reconhecer o próprio inimigo já se tornou algo impossível para eles?

Ainda conforme o Secretário Robert Gates: “Minha opinião é de que os russos estão... interessados em reafirmar o status de grande potência ou de superpotência da Rússia... nas suas tradicionais esferas de influência”. Uma correção é necessária neste ponto. Os russos estão interessados na destruição dos Estados Unidos.

É hora de entender com o que estamos lidando.

© 2008 Jeffrey R. Nyquist

Publicado por Financialsense.com

Tradução: MSM


19 de ago. de 2008 | By: @igorpensar

Uma Religião Para a Rotina

Por Igor Miguel

Renunciei, desde então, àquele fenômeno "religioso" que não passa de uma exceção, de um realce, de um destaque, de um êxtase; ou ele renunciou a mim. Eu nada mais possuo a não ser o cotidiano do qual nunca sou afastado. O mistério não se revela mais; desapareceu ou então instalou sua moradia aqui, onde tudo se passa da forma como se passa. Não conheço mais outra plenitude a não ser a plenitude da exigência e da responsabilidade de cada hora mortal [...] Não saberia dizer muito mais. Se isto for religião, então é simplesmente tudo, o tudo singelo, vivido, na sua possibilidade de diálogo. Há também aqui espaço para as mais altas formas de religião. Como quando tu rezas e com isto não te afastas desta tua vida, mas, pelo contrário, é justamente na prece que o teu pensamento se refere a ela, nem que seja apenas par entregá-la; assim também no inaudito e no surpreendente, quando, de cima, és chamado, és requisitado, eleito, investido de poderes, enviado; é a ti, com este teu pedaço de vida mortal, que isto diz respeito, este instante não está disto excluído, ele se apóia naquilo que se foi e acena ao que ainda resta por viver; tu não és engolido por uma plenitude sem compromisso, tu és reivindicado para o vínculo de uma comunhão (Martin Buber [foto ao lado], 2007).

A transição existencial encarada por Buber nesse texto me impressiona. Sua coragem, sua posição diante do hermético mundo religioso, e como faz uma releitura de sua fé, estendendo-a à vida. Nesse ponto Buber decide, que uma religião que não alcança a rotina, o dia-dia, a trivialidade, deve ser renunciada. O êxtase, a sobrenaturalidade, a transcendência e a tendência do homem viver uma experiência religiosa deslocada da vida, não religa. Religare real, cria vínculos, pactos, relacionamentos verticais e também horizontais.

Uma religião que não conecta o homem a uma vida dialógica, que não toca no outro, ou não escuta o outro, não é religião. O isolamento, o individualismo e a sectarização é tão desumana como o coletivismo, a massificação e a uniformidade dos indivíduos (devo essa reflexão ao amigo Guilherme de Carvalho). Na religião comunitária, há um chamado, uma reivindicação à comunhão, aos vínculos e à troca.

A idéia é resgatar uma liturgia para a existência, uma halachá (hb. modo de andar) que transforme a rotina em serviço de veneração, que restitua o homem e imprima na trivialidade sua imagem, a imagem de Deus. O desafio é esse, foi essa mesma angústia que levou Buber à vida, resgatando-o do mistério e do isolamento espiritual.

"... e as ensinarás diligentemente a teus filhos, e falarás a respeito das mesmas, quando estiveres deitado em tua casa, quando estiveres andando pelo teu caminho, quando te deitares, e quando te levantares, e as atarás como sinal nas tuas mãos, e serão por frontais entre os teus olhos, e as escreverás nos umbrais da tua casa e nas tuas portas..." (A Torá - Deuteronômio 6).

Sim o 'mistério instalou-se aqui' onde moro, ando, vivo e trabalho. Nesse novo templo da vida, Ele toca em tudo, em todas as coisas e participa ativamente da existência humana.

Assim, as coisas não passam desapercebidas, pois sua orientação está diante dos meus olhos, nos umbrais dos prédios públicos, em meu sono e ao som de meu despertador, ele está posto na mesa e em meu café-da-manhã.

Assim, as coisas se religam e se reconciliam. Mistério da reconciliação!

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Referência Bibliográfica

BUBER, Martin. Do Diálogo e do Dialógico. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2007.
14 de ago. de 2008 | By: @igorpensar

Intérpretes do Mundo

Por Igor Miguel

Existem ao menos duas posturas do homem diante do mundo: a ingênua e a hermenêutica. Porém, antes de definir os sujeitos envolvidos nessas duas posições existenciais, vale a pena definir a que "mundo" me refiro.

A palavra mundo acabou por se tornar um termo genérico, do tipo 1001 utilidades. Era de se esperar, que uma palavra com tanto peso, tão universal, tão abrangente, alargaria seu sentido para outras esferas.

Mundo
tem conotações muito específicas de acordo com o jargão que é utilizado. Se tal expressão é usada por geógrafos, astrônomos, filósofos, cientístas sociais, teólogos, psicólogos, matemáticos, biólogos, físicos ou químicos, ela vai se transmutar de acordo com a demanda e a estrutura semântica envolvida em cada uma dessas explicações.

Porém, mundo nesse texto, assume um sentido um tanto multidisciplinar, algo a-paradigmático, talvez. Pensa-se em mundo como a realidade chamada objetiva. O mundo da rotina, do trabalho, das relações sociais, da liturgia, dos ruídos, do diálogo e do monólogo.

Esse mundo de imagens, de cenas, de um enredo caótico, aparentemente desorganizado, alienante. Hora verde, hora cinza, hora negro, hora branco e hora azul. Mundo de luzes e de trevas, de tantos gestos, um palco.

O ingênuo é aquele que passa por isso tudo, sonolento, adormecido, entorpecido e desatento. Amarra-se à rotina, responde a seus empurrões como um gado açoitado por aguilhões. Move-se, mexe-se, desloca-se, alimenta-se e permanece ali, em silêncio, inconsciente.

O mundo para o ingênuo, não é mundo, é um vácuo amorfo, um quadro branco, sem cores, sem vida, apenas aquilo que passa tão rápido que não dá pra ver.

O hermenêuta é um outro sujeito. Homem que lê o mundo (Paulo Freire), que lê a vida, que vê as cores do arco-íris na folha branca. Ele sabe que o óbvio não é tão óbvio assim. O hermenêuta é o intéprete, aquele que decodifica, que ouve as vozes da vida, que procura sentido nos gestos mais banais, que entende o aceno das folhas, discute as frases da vida, recorta sentenças no vento e procura evidências de sua existência.

O hermenêuta aprendeu decriptografia, a arte de quebrar a senha, de burlar a esfera sólida através de suas fissuras. Imagens não são imagens, são recados muito bem dados, e ele sabe ler. O hermenêuta não ouve simplesmente, ele compreende e apreende as entrelinhas, as frases óbvias, resgata da angústia respostas, nem sempre reconfortantes, quase sempre angustiantes. Mas, as lê, sem medo. O único medo que tem é da surdez e da cegueira. O único medo que tem é da ingenuidade, de se vê apático diante de um mundo que precisa ser compreendido, julgado, criticado e pensado.

O ingênuo diz: - Por que ler, se posso ver tudo?
O hermenêuta responde: - Como podes ver, se nem tudo está escrito?
12 de ago. de 2008 | By: @igorpensar

Entenda o conflito Rússia x Geórgia

Bem, muitos chegam a mim e pedem uma explicação sobre o conflito entre Rússia e Geórgia, segue um artigo sobre o assunto, que realmente vale a pena ler. Tudo que Jeffrey Nyguist escreve tem um tom apocalíptico, o que me fascina. Mas, não é aquela escatologia mítica, é racionalizada.

De qualquer forma, gostei do artigo, ele me fez pensar...
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A Rússia invade a Geórgia
por Jeffrey Nyquist em 11 de agosto de 2008

Fonte: http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=6799&language=pt

© 2008 MidiaSemMascara.org

No momento em que estas palavras estão sendo escritas, tropas mecanizadas russas deslocam-se contra a República da Geórgia. As lideranças georgianas foram tomadas de surpresa. Elas não imaginavam que os russos iriam tão longe. Portanto, há perguntas a serem feitas: por que a Rússia está invadindo a Geórgia agora? Qual o resultado de uma guerra entre Geórgia e Rússia?

Alguns observadores declararam que a Rússia não se atreveria a invadir a Geórgia. Tal invasão os deixaria atolados numa infindável luta contra guerrilheiros georgianos. Mas, do ponto de vista do Kremlin, este resultado não seria necessariamente mau. Primeiramente, a supressão de forças desorganizadas é sempre possível se o invasor for persistente e determinado. Na Chechênia, a determinação do Kremlin permaneceu inabalável e brutal durante quase nove anos. Ninguém acha que a Rússia perdeu a guerra na Chechênia.

Durante a II Guerra Mundial, um dos generais de Hitler se queixava dos guerrilheiros russos. Hitler corrigiu o general. Combater guerrilheiros era um sinal de vitória, explicou. Significava que as principais forças do inimigo estavam derrotadas. Significava que as perdas da Alemanha seriam comparativamente menores. Apenas aqueles que não podem manter posições em ações de guerra regular escondem-se em cavernas e ocultos sob vegetação rasteira, atiram em comboios. Em termos totalitários, a ação russa é inteiramente racional.

Uma coisa é certa: a invasão russa, se continuar, marcará uma virada. Por que os russos estão agindo de maneira tão ousada? É possível especular que a ação russa tem a ver com o preço do petróleo, considerando que o segundo mais longo oleoduto do mundo passa através da Geórgia. E este ponto deve ser considerado. Mas mais do que tudo, a invasão causa impacto nas relações entre Estados Unidos e Rússia, e de forma decisiva: ela muda a atmosfera política na Europa e no Extremo Oriente, em Washington, Londres e Tóquio. Os estrategistas do Kremlin já sabem que a economia mundial caminha para um período de problemas. Isto significa crescente fraqueza política nos países democráticos.

Os Estados Unidos já estão enfraquecidos em muitas frentes. Em termos estratégicos, este pode ser o momento perfeito para que a Rússia rompa com os Estados Unidos. Pode ser que nunca haja outro momento melhor para retratar os EUA como se estes fossem um agressor imperialista. Os formuladores da política externa americana há muito consideram que a Rússia é um país amistoso. Eles supõem que discordâncias podem ser resolvidas e que a paz prevalecerá. Não houve qualquer preparação verdadeira para uma renovada Guerra Fria. Os políticos ocidentais apresentam as seguintes perguntas: por que os russos atirariam no próprio pé? Por que prejudicariam suas próprias oportunidades econômicas? Mas estas perguntas interpretam mal a situação real.

Os russos percebem as fraquezas dos Estados Unidos: primeira e principalmente, a falta de vontade e determinação dos americanos em bombardear o Irã. Depois, os americanos irritaram os sauditas ao montar uma democracia xiita no Iraque. Os americanos enfureceram os turcos quando apoiaram os curdos no Iraque. Os americanos enfraqueceram a OTAN ao nela permitirem o ingresso de demasiados países influenciados pela FSB/KGB. As lideranças russas provavelmente sentem que é chegada a hora de virar tudo. É chegada a hora de revelar as fraquezas americanas. O que fará o presidente Bush? Quando você estiver lendo estas palavras, a Casa Branca provavelmente terá emitido uma declaração condenando a invasão russa. Mas tropas americanas serão enviadas à Geórgia?

Quanto às justificativas morais que estão sendo armadas pelo Kremlin, são necessárias algumas palavras. A alegação de Moscou quanto a uma limpeza étnica levada a cabo pelos georgianos em Ossétia é tão cínica quanto é hipócrita. Só é preciso dar uma olhada no que aconteceu na Chechênia. As atrocidades russas naquela parte do mundo são notórias. A questão real é que as lideranças georgianas se desfizeram dos grilhões que as atavam à Moscou e alinharam-se aos Estados Unidos. Ainda que não haja nenhuma aliança formal entre os Estados Unidos e a Geórgia, os dois países aproximaram-se. Há assessores militares americanos na Geórgia. A fronteira da OTAN está localizada logo ao sul [ver mapa: a Turquia é membro da OTAN]. O ataque russo a Geórgia pode ser uma forma de testar a OTAN. Pode, de fato, levar ao desmembramento da OTAN.

Os Estados Unidos mandariam tropas à Geórgia?

Prevendo os eventos, os russos há muito vinham acusando os americanos de tentar empurrar a Rússia para fora do Cáucaso. Propagandistas russos disseram que os ocidentais estão ávidos pelo petróleo da região (i.e., os campos petrolíferos de Baku). Chegaram a alegar que foram os Estados Unidos que fomentaram a guerra na Chechênia, buscando destruir a própria Rússia. Isto é ridículo, é claro, mas o nacionalismo russo se agita com alegações desse tipo.

Percebendo a proximidade do Azerbaijão ao Irã, deve-se especular sobre o fato de que uma guerra entre Irã e Estados Unidos estava fermentando já por três anos. Ao invadir a Geórgia, os russos estão assegurando ao Irã sua disposição de confrontar os Estados Unidos. Invadindo a Geórgia, os russos estão exacerbando a crise global de energia ao fortalecer todas as forças antiamericanas no Oriente Médio.

E o preço do petróleo não tem a ver apenas com o petróleo. Tem a ver com comida, com o dólar americano e a política de projeção de poder. Os ocidentais, porém, ficam sempre “mistificados” quando os russos parecem agir de forma contrária a seus próprios interesses econômicos (como se interesses econômicos fossem os únicos interesses existentes). É verdade que a Rússia se beneficiou dos altos preços da energia. Mas muito significativamente, a Rússia se beneficiaria ainda mais quando de um colapso do dólar americano.

Em toda equação estratégica as perdas são relativas. Se você está um pouco machucado e seu inimigo aleijado, você obteve uma grande vitória. Afinal, guerra é uma questão de aceitar danos assim como de causar danos. E uma guerra entre os EUA e Rússia tem sido o jogo esse tempo todo. Somente o lado americano tem consistentemente se recusado a reconhecer esse fato. Em Washington, auto iludiram-se quanto às intenções estratégicas de longo prazo da Rússia. E mesmo agora, continuarão a iludir-se. Autoridades no assunto irão se desconcertar e quebrar a cabeça para entender a invasão russa a Geórgia. E talvez os russos venham a recuar, já tendo obtido alguma concessão significativa de Washington. Nestas primeiras horas, é difícil prever.

Se prestarmos atenção à retórica russa e às ações russas ao longo dos últimos nove anos, descobriremos um padrão. Nos meses recentes, os russos vinham agindo como se desejassem provocar um rompimento com os americanos. Eles querem colocar-se aberta e honestamente do outro lado da cerca. Se houver um conflito global em qualquer lugar do mundo, o governo russo quer tomar o lado do inimigo dos Estados Unidos. Na Venezuela, na África, no Oriente Médio, no Extremo Oriente, os russos querem renovar a confrontação entre o Leste e o Ocidente.

E desta vez eles pretendem levar a melhor.



Nota da Editoria:

Lutas separatistas na Ossétia do Sul e na Abkhazia dividem a Geórgia. A Rússia apoiou a ambos os movimentos para proteger seus interesses na área.

Cronologia:

1991: a União Soviética se dissolve e a Geórgia conquista a independência. A violência irrompe quando a Ossétia do Sul tenta se separar da Geórgia.

Julho de 1992: O presidente russo Bóris Yeltsin media um cessar-fogo, mas manda uma “força de paz” russa para a Ossétia do Sul.

1994: Um cessar-fogo imposto pelos russos dá um fim ao conflito na Abkhazia. Tropas russas são lá acantonadas permanentemente.

Agosto de 1995: O presidente georgiano Edward Shevardnadze escapa por pouco de uma tentativa de assassinato presumivelmente planejada pelo governo russo. Ele sobrevive a outro atentado em fevereiro de 1998.

Setembro de 2006: Milícias da Ossétia do sul disparam contra um helicóptero que tinha á bordo o ministro da defesa da Geórgia e que voava sobre a zona de conflito georgio-ossetiana.

Fonte: GlobalSecurity.org

© 2008 Jeffrey R. Nyquist